As entregas por drones estão cada vez mais populares, capazes de colocar nas casas das pessoas diferentes produtos em apenas minutos. A Connect Robotics é uma dessas startups, tendo como especialização a entrega urgente de medicamentos e sangue entre os hospitais através da sua rede de drones. As entregas, que são feitas até 30 minutos, podem mesmo fazer toda a diferença num contexto de vida ou morte, diz a empresa.
O SAPO TEK foi conhecer esta startup no Web Summit, que estava inserida na rede de projetos de inovação a nível europeu da Enterprise Europe Network (EEN). O projeto da Connect Robotics foi um dos três escolhidos para estar presente no certame tecnológico. Segundo Eduardo Mendes, cofundador da startup, a ideia para a empresa surgiu em 2014, como um projeto de doutoramento na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). “Na altura surgiu o boom dos drones e decidi abrir a empresa para continuar a pesquisa e ao mesmo tempo fazer algo prático com o conhecimento”. Surgiu um sócio na área do negócio e logística, levando-o a trabalhar em full time no projeto em 2015 e a abertura oficial da Connect Robotics no ano seguinte, aproveitando fundos de financiamento do Centro de Incubação da Agência Espacial Europeia. A startup recebeu um total de 150 mil euros a partir de dois fundos de investimento.
Foi no final de 2016 que a startup fez a primeira entrega, depois de um longo período de investigação e desenvolvimento, mas o mais difícil, as autorizações para utilizar os drones nos seus serviços. “Esse é considerado o holy grail, conseguir a autorização para comandar drones além da linha de vista”. Autorização concedida pela ANAC, “na mesma semana que a Amazon conseguiu também a sua permissão, eles na quarta, nós na sexta, embora tenham investido alguns bons milhões a mais”, salienta o líder da empresa.
Veja na galeria fotos da solução de drones da Connect Robotics:
Contratos de entregas na área de saúde atrasados por falta das autorizações para operar drones
A empresa começou a operar com a entrega de comida com a Santa Casa da Misericórdia de Penela, depois seguiram-se parcerias com os CTT e outras empresas de entregas. Mas a grande tração que a Connect Robotics conseguiu obter foi na área da saúde. “Era algo que fazia bastante sentido, pois o drone é algo relativamente caro, mesmo com a sua massificação e reduções de preço, pois não conseguíamos competir com os meios alternativos de entrega de pizza na cidade”. Explica, no entanto, que, numa zona rural ou área de urgência na saúde, a sua solução passou a fazer mais sentido para trabalhar com hospitais, farmácias e laboratórios. A empresa especializou-se nesta área, afirmando que é a que tem a regulamentação mais difícil, onde obtiveram mesmo a autorização da InforMED para o transporte de medicamentos.
Em meados de 2017, a startup ganhou o prémio de inovação de farmácia. Depois do longo processo de autorizações com o InforMED, a empresa conseguiu fechar diversos contratos em Portugal, incluindo o maior laboratório de análises clínicas. Dando um exemplo, um hospital de Lisboa com quem trabalha, este faz exames de quimioterapia de pacientes com cancro. “Antes de fazer um tratamento é necessário fazer um exame ao sangue e às suas plaquetas para saber se o doente está em condições de fazer naquele dia. Esse hospital não tem volume suficiente que justifique ter um laboratório interno, por isso contrata estafetas para levar as amostras aos laboratórios”. Nestas situações, um cliente pode ficar “pendurado” por horas até o estafeta recolher e entregar as amostras, além da espera pelos resultados. “No final de umas quatro horas, o paciente ainda pode receber a notícia de que não está apto para receber o tratamento e voltar no dia seguinte para o mesmo ciclo”. Com um drone consegue-se encurtar este processo para 15 minutos, diz o empresário.
Apesar das vantagens visíveis, sobretudo nestas situações de urgência, Eduardo Mendes diz que tem os seus drones parados, devido às mudanças no regulamento. Desde dezembro de 2020 que a empresa está praticamente parada, depois que entrou em vigor o regulamento europeu.
“Antes tratávamos tudo com a ANAC e tínhamos a autorização, mas agora a entidade nacional responde à EASA, entidade reguladora europeia. No futuro, o novo regulamento vai ser uma coisa boa para nós, porque uma autorização concedida em Portugal é válida internacionalmente na Europa”.
