A vida na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) é um desafio para a saúde mental. Além da microgravidade, do confinamento e dos horários, os astronautas convivem ainda com múltiplos nasceres e pores do Sol a cada 24 horas, afetando os ciclos de sono, diretamente relacionados com o bem-estar.
São por isso vários os estudos e experiências desenvolvidos na ISS para melhorar o bem-estar das tripulações no espaço e cujas conclusões, devidamente adaptadas, podem também contribuir para uma melhor saúde mental em determinados cenários no planeta Terra, como explica a NASA.
A ESA desenvolve a investigação Circadian Light, um novo sistema de iluminação para auxiliar os astronautas a manter um ritmo diário, ou circadiano, mais normal. A agência explica que um painel LED altera automática e gradualmente o espetro de luz, que varia de dia para dia, para melhor imitar as condições naturais na Terra. O objetivo é compreender o efeito deste sistema na regulação do ritmo circadiano, no sono, no stress e no bem-estar geral dos membros da tripulação. Como habitualmente, os estudos no espaço podem ser aplicados na Terra, e neste caso, este tipo de iluminação poderá ajudar trabalhadores por turnos ou em ambientes extremos, ou remotos.
Veja na galeria, imagens de algumas das experiências realizadas a bordo da ISS:
Outra investigação da ESA, Circadian Rhythms, examinou as alterações dos ritmos diários durante um voo espacial de longa duração e os seus ciclos de luz e escuridão que não são de 24 horas. Este conhecimento poderá servir para o desenvolvimento de contramedidas para melhorar o desempenho e a saúde em futuras missões. Os ritmos circadianos podem ser acompanhados mediante o registo contínuo da temperatura corporal central e nesta investigação foi desenvolvida uma tecnologia de sensores cutâneos não invasivos para medir a temperatura durante longos períodos.
Os atrasos nas comunicações entre a Terra e outros astros, como a Lua ou Marte, serão grandes. Uma mensagem enviada da Terra para Marte leva meia hora a chegar e a resposta levará outra meia hora a voltar. A investigação Comm Delay Assessment analisou como podem esses atrasos afetar os membros da tripulação que lidam com emergências médicas ou de outra natureza. O objetivo é ajudar os psicólogos a desenvolver formas de gestão de stress na realização de tarefas críticas sem aconselhamento imediato da Terra. Por um lado, verificou-se que a estação espacial pode ser uma plataforma para testar contramedidas para atrasos nas comunicações. Po outro, confirmou-se que os atrasos nas comunicações aumentam o stress e a frustração individuais e reduzem a eficiência das tarefas e o trabalho de equipa, sugerindo que uma melhor formação, trabalho de equipa e tecnologia poderiam atenuar ou evitar estes problemas.
A investigação NeuroMapping estudou as alterações na estrutura e função do cérebro, o controlo motor e as capacidades multitarefa durante o voo espacial e mediu o tempo que os membros da tripulação demoraram a recuperar após uma missão. Entre os resultados publicados não se encontrou nenhum efeito na memória de trabalho espacial durante o voo, mas foram identificadas alterações significativas na conetividade cerebral. Outro estudo relatou aumentos substanciais no volume cerebral relacionado com a duração da missão. Os investigadores sugerem que intervalos inferiores a três anos entre missões podem não ser suficientes para uma recuperação total.
Para a investigação Journals os membros da tripulação escreveram registos diários que os investigadores analisaram para identificar questões relacionadas com o bem-estar. O estudo forneceu dados quantitativos para classificar as questões comportamentais associadas à passagem de muito tempo no espaço. Os resultados incluem informações sobre como determinados fatores afetam o desempenho humano e também recomendações para ajudar as tripulações a preparar-se para o voo espacial e melhorar a vida e o trabalho no espaço.
As tripulações da estação espacial tiram fotografias da Terra para a Crew Earth Observations (CEO). Estas imagens registam como os seres humanos e os eventos naturais alteram a Terra ao longo do tempo e apoiam uma abundante investigação em terra, incluindo estudos sobre o crescimento urbano, sistemas naturais como recifes de coral e icebergues, utilização dos solos e eventos oceânicos. Descobriu-se, entretanto, que fotografar a “casa” também melhora o bem-estar mental da tripulação, que passa muito do tempo livre a fotografar a partir da cúpula da estação.
O projeto VR Mental Care da ESA testa a utilização da tecnologia de realidade virtual (RV) para o relaxamento mental e melhoria da saúde mental geral dos astronautas durante as missões. Os membros da tripulação utilizam headsets para ver cenários de vídeo e som de alta qualidade em 360 graus e preenchem questionários sobre a experiência. Além de ajudar os astronautas, esta ferramenta poderá ser utilizada para lidar com problemas psicológicos como stress, ansiedade e perturbação de stress pós-traumático na Terra.
As investigações feitas, as técnicas apuradas e a vivência a bordo da Estação Espacial Internacional traduzem-se em inúmeros contributos, diretos e indiretos, para a humanidade. Há 25 anos, que este “laboratório em movimento” contribui para o desenvolvimento da ciência, em valências tão diferentes como saúde, ambiente, educação e tecnologia. As pequenas unidades de ultrassom, telemedicina e técnicas remotas desenvolvidas para serem aplicadas a bordo da ISS podem ser aproveitadas para tornar os cuidados médicos mais acessíveis em regiões remotas, por exemplo.
Compreender como o corpo humano reage e lida com a microgravidade é o foco de muitas das experiências realizadas a bordo da ISS pelos astronautas, nomeadamente as relacionadas com a condição física. Ao longo do tempo, a ISS tem servido de laboratório para a investigação sobre o cancro, sobre a degeneração óssea ou a atrofia muscular. Também já foi enviado para o espaço um pequeno robot criado para fazer cirurgias em microgravidade.
E, se aspira ser um turista espacial, pode ficar tranquilo, pois um estudo demostrou que os efeitos das viagens ao espaço de curta duração não são prejudiciais à saúde.
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