As escutas aos dois telefones foram anunciadas pela porta-voz do governo espanhol, Isabel Rodriguez e pelo ministro da Presidência do Governo, Félix Bolaños, numa conferência de imprensa que decorreu hoje no Palácio de la Moncloa, Madrid. Vários políticos, jornalistas e defensores dos direitos humanos terão sido alvo da utilização do software de espionagem desenvolvido pela empresa israelita NSO e há diversas investigações em curso para apurar a extensão do problema e a intervenção de governos europeus.

Bolaños explicou que de acordo com os relatórios do organismo cibersegurança espanhol (CNC) verificaram-se duas intrusões no telemóvel de Pedro Sanchéz em maio de 2021 e uma escuta ao telefone móvel de Robles em junho do ano passado.

A "intervenção ilegal" foi confirmada na sequência de uma investigação que ainda está em curso sobre as comunicações de todos os membros do governo espanhol.

"Tratam-se de factos confirmados e de uma enorme gravidade que confirmam que se verificaram intrusões às instituições estatais e que são ilegais", acrescentou Bolaños. "Estamos perante intervenções ilícitas e externas", sublinhou.

O uso do programa informático de fabrico israelita Pegasus foi inicialmente denunciado por membros da oposição e separatistas da Catalunha.

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Hoje, os deputados catalães da CUP (Candidatura de Unidade Popular) Carlos Riera, Albert Botran e David Fernàndez apresentaram uma queixa a um tribunal de Barcelona contra alegados atos de espionagem através do programa informático Pegasus.

De acordo com um comunicado da CUP, a queixa em nome dos três deputados refere que se trata de um delito contra a intimidade com intuito de "revelação de segredos".

Da mesma forma, a organização separatista catalã Ómnium Cultural indicou hoje que já apresentou uma queixa sobre eventuais atos de espionagem a membros do grupo.

Por outro lado, o Governo da Região Autónoma espanhola da Catalunha (Generalitat) anunciou que vai inspecionar periodicamente os telefones móveis de 500 responsáveis de cargos oficiais devido às ameaças levadas a cabo através de programas de espionagem como o Pegasus.

Anteriormente, foram denunciadas intrusões a dezenas de independentistas catalães, entre os quais o presidente da Generalitat, Pere Aragonès.

O programa Pegasus, fabricado por uma empresa privada israelita só pode ser vendido e usado por governos e tem estado no centro de vários escândalos de espionagem contra políticos, jornalistas e defensores de direitos humanos em todo o mundo, nomeadamente Espanha, Marrocos e França.

O programa, que só pode ser vendido após autorização do governo de Israel, já foi proibido nos Estados Unidos.