No entanto, salienta que o período de transição está a ser muito complicado para a empresa porque todas as exigências que eram cumpridas, deixam constantemente de ser válidas. “Voltámos lá a cada três meses com nova documentação e pedido, mas mandam para trás porque querem outras coisas diferentes". Isso traduz-se em prejuízo para a empresa que desde dezembro não fatura. A startup procura investidores para manter-se ativa, ao mesmo tempo que fornece outros serviços de engenharia para compensar. Eduardo Mendes diz que a situação atual retira o foco no seu negócio dos drones, quando ainda por cima estes eram necessários, sobretudo neste contexto de pandemia.
No início do ano, no pior período da pandemia, um dos seus clientes, uma farmácia que entrega medicamentos a lares de idosos, onde foram registados surtos de COVID-19, enviava constantemente emails à empresa a requisitar os seus serviços, para fazer as suas entregas sem contacto. Mas a falta de autorização impediu a empresa de colocar os drones ao serviço dessas pessoas necessitadas. Por outro lado, afirma que a pandemia ajudou a impulsionar o negócio, fechando alguns contratos importantes, mas que com a falta da autorização respeitante ao novo regulamento tem vindo a atrasar os compromissos.
Em dois anos vai ser normal ver os drones a circular frequentemente para fazer entregas
Quanto ao valor de negócio, Eduardo Mendes diz que varia entre cada serviço e necessidade do cliente. Como alguns clientes não têm a capacidade de fazer o investimento inicial no equipamento, a empresa lançou projetos com fundos europeus para criar uma frota de drones para oferecer um serviço de subscrição mensal, que inclui o aluguer do aparelho, o seguro, o processo das autorizações, manutenção, treino, licenciamento do software. “Damos uma formação de uma semana e o cliente é que opera o drone, porque é muito simples”. Para já, a empresa conta com 10 drones na sua frota.
A empresa está com os olhos postos na internacionalização e conta com a ajuda da EEN, daí a presença em eventos como o Web Summit.
“Através dos eventos que participámos conhecemos parceiros internacionais e conseguimos realizar uma missão internacional, com parceiros da Bélgica que vieram conhecer a tecnologia”.
A Connect Robotics está atualmente a executar um projeto-piloto na Bélgica com uma rede de farmácias, com encomendas entregues em espaços apertados, tais como em janelas, telhados ou varandas. Mas tal como em Portugal, continua a enfrentar o processo de autorização.
Os drones podem voar em condições de mau tempo, inclusive chuva ligeira, voando até 60 km/h, mas varia do tipo de equipamentos. Na sua frota tem drones da DJI, T-Drones (que faz motores para drones de grandes portes) e a Vertical Technologies que faz aparelhos com capacidade de maiores distâncias. Segundo Eduardo Mendes, os drones da sua frota podem carregar cargas de 1 a 2 quilos.
O que distingue a solução da Connect Robotics de outras propostas é o seu software de autonomia, o seu sistema de visão computacional e outros elementos de sensores para aumentar a fiabilidade dos drones. “Por exemplo, uma oferta nossa é a entrega em ambientes urbanos ou mesmo áreas fechadas, ao contrário de outras empresas que necessitam de uma zona grande, um quintal, por exemplo”. Um projeto aprovado e executado pela empresa diz respeito a uma patente criada para um mecanismo de entrega que inclui um cesto de baixo custo, que é colocado nos clientes, nos locais de entrega, como janelas ou telhados.
O empresário vê o futuro, nos próximos dois ou três anos, entregas de drones nas áreas de saúde, por terem mais serviços de urgência. Diz ainda que a cada ano e meio, nota uma redução de cerca de 30% do preço de custo dos drones, na relação drone/quilómetro, explica o empresário. Prevê mesmo que vai haver mais entregas rápidas de comida, tal como pizzas, num mercado BTC. Vê também a instalação de várias estações espalhadas pela cidade, para tornar mais fácil as entregas. Diz ainda que nas zonas rurais, onde não justifica a construção de uma farmácia, por exemplo, o uso dos drones pode ser uma solução muito viável para as entregas.
Em conclusão, Eduardo Mendes vê o futuro dos drones com a mesma importância da evolução das comunicações. Se antes era impossível estabelecer contacto entre familiares que viviam em continentes diferentes, com apenas um clique é possível comunicar entre si. Os drones vão poder fazer ligações através de entregas. Mas para isso, como diz, “é preciso regulamentos, que estão muito atrasados”. O medo da evolução dos negócios em torno dos drones é mesmo pelas suas regras. Prevê que a curto/médio prazo tudo vai entrar nos eixos, porque a própria União Europeia tem investido nos drones e tem interesse na tecnologia.
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