Ainda há muito desconhecimento e indiferença pelos riscos e ameaças constantes à segurança online, mas um internauta mais atento poderá sentir-se subjugado por todas as notícias, estatísticas, tendências e mensagens que mostram que não está seguro online, e que provavelmente nunca estará.

Não passa um dia que não sejam conhecidos novos ataques, vulnerabilidades e roubo de dados e os números são avassaladores, sempre na ordem dos milhões de dados comprometidos, divulgados ou vendidos a quem paga mais. São endereços de email, passwords, mas também números de cartões de crédito e outras informações bancárias. Malware, phishing, sextortion e botnets são apenas algumas das ameaças, mas roubo de identidade, esquemas de perfis falsos e pressões e bullying também fazem parte dos perigos.

Hoje o dia é dedicado à sensibilização para o tema da segurança, com o Dia da Internet mais Segura, mas na verdade a segurança tem de ser uma prática de todos os dias, e que é aplicada em todas as idades, em todos os equipamentos eletrónicos que utilizamos e com práticas que se estendem a todas as plataformas.

Não são só os computadores pessoais, e muito menos apenas os que têm sistema operativo Windows, mantendo incólumes os Mac e Linux como se pensou durante muito tempo. Os smartphones e tablets são cada vez mais apetecíveis para os hackers que vêm nestes equipamentos uma forma de aceder a informação e dados pessoais, ganhando vantagens financeiras ou uma porta de entrada para outras contas. Mas também os televisores, câmaras de vigilância, routers e outros equipamentos do exército da Internet das Coisas (IoT) podem ser mobilizados para estes ataques onde há cibervigilância, ameaças à privacidade e propósitos mais obscuros como a captura de imagens para uso em pornografia e pedofilia.

O estudo YouGov para a Google mostra que o que mais preocupa os são  os dados pessoais (a sua morada, por exemplo) e dados bancários (cartão de crédito, por exemplo). Na navegação on-line e, os resultados revelam que 50% dos entrevistados já passaram por alguma tentativa de phishing por e-mail.

E o que podemos fazer para nos protegermos contra estas ameaças, e sobretudo para proteger os utilizadores mais vulneráveis, especialmente as crianças, os séniores e outros internautas com menos grau de literacia digital?

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A pergunta não tem uma resposta única, nem fácil, e na verdade a resposta adequada é uma responsabilidade de todos, desde as grandes organizações políticas como a União Europeia às iniciativas da sociedade civil, as empresas, as escolas e as famílias. Em última análise todos e cada um de nós.

Isabel Baptista, do Centro Nacional de Cibersegurança, lembra que num contexto empresarial, as ferramentas tecnológicas são úteis reduzir os riscos e cibersegurança. "Ferramentas dissuassoras reduzem a motivação dos atacantes; ferramentas preventivas ou segurança de perímetro reduzem a probabilidade de sucesso dos ataques; mecanismos de redundância ou de tolerância a falhas reduzem o impacto de agressões bem sucedidas", explica ao SAPO TEK.

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Já num contexto doméstico, os antivírus reduzem a probabilidade de infeção com um vírus informático e os sistemas anti-spam eliminam uma grande parte das mensagens de correio electrónico indesejadas e também elas uma forma de propagação de vírus. "No entanto, todas estas ferramentas são inúteis sem uma cultura de ciberegurança e sem comportamentos on-line corretos da parte de todos os funcionários de uma organização ou dos cidadãos. Colocar uma PEN desconhecida no nosso PC é o suficiente para quebrar todas as barreiras de segurança existentes", avisa.

Uma cultura de cibersegurança

Algumas regras que utilizamos no mundo real para nos protegermos podem ser aplicadas ao mundo online. Nunca deixamos uma porta aberta e quando saímos fechamos à chave, não falamos com desconhecidos na rua e não damos a nossa morada a qualquer pessoa. São apenas exemplos de como os princípios que ensinamos aos mais jovens se aplicam offline e online, e são simples de explicar.

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A criação de uma cultura de cibersegurança passa também por pensar antes de instalar uma aplicação e dar acesso a todas as permissões, ou de abrir um email que promete um negócio da China ou pede os dados do cartão de crédito ou do banco. Muitas vezes basta ser um pouco desconfiado para perceber que há um embuste por detrás destes pedidos, até porque apesar de haver campanhas de phishing e ataques muito bem orquestrados, a grande maioria das vezes estão mal feitos, escritos em mau português e com imagens erradas dos logotipos dos serviços.

Os jovens, as dúvidas e o tempo online

Quais são as principais questões que incomodam os jovens online? Cristina Ponte, investigadora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, dedicou-se a estudar este tema e através do questionário EU Kids Online percebeu que são sobretudo os riscos de conteúdo – acesso a conteúdos produzidos e difundidos de modo massivo na rede; riscos de contacto, a sua participação em contactos on-line iniciados por adultos; e riscos de conduta, que consideram a criança como perpetrador ou vítima de comunicação entre pares.

A investigadora sublinha que o contexto mudou muito e que há uma crescente pressão para estar ligado e para se expor e se apresentar convenientemente aos outros, fazendo rever conceitos de privacidade, de vigilância e monitorização. “Os ambientes digitais estão sujeitos a processos de mudança rápidos e contínuos, que incluem o crescente papel da comunicação móvel, de novos dispositivos técnicos, e de novos serviços ou aplicações, e de novos indivíduos e ambientes sociais”, explica.

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O tempo que os jovens passam online é cada vez mais uma preocupação e a recomendação dos especialistas é para que os pais e educadores debatam calmamente o tema, apontando os riscos do excesso de exposição e da distração em relação a outras atividades, do estudo ao lazer e socialização no mundo real, mas que também deem eles próprios o exemplo, definindo horas para “desligar”. E naturalmente os adultos devem evitar também expor-se e expor os filhos nas redes sociais, mantendo-se atentos a sinais de cyberbullying ou de outras ameaças e riscos, como o sexting.

No fim de contas, independentemente da idade, são as regras de segurança, as boas práticas e a “ciberhigiene” que pode ajudar a manter-nos seguros, contribuindo para uma Internet melhor e um espaço onde podemos deixar as crianças brincar de forma segura. E isso traz benefícios para todos.

Hoje assinala-se o Dia da Internet mais Segura, mas ainda há muito desconhecimento e indiferença sobre os riscos e ameaças que estão à espreita durante a navegação online. Ao longo do dia, o SAPO TEK tem diversos artigos sobre a temática, entre os comportamentos dos portugueses, dicas para aumentar a segurança online e diversos relatos de especialistas. Acompanhe todos os artigos sobre o Dia da Internet mas Segura aqui.