O Wikileaks é uma plataforma criada para os denunciantes, conhecidos como whistleblowers exporem a corrupção e as violações dos direitos humanos. O seu fundador, Julian Asange, está sob custódia das autoridades de Londres, depois de ter sido preso em abril de 2019, após anos refugiado na embaixada do Equador na capital do Reino Unido. Quase quatro anos e meio da sua detenção, continuam a ser ouvidas vozes para a sua libertação, naquele que é considerado um braço de ferro entre a liberdade de expressão e o poder governamental.
Foi exatamente este o tópico de um painel que trouxe a sua esposa Stella Assange a Portugal para o Web Summit. No painel defendeu que o Wikileaks é uma das fontes mais importantes de jornalismo do século e que devido à exposição confidencial, o seu fundador tem sido perseguido pelos governos dos Estados Unidos e Reino Unido. Stella Assange lembrou que o seu marido tem sido vítima de especulações e mentiras, recebendo o aplauso do público, num momento mais emotivo da também jornalista e ativista dos direitos humanos. Chegada de Oslo, Stella Assange referiu que o seu marido tinha acabado de receber um prémio por questões humanitárias e que continuava a escrever a partir da prisão.
Durante a palestra admitiu que muita tinta tem corrido em torno do caso e sobre os efeitos das publicações no Wikileaks, afirmando que são 100% verdadeiros os documentos, vídeos e fotografias publicados, sobre crimes de guerra que foram cometidos, por exemplo, no Afeganistão. E que Julian Assange está a pagar a fatura por ter exposto uma superpotência, vendo violadas as leis da liberdade de expressão ao ser perseguido como jornalista.
Foi ainda falado em como o caso é bastante delicado, não apenas para um homem que se diz condenado injustamente, por ter publicado informação publicamente confidencial que recebeu, logo não está a ser acusado de espionagem; mas está a ser condenado por algo que fez no interesse público. E Stella Asange diz que o seu marido, sendo australiano e estando na Europa quando partilhou a informação, nunca poderia ser acusado por espionagem dos Estados Unidos.
A ativista diz que a administração Obama não foi atrás de Julian, mas sim a de Donald Trump, que quis marcar um procedente para acalmar a imprensa, marcando um ponto para resfriar o poder do jornalismo. Mas a nova administração de Biden tem mantido a mesma posição de Trump. E por isso, esta é considerada a maior ameaça mundial ao direito de liberdade de expressão e “ao jornalismo de verdade”.
Reconhece que desde que está casada com Julian Assange que sempre sentiu um ambiente de terror, com constantes ameaças de morte do seu marido. Mas o mais importante para si é garantir que os seus dois filhos não cresçam sem o seu pai, preso há quase cinco anos. Apesar do pedido de ajuda para libertar o seu marido da prisão, destaca que o alvo não é Julian Assange, mas sim toda a imprensa e jornalismo.
Diz mesmo que existe um “beef” entre a imprensa generalista e Julian Assange, citando o jornal Economist como tomado o lado de Hillary Clinton, quando em 2016 foram publicados os documentos classificados. E afirma que está a ser acusado de “hacking e não de leaking”. Por outro lado, refere que outros meios como o The Washington Post que tomaram a posição de que deveria ter sido libertado. O facto de o assunto ter sido mediático e feito correr tinta na impressa geral ditou a sua prisão. Para Stella Assange, se não fosse tão falado na imprensa, o seu marido não teria passado um dia na prisão.
Veja as imagens do Web Summit 2023
Acusou ainda os Estados Unidos de fazer pressão para “calar a Europa”, dando o exemplo de outro país tentar calar alguém em Portugal. E nesse sentido, defende que se trata de um tema e uma ameaça global, se o caso se mantiver como até agora. Ainda assim, e não querendo falar pelo seu marido, Stella Assange diz que Julian está feliz por lutar pelos direitos humanos e pela verdade. E como exemplo cita o papel do Wikileaks no caso de uma pessoa torturada no Iraque, que se descobriu ser inocento e depois libertado. Não conseguiu instaurar um processo aos Estados Unidos, mas através de documentos publicados no portal acabou por ser apurar a verdade.
No final da sua intervenção, Stella Assange defende que é essencial libertar o seu marido, por ser um pensador, um intelectual público, escritor, jornalista, mas sobretudo amante da verdade e liberdade de expressão, o que lhe valeu mais uma ovação do público presente no palco principal do Web Summit.
O SAPO TEK mudou a redação para o Web Summit e acompanhou tudo o que se passou na conferência e nos eventos paralelos que sempre decorrem em Lisboa. A agenda era longa e com muito para descobrir dentro e fora dos palcos.
Pode acompanhar tudo no nosso especial do Web Summit 2023.
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