A supercomputação e a computação quântica foram dois dos temas mais estimulantes do encontro Ciência´19 que decorreu no Centro de Congressos de Lisboa no início do mês, e a sala onde se realizou o workshop de computação quântica era notoriamente pequena para tantos interessados em ouvir falar do tema, obrigando muitos a sentar-se no chão ou a resistir estoicamente a três horas de conferência mantendo-se de pé.
O interesse não é infundado. Estas são duas das áreas onde a investigação tem maior potencial de transformação dos negócios à medida que o volume de dados a gerir continua a crescer, com aplicações práticas nos mais variados sectores.
Lars Montelius, Diretor-Geral do INL - Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia, explica que “estamos perante o início de uma nova revolução na área da computação quântica. A partir de material quântico podemos inovar noutras áreas, como é o caso da comunicação quântica, que nos tem dado dados importantes sobre a comunicação entre as pessoas e sobre informação encriptada, que não pode ser roubada”. O INL está diretamente envolvido na Iniciativa Quantum Portugal, que foi lançada no início do ano, e o diretor geral defende mesmo que a computação quântica vai ser mais importante do que a invenção da WWW e da Internet.
Apesar da tecnologia quântica já ser conhecida há várias décadas, a aplicação prática começa agora a ser explorada com os primeiros computadores quânticos, que permitem calcular dados complexos de forma muito rápida, a simulação e a sinalização quântica, que ajudam a medir e a testar modelos com muitos dados, que seria quase impossível – ou demoraria muito tempo – a fazer com a computação tradicional.
O que parecia pertencer à ficção científica está agora no centro da próxima revolução tecnológica, com novas formas de abordar os problemas e uma capacidade de processamento que permite resolver em poucos minutos algo que em sistemas tradicionais demoraria anos.
A criação de uma estratégia para a computação quântica para a indústria em Portugal é um dos passos que os investigadores vêm como muito positivos, já que é necessário um ecossistema robusto e a colaboração dos vários stakeholders para criar as ferramentas e desenvolver os modelos de utilização da computação quântica, tirando partido da capacidade que está a ser criada.
No Workshop o INL defendeu que não são só as grandes empresas que podem tirar partido desta tecnologia, e que também as pequenas e médias empresas podem preparar-se para usar estas ferramentas e desenvolverem uma estratégia, que já deu provas em áreas como o sector financeiro, logística, aplicações médicas e farmacêuticas, análise do clima e mesmo nas utilities.
Lars Montelius defende mesmo que “temos de ter uma estratégia para o negócio ou arriscamo-nos a ficar fora do negócio”.
A criação de massa crítica é um dos fatores importantes, mas também a “massa cinzenta”, com a formação de jovens nesta área, não só para construírem e desenvolverem a computação quântica mas também para criarem os modelos de utilização aplicados aos diferentes sectores.
Na Iniciativa Quantum Portugal foi criado um programa especial de 24 bolsas de doutoramento no campo da Ciência e Tecnologia Quântica, que está a ser gerido pelo INL - Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia, por mandato da FCT, e que é um passo importante para Portugal poder ser competitivo nesta área.
Um ecossistema aberto para a computação quântica
A IBM é uma das empresas que está a avançar no desenvolvimento da tecnologia e a abordagem de um ecossistema aberto está a dar um contributo importante para garantir a investigadores e empresas o acesso a ferramentas de desenvolvimento de novos modelos.
Nos últimos anos as grandes empresas tecnológicas têm olhado de forma diferente para esta área e depois da IBM ter anunciado protótipos com 50 bits quânticos, baseados em tecnologia supercondutora, a Google está também a explorar esta ferramenta, enquanto a Intel está a apostar em tecnologias de semicondutores e a Microsoft optou por uma abordagem baseada em bits quânticos topológicos através do uso de materiais quânticos.
Walter Riess, do laboratório de investigação da IBM em Zurique, explica que da curiosidade à aplicação prática já se avançou muito, mas que e preciso ter mais gente a experimentar e a desenvolver, a simular, para se darem passos mais rápidos. A IBM tem a Q Network e está a colaborar com instituições em todo o mundo, oferecendo acesso à Q Experience que permite utilizar a computação quântica em modelo de cloud e que está aberto a alunos e professores. O INL é um dos parceiros e vai utilizar a plataforma para divulgar a computação quântica também junto das empresas.
Supercomputadores e a estratégia para aproveitar a capacidade de computação do BOB
A parceria com a Universidade de Austin para trazer para Portugal o BOB e aumentar a capacidade de computação, juntamente com a candidatura para instalação do Deucalion estiveram também em destaque no Ciência'19.
Nuno Freixa Rodrigues defendeu que Portugal não pode estar fora deste percursos de aumentar a capacidade de computação disponível e tem de desenvolver a estratégia que tem já uma série de áreas identificadas, na observação da terra, saúde, mobilidade, novos materiais e na componente social.
“Esta é uma área de imensas oportunidades para desenvolvimento de aplicações e serviços, criar economia e emprego, dar ambiente startups para florescerem e ter capacidade para preparar vaga de talentos qualificadas”, sublinhou na sua intervenção, lembrando que não será na produção e fabrico que há oportunidades de desenvolvimento, mas no software e serviços, e que é essencial preparar as pessoas.
Os centros de competências próximos da indústria são também vistos como um elemento fundamental desta estratégia de desenvolvimento, e o objetivo é que se especializem em área específicas, coordenando esforços, pelo que vai ser aberta uma cal para candidaturas nesta área.
Entre os exemplos de utilização de supercomputadores que estiveram no Ciência 19 está a Vesta, uma empresa dinamarquesa que está em portugal há 3 anos e que tem um supercomputador desde 2013, que já esteve no top 3 dos mais poderosos do mundo.
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