Está iminente uma das mudanças mais relevantes até à data no universo da criptoeconomia. Nas próximas horas a aguardada fusão da Ethereum será consumada e o mecanismo de suporte ao funcionamento da segunda moeda digital mais popular e mais relevante do mercado altera-se profundamente.

Com esta fusão, conhecida como The Merge, a blockchain Ethereum deixará de funcionar num modelo “proof of work”, para passar a operar num modelo “proof of stake”. Este último, tem sido testado ao longo dos últimos anos numa blockchain à parte (Beacon) daquela que tem suportado a moeda (mainnet). Ambas estão agora prestes a fundir-se. Sobre os resultados da operação permanecem muitas dúvidas.

O sucesso não está 100% garantido, também não é certo que o valor do token consolide ou que daqui não nasça uma Ethereum “alternativa”, que belisce o valor da original, mas testes não faltaram até ao derradeiro passo e as possíveis vantagens também são muitas.

Como funciona hoje a Ethereum?

No modelo atual (proof of work), que também é utilizado com a Bitcoin, o poder de computação de cada “mineiro” ou minerador é determinante para resolver a charada, validar uma transação e chegar à recompensa. Todos podem trabalhar nas mesmas equações complexas, ganha quem conseguir resolver primeiro. A recompensa é dada em moeda, gerada pela validação de novos blocos. Na Ether por cada bloco validado ganhava-se até agora duas moedas (cerca de 3.200 euros, à cotação atual), mais as taxas associadas às transações feitas pelos utilizadores. Na Bitcoin a recompensa é mais elevada 6,25 bitcoins por validação.

Como vai funcionar o novo modelo?

O proof of stake altera o modelo de validação de transações e adição de novos blocos na blockchain Ether. Passa a existir um processo de seleção aleatório, através do qual se decide quem vai validar o próximo bloco da blockchain. Para ser elegível para a seleção é preciso ter, pelo menos, 32 Ethers. Esta nova regra é uma forma de garantia, que o sistema passa a adotar. Chama-se staking ao bloqueio de fundos exigido, que vai servir como reserva de garantia, caso a tarefa não seja desempenhada corretamente.

A nova forma de “fabricar” Ethereum vai gastar mais ou menos eletricidade?

A alteração mais imediata e mais relevante desta mudança de algoritmo está precisamente no consumo de energia necessário para validar Ethers. Espera-se uma redução na ordem dos 99% na energia elétrica necessária para fazer funcionar o ecossistema, porque a mineração deixa de ser remunerada e manter milhares de máquinas espalhadas pelo mundo a competir em simultâneo pela validação mais rápida de blocos deixa de fazer sentido.

Hoje calcula-se que as emissões de dióxido de carbono associadas à mineração de Ethereum estejam ao mesmo nível das de uma cidade como Singapura e que o consumo energético desta atividade seja equivalente ao da Suíça, com nove milhões de habitantes. Com a Bitcoin os números são ainda mais assustadores. Os 150 terawatts/hora gastos anualmente a minerar bitcoins são mais que o necessário para abastecer um país como a Argentina, com 45 milhões de habitantes.

Há outras mudanças previstas?

Há a expectativa de alterar outras limitações da Eterhum depois da fusão. Uma atualização prevista para o próximo ano vai abrir caminho à aceleração do número máximo de transações suportadas, o que também terá impacto nos custos associados às operações neste ecossistema. Lentidão das transações e custos são dois dos problemas da atual plataforma.

Esta mudança tem riscos de segurança para o ecossistema?

A decisão de alterar a essência de funcionamento da blockchain não é pacífica nem de efeitos previsíveis a 100% e isso pode influenciar o sucesso da operação, mas também não é imponderada. Na verdade, está nos planos dos criadores da Ether desde o início (2014), mas dada a complexidade do processo só começou realmente a ser preparada em 2020 e desde então muitos testes foram realizados para reduzir ao mínimo as possibilidades de algo correr mal. Ainda assim, os bugs são uma possibilidade real na transição. Outra possibilidade amplamente debatida é se o novo sistema facilita ou dificulta potenciais ataques.

Como explicou Jon Charbonneau, analista da Delphi Digital à News.com, no modelo atual para atacar a Ethereum alguém tinha de conseguir controlar 51% da rede, que é como quem diz, do seu poder computacional que está distribuído por milhares de máquinas em todo o mundo. Nunca aconteceu e é pouco provável que veja a acontecer pela escala e custos de um controlo dessa ordem. Por outro lado, a mesma fonte lembra que o sistema de cativações associado ao novo modelo da Ethereum também permitiria imputar uma consequência financeira direta a quem tentasse atacar a rede.

A continuidade da Ethereum está garantida?

A possibilidade dos descontentes com a concentração do novo sistema de funcionamento da Ethereum numa pool de validadores, criarem uma espécie de Ethereum alternativa existe. Há até informações que apontam para movimentações desse tipo já em marcha, mas não se prevê grande sucesso para este esforço e muito menos que a alternativa vingue em relação ao original. Para que a moeda tenha valor é preciso haver todo um ecossistema a movimentá-la e é pouco provável que os investidores e as plataformas assentes em Ethereum prefiram seguir a versão não oficial.

O que vai acontecer com a fusão?

A fusão culmina em duas grandes atualizações. A primeira já foi lançada e afetou a Beacon. A segunda está iminente. Vai afetar a camada de execução da Ethereum (proof of work) e será desencadeada pela ativação de uma variável do algoritmo durante o seu processo normal de funcionamento.
Depois da atualização é esperado que todas as aplicações e serviços assentes na blockchain funcionem normalmente, já compatíveis com as novas definições. Muitos testes foram realizados antes do dia D para que assim fosse. Uma dos elementos críticos da mudança é, por exemplo, que os diferentes programas de software usados pelos validadores atualizem corretamente, para que haja uma pool suficiente destes intervenientes disponível para continuar a validar blocos.

A Ethereum vai passar a valer mais?

A resposta não está fechada. Tudo depende, desde logo, de como vai correr o processo de atualização da blockchain. Mais à frente. Há quem acredite que esta nova versão “eco friendly” da Ether vai atrair muitos investidores, que estavam longe deste mercado por causa da pegada ambiental da mineração. Há também quem defenda que mudar a lógica da validação de blocos vai diminuir a pressão de compra e venda da moeda o que, associado às esperadas melhorias na capacidade de processar transações, terá um impacto positivo na valorização da moeda.

Assista ao vídeo partilhado pela Fundação Ethereum, onde estas e outras questões sobre a fusão são explicadas ao detalhe.

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