A maioria dos smartphones que utilizamos diariamente já atingiu um ponto de excelência no que diz respeito ao seu design. Embora a maioria das fabricantes parta de uma estrutura base transversal que não parece variar substancialmente de modelo para modelo, todas elas optam por afirmar uma identidade nos pormenores visuais dos equipamentos.
Neste processo, a resposta que se dá às questões de imagem são essenciais para construir um equipamento funcional que não peque na sua resistência e durabilidade. Em entrevista ao TEK, Joohnsuh Kim, corroborou esta ideia de dependência. Para o chefe de design do departamento móvel da Huawei, "o design não é só sobre fazer coisas bonitas, mas sobretudo funcionais".
Atualmente, esta "funcionalidade" é urgente na validade da estrutura dos telefones. Mesmo com vidros temperados e ultra resistentes, molduras metalizadas e superfícies absorventes, é inegável que os telemóveis mais modernos se quebram com mais frequência e com mais facilidade do que os seus antepassados. Em 2016, nove anos depois do evento que deu início à era dos smartphones, os equipamentos são indubitavelmente mais desenvolvidos e inteligentes. No entanto, no que diz respeito à sua durabilidade, a realidade parece ser contrária, mesmo com as várias gerações de Gorilla Glass no mercado.
Mas há esperança para além das quedas mais drásticas. Em conversa com a iPartiu, uma loja de reparações de equipamentos móveis, foi possível perceber que um ecrã partido não decreta obrigatoriamente o óbito de um telefone. E os dados da empresa, relativamente às atividades deste ano, comprovam-no. Entre janeiro e setembro, a taxa média de sucesso nas reparações efetuadas rondou os 92%, sendo que na substituição de vidros e/ou LCDs esse valor chegou mesmo aos 100%.
A quebra dos ecrãs (vidro e/ou LCD) é, de resto, um dos acidentes que ocorre com mais frequência. Seja por culpa de quedas mais abruptas, pressões exercidas sobre o equipamento ou choques térmicos mais extremos. Apesar da elevada qualidade, a "boa saúde" das telas dos nossos telefones está diariamente ameaçada por vários riscos que se podem concretizar de forma despropositada, mesmo que a excelência dos vidros de toque esteja atestada por vários especialistas.
"Consideramos plenamente que os vidros frontais dos melhores smartphones do momento são de elevada qualidade. De geração para geração, é notória a preocupação das marcas em melhorar a resistência do vidro. O material do vidro (que na realidade inclui muito mais do que apenas vidro na sua constituição) tem vindo a melhorar em termos de resistência física", disse Alberto Ferreira da iPartiu.
Em consequência, impõe-se a questão: mas se há uma resistência superior atestada e confirmada por profissionais do sector, porque se partem estes gadgets com mais frequência? Nestes casos, é comum ouvirmos comparações entre estes e os primeiros equipamentos que nos passaram pelas mãos. Os velhinhos Nokia 3310, 5210, 7650, 1100 e ademais irmãos são frutos de uma fase mais prematura da era tecnológica, mas a fama que os popularizou e marcou na história dos telefones prende-se sobretudo com a ultra resistência ao choque.
É inegável que o tempo foi bom para as tecnologias móveis, mas é também inegável que os telefones de 2016 são invariavelmente menos resistentes do que o mito da durabilidade, Nokia 3310. A justificação para isto é sobretudo estética. "É importante ter em atenção que ao mesmo tempo que a dureza dos materiais evolui, as marcas tendem a desenvolver equipamentos mais finos, mais leves e esteticamente mais apelativos", o que, consequentemente, hipoteca a resistência do vidro frontal do equipamento. Que não hajam dúvidas, no entanto, que "os materiais com que se trabalha hoje são mais resistente que os das gerações anteriores".
Para Manuel Ferreira, country manager da Wiko para Portugal, a utilização mais frequente dos smartphones é também uma das variáveis que justifica este aumento nas quebras. "Os smartphones são utilizados cada vez mais e para uma maior quantidade de funções, daí que o risco de quedas e danos também aumente", explicou o responsável em conversa com o TEK.
