O grupo de reflexão e ação Movimento Menos Ecrãs, Mais Vida “surgiu do encontro de 4 mães que partilham das mesmas preocupações, a excessiva exposição aos ecrãs pelas crianças e jovens”, explicou ao SAPO TEK Mónica Pereira, uma das fundadoras do movimento. O primeiro passo já tinha sido dado em 2023 com a criação de uma petição que reuniu mais de 22 mil assinaturas, mas agora avançou para um formato diferente.
“É um formato que permite reunir mais vozes e que crescendo poderá ter mais visibilidade e ajudar a sensibilizar mais pessoas para esta questão”, justifica.
Depois das notícias que nos últimos dias dão conta de um estudo que revela que a dependência do telemóvel, internet e redes sociais é comparável à dependência do álcool e drogas, especialmente nas camadas mais jovens, o grupo de reflexão e ação pede mudanças que diz serem urgentes.
“Diferentes membros deste grupo activamente procuram soluções para estes problemas bem conhecidos, há longos meses”, refere indicando a petição lançada em maio de 2023, “VIVER o recreio escolar, sem ecrãs de smartphones!” e uma outra iniciada em dezembro “Contra a excessiva digitalização no ensino e a massificação dos manuais escolares digitais”.
Os promotores da iniciativa afirmam que “precisamos de uma mudança. A argumentação para essa necessidade está bem espelhada em ambas as petições”, adiantando ainda que foi já pedida uma audiência urgente ao Presidente da República.
Em declarações ao SAPO TEK, Mónica Pereira explica que o movimento acredita que “o estatuto do aluno possa vir a ser atualizado, nomeadamente quanto à restrição de uso de telemóveis no recinto do recreio, pois o atual estatuto não é eficaz quanto a esse espaço”. E detalha que “apesar de dizer que não se podem fazer vídeos nem a sua divulgação, o que acontece nos recreios das várias escolas não é isso. Os casos de filmagens e cyberbulling constituem algumas das questões com que as direções das escolas têm de lidar, diariamente”.
Para o movimento, a forma mais rápida de implementar mudanças poderá passar pelas direções das escolas tomarem a iniciativa de mudar os seus regulamentos internos, e indicam os casos da Escola de Lourosa, em Santa Maria da Feira e mais recentemente da Escola Gil Vicente, em Lisboa.
“Desde Setembro até agora já houve mais de 10 agrupamentos a fazer esta mudança”, afirma Mónica Pereira.
Considerando a questão urgente, avisa que os riscos de prolongar a exposição excessiva aos ecrãs “estão bem defendidos pelos médicos especialistas na área da psicologia ou das neurociências”. Entre os problemas identificados estão atrasos na linguagem, na escrita, na socialização saudável, dependência que pode levar a tratamentos médicos, problemas visuais e ao nível da coluna. Podem chegar a depressão e ansiedade relacionados com o tempo online.
“Nesta geração que vive à volta dos ecrãs, a passagem de informação é muito rápida e o conteúdo retido é muito pouco, sendo muito difícil manter o foco num só tema, uma vez que os estímulos visuais são vários”, explica Mónica Pereira.
Limitando o acesso aos ecrãs nos recreios a ideia é que seja promovida a socialização entre os alunos. “É muito importante que se criem laços de amizade cara-a-cara, vivendo e observando as emoções”, lembra a fundadora do movimento.
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