Há 12 anos que a internet abriu as portas à possibilidade de caracteres não latinos serem usados como endereços de páginas web. Democratizar a internet e facilitar a conectividade à volta do mundo, continua a ser uma das prioridades do ICANN para a próxima década, mas os progressos alcançados nesta matéria ainda são tímidos.
Em 2009, o organismo que regula a internet a nível mundial (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers) passou a garantir a possibilidade de usar caracteres não latinos nos endereços web, em chinês ou árabe por exemplo. Hoje é possível digitar endereços em mais de uma centena de línguas, incluindo opções tão herméticas como os hieróglifos do egipcio antigo.
Mas na prática pouco mudou, e é o próprio ICANN que o reconhece, numa altura em que as zonas do globo onde o acesso à internet mais cresce ou ainda não chega são países emergentes. “A verdade é que mesmo que metade da população mundial já use internet hoje é a elite do mundo, sobretudo aqueles que vivem em cidades e que têm um bom rendimento”, reconheceu Goran Marby, responsável do ICANN em declarações à Agência France Press. Dados das Nações Unidas mostram isso mesmo: 37% da população mundial, cerca de 2,9 mil milhões de pessoas, nunca usou a internet. Destes, 96% estão em países em vias de desenvolvimento.
Combater a infoexclusão também passa por permitir a todos os que podem vir a aceder à internet expressarem-se na sua própria língua e o organismo norte-americano quer continuar a contribuir para isso. O ICANN definiu como meta para os próximos anos, garantir que 28 das línguas mais faladas em todo o mundo passem a ser usadas na internet de forma abrangente. Reconhece-se, no entanto, que vencer esta barreira implica mais do que fazer as alterações técnicas necessárias para que, quando alguém digita um endereço, ele vá parar a uma página web.
No ano passado, o próprio ICANN testou mil sites a nível mundial e concluiu que apenas 11% aceitam endereços de email com caracteres chineses ou árabes, no preenchimento de formulários com pedidos de contacto ou informações.
Mesmo em países como a China, a aceitação de caracteres não latinos é pouco comum - serviços como o WeChat não suportam endereços de email com caracteres chineses - e muitas vezes a opção passa por fazer dos endereços de internet combinações de números. Na Rússia, cerca de 40% das empresas têm sites com domínio de topo em cirilico.
No entanto, embora a maioria dos ISPs no país suportem emails com domínios em cirilico, à esquerda da @ continuam a admitir-se apenas caracteres latinos, exemplifica o Techxplore, que faz um balanço dos progressos alcançados nesta área.
O ICANN defende que alterar esta realidade passa por continuar a trabalhar com programadores e técnicos em todo o mundo, mas cabe também às empresas darem passos neste sentido. Serviços como o Gmail estão entre as exceções. Desde 2014, que a plataforma de correio eletrónico da Google permite trocar mensagens com utilizadores com endereços de correio eletrónico com caracteres não latinos.
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