Entre o sonho espacial de lançar superfoguetões em direção a Marte e mais além da SpaceX há neste momento algo bastante “terrestre” pelo meio: uma estrada estreita demais para passarem tais infraestruturas ou alguns dos componentes que as formam.

Em 2013, Elon Musk olhou para um pequeno canto do Texas, perto da pacata vila de Boca Chica, e viu algo que poucos imaginaram: o futuro das viagens espaciais. Onze anos depois, Kathryn Lueders, General Manager da Starbase, da SpaceX, foi convidada do 2nd Annual Space Economy Summit para contar o desafio que foi transformar um local remoto num epicentro de inovação espacial. E não foi (ou está a ser) fácil.

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Estamos a falar de um lugar que não era tradicionalmente ligado ao espaço, longe de ser um Kennedy Space Center, com a sua infraestrutura robusta. Boca Chica é uma área tranquila, no “meio do nada”, e agora “é a casa do maior veículo espacial de todos os tempos”, onde há pouco tempo aconteceu um marco sem precedentes da engenharia espacial, com a recuperação do booster pelos "pauzinhos" da base.

A SpaceX fez questão de partilhar o momento histórico em vídeo, que pode rever a seguir.

Agora imagine construir a maior base espacial do mundo e descobrir que um dos maiores problemas é... uma estrada. Isto porque apesar da proximidade de uma autoestrada, em Boca Chica, a Starbase depende de uma pequena estrada de duas faixas para o transporte foguetões, componentes e outros suplementos de grande dimensão.

“Parece básico, mas uma simples estrada é uma artéria crítica. Estamos a trabalhar com o estado do Texas para alargá-la, mas esses desafios de infraestrutura são reais e podem ser um obstáculo para as operações das empresas espaciais”, contou Kathryn Lueders. Este é apenas um dos exemplos que ilustram como pequenos detalhes podem tornar-se barreiras inesperadas para ambições espaciais, sublinhou.

A estrada é apenas parte do problema. Boca Chica não tinha uma infraestrutura robusta para suportar as exigências de uma instalação espacial moderna. Isso significou que a SpaceX teve de investir significativamente em tudo: desde tanques criogénicos para combustíveis até sistemas de transporte e montagem.

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Embora Boca Chica fosse, à partida, uma escolha inusitada, Kathryn destacou como a SpaceX se empenhou em envolver a comunidade local. “Queremos que as pessoas sintam que os lançamentos são delas. Quando a comunidade abraça a ideia, isso cria um apoio essencial para o que fazemos”, explicou.

Nos últimos anos, a economia local cresceu exponencialmente com a chegada de novos empregos ligados à SpaceX. Kathryn partilhou que a empresa tem planos de colaborar com clientes de satélites e expandir a logística local, gerando ainda mais oportunidades. Contudo, os benefícios económicos não vieram sem desafios.

Grupos ambientais levantaram preocupações sobre o impacto das operações na fauna local, como tartarugas marinhas e aves. Além disso, a mudança trouxe perturbações para os residentes locais, desde realojamentos aos “booms” dos lançamentos.

“As empresas precisam que a comunidade adote a sua visão. Mas isso exige ouvir, colaborar e criar valor para todos”, sublinhou Kathryn.

“Agora estamos a trabalhar na eficiência”, disse Kathryn, enquanto descrevia os próximos passos da Starbase. Com a introdução de uma segunda plataforma de lançamento e a meta de aumentar a taxa de produção de Starships, a SpaceX está focada em otimizar os recursos, e não em expandir indefinidamente.

Mas mesmo com avanços tecnológicos, a base enfrenta desafios regulatórios e logísticos. Kathryn explicou como o processo de licenciamento, exportação e permissões ambientais continua a ser um quebra-cabeça.

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“Se queremos criar uma economia espacial global, precisamos simplificar estas etapas. Espaço é um empreendimento internacional e deve ser tratado como tal”, disse. Além disso, Kathryn apontou que o que funciona numa localização pode não funcionar noutra.

“Estamos todos a aprender. Este é o momento para países e empresas que estão a entrar na corrida espacial partilharem experiências e criarem uma abordagem mais unificada”, defendeu.

Quando inquirida se a Starbase era agora uma base espacial “madura”, Kathryn respondeu com humildade. “Estamos num período de aprendizagem. Cada missão é uma oportunidade de melhorar. Queremos atingir uma cadência de 12 a 15 lançamentos por ano. Mas, ao mesmo tempo, temos que equilibrar isso com demonstrações tecnológicas cruciais para as nossas próximas missões lunares e a Marte”.

Esse balanço entre avanço e precaução é fundamental. Kathryn destacou a importância de testar exaustivamente as capacidades da Starship, incluindo o retorno seguro dos estágios e o processamento de cargas úteis.

Ninguém aqui sabe exatamente o quão grande isto vai ser. Mas o que aprendemos em Boca Chica pode ajudar a próxima empresa, ou mesmo o próximo país, a realizar o seu sonho espacial”, disse, numa mensagem direta para os participantes do evento, entre os quais a Agência Espacial Portuguesa.