A nave de carga da SpaceX Dragon desacoplou-se da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) esta terça-feira e depois de cerca de 36 horas de "viagem" chegou finalmente esta madrugada à costa da Flórida. Os dados que seguiram na Dragon regressaram ao Kennedy Space Center por volta das 5h da manhã (hora de Portugal) à boleia de um helicóptero e vão ajudar os cientistas a continuarem processos de investigações realizados no espaço.
Apesar do imprevisto no início da semana que adiou a separação da Dragon à ISS devido ao mau tempo na Flórida, onde se localiza o Kennedy Space Center da NASA, tudo o resto correu como esperado. Nesta última fase, a nave da SpaceX entrou na atmosfera do planeta, ligando na altura os motores para se colocar na rota certa, e mergulhou no Oceano Atlântico, na costa da Flórida.
O mergulho não foi transmitido em direto pela NASA, nem ainda partilhado pela agência espacial ou a empresa de Elon Musk, mas na sua conta do Twitter, a SpaceX dá conta desse feito por volta das 1h28 (hora de Portugal). Seguiu-se então uma "corrida contra o tempo", para preservar os dados científicos e garantir o mínimo impacto da perda de microgravidade.
Foi num helicóptero, por volta das 4h48 (hora de Portugal), que a carga chegou ao Kennedy Space Center da NASA. O processo de entrega dos dados científicos começou pouco tempo depois, estando finalizado por volta das 7h da manhã (hora de Portugal).
Cabe agora aos cientistas do Kennedy Space Center da NASA prosseguir as investigações que os astronautas iniciaram na ISS. Certo é que a nave da SpaceX está "carregada" de riquezas científicas e outras cargas, mais precisamente com 2.358 kg, tendo o dobro da capacidade das naves anteriores.
De ratos vivos a fibra ótica: o que seguiu na nave da SpaceX
E que dados científicos é que a Dragon trouxe para Terra? Um deles é o sistema Cardinal Heart, que estuda a forma como as mudanças na gravidade afetam as células cardiovasculares aos níveis celulares e de tecido, recorrendo a tecidos cardíacos projetados em 3D. Os resultados podem levar a uma nova forma de compreensão dos problemas cardíacos na Terra, ajudar a identificar novos tratamentos e apoiar o desenvolvimento de medidas de triagem para prever o risco cardiovascular antes do voo espacial.
Uma investigação da agência espacial japonesa também regressa à Terra. O estudo analisa o crescimento de sistemas de órgãos 3D a partir de células estaminais humanas com o objetivo de compreender mudanças genéticas. Neste caso, as conclusões da investigação podem comprovar as vantagens da utilização da microgravidade para desenvolvimentos de ponta em medicina regenerativa e contribuir para o estabelecimento de tecnologias necessárias para a criação de órgãos artificiais.
Ainda na área da saúde, na cápsula da SpaceX vão também regressar ratos vivos. A investigação em causa estuda a função das artérias, veias e estruturas linfáticas do olho e mudanças na retina antes e depois de voos espaciais.
Na ISS também se produziu fibra ótica e as fibras experimentais criadas em microgravidade vão regressar à Terra. Esta "viagem" vai ajudar a verificar a viabilidade de outros estudos que sugerem que as fibras criadas no espaço podem apresentar qualidades muito superiores às produzidas na Terra.
Como foi a "viagem" da Dragon até à Flórida?
A Dragon desacoplou-se da ISS na terça-feira, 12 de janeiro, às 14h05 (hora de Lisboa), e só por volta das 00h37 da madrugada desta quinta-feira é que iniciou a sequência de reentrada na Terra. Não demorou muito tempo até mergulhar na costa da Flórida.
Clique nas imagens para ver a separação da Dragon da ISS
O regresso da nave à Terra marca o primeiro "desencaixe" de uma nave de carga comercial dos Estados Unidos do International Docking Adapter, o adaptador de sistema de ancoragem para naves espaciais da NASA. Por outro lado, este feito foi também responsável pelo primeiro regresso direto de dados científicos do espaço para os Estados Unidos desde a "reforma" do programa Space Shuttle em 2011.
De recordar que a Dragon lançou a 6 de dezembro de 2020 o foguetão SpaceX Falcon 9 na Flórida, que chegou à ISS 24 horas depois, conseguindo a "primeira ancoragem autónoma de uma nave de reabastecimento de carga comercial dos Estados Unidos". Na altura, a nave entregou mais de 2.902 kg hardware, dados de investigação e suplementos para a tripulação.
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