Mergulhos também não estão "autorizados", a menos que tenha braçadeiras... ou IP68
Mas enquanto as quebras e as amolgadelas são mazelas facilmente reparáveis, outros acidentes, menos frequentes, figuram outro desafio para quem se encarrega de os tratar.
Para a iPartiu, os danos na motherboard são o maior inimigo de uma reparação bem sucedida. Dos pedidos submetidos neste âmbito, 72% deles foram impossíveis de arranjar. Os telefones com danos causados por água foram reparados em 78% das ocasiões, figurando como a segunda maior causa para o insucesso de uma reparação. A inexistência de peças no mercado, por sua vez, impossibilitou 2% das reabilitações.
Deste grupo, um dos problemas está a suprimir-se com proteções resistentes à água e poeiras, reduzindo o número de reparações necessárias por submersão - o terceiro acidente mais comum (11%) de acordo com a votação realizada no TEK, mas que poderá ficar no passado graças aos certificados IP68. De acordo com Alberto Ferreira, nunca um equipamento certificado chegou aos laboratórios da empresa com problemas de infiltração.
Mas há também que ter em conta o cuidado dado pelos utilizadores na utilização dos seus equipamentos.
A Alcatel e a Huawei, por exemplo, duas das marcas de smartphones mais bem sucedidas no mercado português, mostram preocupação neste aspecto. Na caixa dos últimos equipamentos lançados, ambas as fabricantes introduziram uma capa protectora e uma película, uma "moda" (dadas as derivantes coloridas e funcionais) que vários estudos mostram ser eficientes na prevenção de males maiores.
De acordo com um inquérito realizado pela NPD, um em cada quatro detentores de um telemóvel utilizava, em 2013, uma capa protetora. Um número reduzido que leva Alberto Ferreira a considerar que, com base na sua amostragem de clientes, "não existe muito cuidado com os equipamentos".
Mais uma vez, a experiência da iPartiu corrobora: "uma grande parte dos nossos clientes cujo vidro do seu smartphone se partiu, admite que não usa qualquer proteção".
Neste sentido, as capas não são apenas essenciais para proteger os equipamentos do acaso e do descuido dos donos. "Do feedback que vamos obtendo, há um grande número de quebras causadas por crianças cujo smartphone foi emprestado por um adulto", disse o responsável, concluindo que "apenas cerca de 10% dos equipamentos que nos chegam, vêm com aspecto de novo ou semi novo". O resto "vem sempre com riscos, mossas ou amolgadelas nas esquinas, demonstrando que o equipamento tem vindo a ser sujeito a várias quedas".
Relações intensas mas com desgaste rápido
Queixas à parte, há que sublinhar uma mudança substancial: "ao longo dos últimos anos os utilizadores passam mais tempo com os smartphones. Estes são manuseados por crianças, sujeitos a várias quedas e pressões exteriores. É a resistência elevada dos vidros que permite, mesmo assim, que o número de vidros partidos corresponda a uma 'pequena' percentagem em relação aos equipamentos vendidos".
Num inquérito realizado pelo TEK aos seus leitores, as respostas confirmaram que são as mazelas consequentes das quedas e dos riscos, que mais fustigaram os seus equipamentos.
Com vista à elaboração de outro ranking, questionámos várias lojas de reparações acerca das marcas que mais vezes recebiam em laboratório para arranjo. No entanto, as causas apresentadas e os desiquilíbrios no volume de vendas de cada um dos telefones em circulação, retiram pertinência ao mesmo.
Das respostas que obtivemos destacaram-se a Apple, a Samsung e a BQ, mas, como notou Alexandre Ferreira, o facto de haver mais iPhones e Samsungs em circulação, acaba por enviesar os resultados. De resto, é também de sublinhar que os telefones mais vezes recebidos para reparação são, ou já foram, topos de gama, o que afasta outras marcas dos laboratórios e naturalmente se justifica pelo preço dispendido no equipamento, já que os telemóveis mais baratos podem não justificar o preço da reparação.
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