Dar uma "segunda vida" aos eletrodomésticos e equipamentos elétricos antes considerados lixo e evitar que continuem a continuar a prejudicar o ambiente. É este o objetivo de um projeto ibérico apresentado em 2018, mas que deverá arrancar no “terreno” no primeiro trimestre de 2020. Para isso é preciso apostar numa estratégia sustentável transfronteiriça para a gestão de resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos.
Em declarações à agência Lusa, Maria do Céu Silva, técnica superior de ambiente e uma das responsáveis portuguesas pelo projeto, salienta a necessidade de reinvenção de todo o processo de gestão de resíduos. O objetivo passa por combater a falta de utilidade destes equipamentos, ajudando também a preservar o meio ambiente.
Qual a "viagem" dos resíduos neste projeto?
Para isso, o projeto "Estratégia sustentável transfronteiriça para a gestão de resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos", no âmbito do Programa INTERREG V-A Espanha-Portugal (POCTEP), vai apostar em "novas caixas", tendo em mente a necessidade de “potenciar na origem a recolha segregada do material e do equipamento que ainda oferece um potencial para ser reutilizado".
Mas de que forma é que estas "novas caixas" vão ajudar a alcançar este objetivo? "As novas caixas vão permitir preservar o material que ainda tem potencial, segregando-o daquele material que está muito desmantelado e não oferece condições de reparabilidade e, portanto, já é um resíduo logo à partida", salienta Maria do Céu Silva.
E as vantagens são claras. Além de assegurar que durante o transporte até à plataforma os materiais se mantêm tal e qual como chegam aos econcentros, as novas caixas seguem também a linha dos "requisitos impostos" pela Agência Portuguesa do Ambiente, nomeadamente no que diz respeito à proteção ambiental e salvaguarda de dispersão de matérias perigosas.
Assim que este procedimento estiver implementado na plataforma, o projeto prevê que no futuro estes equipamentos sejam pesados, etiquetados e, depois, encaminhados para um centro de recuperação para serem restaurados.
E o que se segue? Conforme explica Luisa Maria do Céu Silva à Lusa, depois de recuperados o objetivo é que estes equipamentos possam ser acomodados num espaço próprio em cada ecocentro e, posteriormente, "devolvidos à comunidade" através de uma "bolsa de materiais".
"Esta bolsa tem como finalidade a criação de uma plataforma online que ficará disponível gratuitamente a variadas entidades que possam ter interesse neste tipo de materiais e peças", sublinha Maria do Céu Silva, adiantando ainda estar a ser estudada a hipótese de venda ou doação das peças recuperadas.
O “poder” dos consumidores
Os parceiros portugueses e espanhóis são vários, nomeadamente o Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto (Lipor) e o European Recycling Platform (português e espanhol), e deverão ver as "novas caixas" e, consequentemente, os "novos albergues" dos materiais recuperados a ser implementados no primeiro trimestre de 2020.
Até lá, e de acordo com o diretor de Lipor, a aposta das entidades ibéricas passa por reforçar a comunicação com os consumidores e consciencializá-los para este problema que tem repercussões, não só a nível ambiental como também na economia das famílias.
Para Fernando Leite, uma vez que os ciclos de vida dos equipamentos têm reflexos na "própria despesa das famílias", o "poder" está nas mãos do consumidor e "só ele será capaz de mudar a mentalidade do produtor".
“A partir do momento em que o consumidor começar a exigir equipamentos de maior duração, em que o consumidor em vez de rejeitar um equipamento vai levá-lo a reparar e dessa maneira aumentar a sua vida útil, é evidente que o produtor vai ter menos hipóteses de ter equipamentos que se descartam mais facilmente", conclui.
O projeto, que é coordenado pela Deputación de Pontevedra e conta com um financiamento de 2,14 milhões de euros, têm ainda como parceiros a empresa Revertia Reusing and Recycling, o Centro tecnologia de eficiência y sostenibilidad energética (ENERGY LAB) e o European Recycling Platform (português e espanhol).
O problema da gestão de resíduos não é algo recente. Já em 2017 a ONU alertava que apenas 20% do lixo eletrónico é reciclado. E, mais recentemente, Portugal apertou com a fiscalização nesta área da gestão e Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos (REEE), com coimas a chegar aos cinco milhões de euros. Mas o problema não é algo recente.
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