Um novo estudo da WeProtect Global Alliance revela uma subida alarmante do abuso sexual de crianças online. Os dados avançados apontam para os riscos acrescidos em ambientes de jogos sociais, que facilitam o convívio entre adultos e crianças. Bastam 19 segundos para que as conversas com crianças em plataformas de jogos sociais possam evoluir para situações de aliciamento de alto risco. O tempo médio destes casos de aliciamento é de apenas 45 minutos.

De acordo com o estudo, entre 2020 e 2022, houve um aumento de 360% nas imagens sexuais auto geradas de crianças com entre 7 e 10 anos. Foi também possível registar uma subida significativa nos casos de extorsão sexual financeira. As denúncias deste tipo de casos aumentaram de 139 em 2021 para 10.000 em 2022.

Nos casos de extorsão sexual financeira, os criminosos manipulam as crianças para partilharem imagens e vídeos sexuais de si mesmas, extorquindo depois as vítimas para lucrarem. Em muitos dos casos, os perpetradores fazem-se passar por raparigas, abordando rapazes com idades entre os 15 e os 17 anos através das redes sociais, num fenómeno que levou a vários casos de suicídio de jovens. 

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Com a inteligência artificial a tornar-se cada vez mais prevalente nas nossas vidas, aumentam também os casos em que os criminosos usam IA generativa para gerar materiais de abuso sexual de crianças.

Segundo os dados, menos de 1% dos ficheiros de material de abuso sexual infatil partilhados nas comunidades de criminosos são imagens fotoralistas geradas por computador. No entanto, o volume tem aumentado consistentemente desde agosto de 2022.

O estudo chega também à conclusão que há um fosso significativo entre as percepções das crianças sobre os riscos online e a manifestação real do abuso na Internet. Muitas vezes, os agressores são conhecidos das crianças e as plataformas privadas são onde ocorrem a maioria dos casos de abuso sexual online.

As minorias vulneráveis e os grupos marginalizados estão expostos de forma desproporcional a danos sexuais online, indicam os dados. Além disso, questões como pobreza, desigualdade e crises globais contribuem para o aumento da exploração e do abuso sexual de crianças.

“As novas capacidades tecnológicas agravam ainda mais os riscos já existentes, e a situação não é diferente em Portugal. A segurança das crianças não pode ser negociável”, realça Iain Drennan, Executive Director da WeProtect Global Alliance, em comunicado.

“Para evitar que mais crianças sejam prejudicadas, os governos, os fornecedores de serviços online, as instituições de solidariedade social e as empresas têm de intensificar os seus esforços e trabalhar em conjunto para promover a mudança e proteger as crianças", realça o responsável.

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A WeProtect Global Alliance defende que para reverter estas tendências é necessária uma maior definição de prioridades, também um maior empenho de todas as partes envolvidas na resposta.

Entre as medidas recomendadas está o investimento em abordagens de saúde pública, a concepção de intervenções focadas nos direitos e perspectivas das crianças, a implementação de legislação alinhada a nível internacional e a adoção de uma abordagem de segurança por predefinição.