O especialista em cibersegurança português Bruno Castro alertou hoje, na cidade da Praia, que os ataques informáticos que aconteceram recentemente em Portugal podem ser replicados em Cabo Verde, país “altamente exposto”, e sugeriu medidas preventivas.
“Há esse receio, bastante credível, até pelas informações que nós temos, pelo facto de termos estado envolvidos nesta onda violenta que Portugal foi vítima, diria que é perfeitamente plausível que possa acontecer algo semelhante em Cabo Verde”, alertou o especialista à Lusa.
Bruno Castro é diretor da VisonWare, empresa informática portuguesa com presença em Cabo Verde há mais de 15 anos, tendo mais de 20 clientes ligados ao Estado, à banca, às seguradoras, à área farmacêutica ou à energia.
Desde o início do ano, aconteceram vários casos de ataques informáticos em Portugal, como à Impresa, Vodafone ou laboratórios Germano de Sousa.
Em novembro de 2020, Cabo Verde também foi vítima de um ataque cibernético à rede tecnológica privativa do Estado, que afetou várias instituições e empresas, o que obrigou o Governo a investir meio milhão de euros para reforçar a segurança das redes informáticas do país.
Na altura, a VisonWare esteve a trabalhar com as autoridades cabo-verdianas para resolver o problema, e o consultor português de segurança informática constatou que o arquipélago está “altamente exposto”, tal como muitos países ocidentais.
“Por várias razões, e uma delas foi o ataque que houve há um ano, que foi muito violento, e colocou Cabo Verde, efetivamente, na geografia do cibercrime. Portanto, a probabilidade de haver novas ondas em Cabo Verde é elevada”, insistiu a mesma fonte.
Entre os setores mais expostos aos ataques informáticos em Cabo Verde, o diretor da VisonWare apontou o Estado, porque já foi vítima uma vez, mas também tudo que envolve dinheiro, desde banca, seguros e indústrias, e tudo que envolve o turismo.
Além desses setores idênticos a Portugal, o responsável apontou ainda as “interligações naturalíssimas e históricas” entre os dois países como outras razões para essa “forte probabilidade” de ciberataques se tornarem constantes em Cabo Verde.
“Até porque é tendência mundial, não é uma coisa geográfica, o cibercrime está muito evoluído e Cabo Verde será também alvo como todos os outros países”, continuou, referindo que na Internet não há o conceito de geografia física de Estados, mas sim por setores de mercados.
Cabo Verde tem dado passos que considera ser “estruturantes” em matéria de cibersegurança, com leis, instituições, adesão às principais convenções internacionais, aposta na informação e conhecimento, mas o diretor da VisonWare avançou que, depois do ataque à rede do Estado, as empresas estão mais preocupadas com questões de segurança informática.
E face ao que está a acontecer em Portugal, disse que essa preocupação triplicou no arquipélago africano, pelo que sugeriu a tomada de medidas técnicas defensivas e preventivas, para as empresas serem capazes de mitigar ciberataques, e, se possível, bloqueá-los ou detetá-los.
“E se isso não acontecer, poder responder mais rapidamente ao incidente ou ao desastre”, explicou Bruno Castro, notando que não existe segurança perfeita na rede, sobretudo quando quase toda a gente “saltou” para o mundo digital devido à pandemia de covid-19.
Por isso, há muito mais alvos na Internet, grande parte deles vulneráveis, numa nova tendência em que as pessoas, empresas e os Estados “vão ter que correr contra o prejuízo” e evoluir em termos de conhecimento.
“Temos que evoluir agora a nível de segurança, políticas, dar conhecimento e formação às pessoas, quer aos técnicos que operam nas funções de segurança, quer também às pessoas que têm que utilizar”, sugeriu.
Em todas as suas intervenções, as autoridades cabo-verdianas têm sublinhado a importância da cooperação internacional no combate ao cibercrime, o que Bruno Castro também considerou ser “fundamental” para saber quem, quando e onde foi praticado algum ataque.
“Essa cooperação é cada vez mais importante, hoje em dia, já existem plataformas muito boas de partilha de conhecimentos, quer ao nível dos Estados, quer ao nível de organizações, por setores, quer ao nível das autoridades”, reforçou o consultor em segurança informática.
Depois da cidade da Praia, ilha de Santiago, o diretor da VisionWare vai seguir para o Mindelo, na ilha de São Vicente, para mais uma visita que tem como objetivo “preparar” alguns clientes que estão mais expostos aos ataques informáticos.
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