Quando pensamos num exorcista, a imagem que vem à cabeça é a de um padre com um crucifixo na mão e uma bíblia na outra. É preciso atualizar para os tempos modernos, em que apenas precisa de um iPhone. Ou pelo menos é este o caso de Devil’s Purge, o mais recente jogo de realidade aumentada do estúdio/startup português Ontop Studios.
A propósito da nova atualização de Devil’s Purge, o SAPO TEK falou com Nuno Folhadela, CEO da Ontop Studios para conhecer também os novos projetos, incluindo uma recém-assinada parceria com a Niantic, o conhecido estúdio de tecnologia de geolocalização. Explica que desde 2019 mantém conversas com estúdio de Pokémon Go, com muitos projetos que eram para acontecer, mas nunca se concretizaram.
Tudo mudou no final de 2024, com a concretização de um acordo, mas ainda não existe um lançamento oficial anunciado. “A Niantic não se vê como uma empresa de videojogos, mas sim uma plataforma com geolocalização, tudo baseado em web, em realidade aumentada, e não só”, aponta Nuno Folhadela. A Ontop tem um roadmap de lançamento de projetos que foi entregue à Niantic e que já estão prontos.
O mentor do estúdio explicou ao SAPO TEK que o primeiro projeto explora a tecnologia de reconhecimento facial num jogo cooperativo. A ideia é pegar no conceito de aplicações como o Lens do Snapchat, que coloca máscaras, chapéus e outros filtros no utilizador para captar selfies engraçadas. No jogo, terá de encontrar um extraterrestre que se apoderou do rosto do jogador. O jogo em questão está em projeto e vai ser lançado na plataforma Niantic Arcade, um HUB com vários jogos web para browser, mas baseado em realidade aumentada.
Veja na galeria imagens do Devil’s Purge:
“O mercado das apps stores está saturado. É difícil lançar um jogo e ter visibilidade. Estão a caminhar para experiências web, que é o que a Niantic está a fazer com a nova plataforma, que pode ser de realidade aumentada ou não”, aponta Nuno Folhadela. Mas para o estúdio, a realidade aumentada é a alma da equipa. “Garantidamente que o AR se vai tornar mass market, é um processo natural e não há outra forma de ver as coisas. Ter um tijolo no bolso não faz sentido, faz sim ter uma experiência gráfica bem à frente dos olhos, através de óculos”.
Para chegar às massas, destaca, existem muitos desafios, entre os quais a adesão dos consumidores. Mas também aponta que está a fazer-se muita coisa ao mesmo tempo.
E Nuno Folhadela não poupa críticas à estratégia da Apple, referindo que seria “mais inteligente lançarem uns óculos mais leves, semelhante aos Spetacles da Meta, uma espécie de iPod em relação aos óculos de realidade aumentada”.
Na perspectiva de Nuno Folhadela, a Apple acabou por “criar um computador fascinante para processar tudo e mais alguma coisa, sejam jogos à consulta do email”. Na sua opinião, a Apple devia ter dado diferentes passos, em vez que querer revolucionar tudo no mesmo equipamento.
O mentor da Ontop diz que a realidade aumentada permite fazer acontecer aquilo que temos na imaginação, seja um dragão que surge para defrontar com amigos ou tesouros para encontrar numa cidade. “Primeiro estranha-se, mas depois entranha-se. Já existe tanta competição pela atenção dos utilizadores, sejam filmes ou jogos. A Niantic vai ajudar a divulgar outras experiências e abrir portas a developers com grande qualidade num portal que garante maior visibilidade”.
Recentemente, a equipa esteve a trabalhar num projeto interno para experimentar os Vision Pro da Apple. Foi uma “brincadeira” entre a equipa para perceber como funciona o equipamento, que o mentor do estúdio diz ser impressionante. Mas também salienta a nova atualização do jogo, onde foram adicionadas novas bandas nacionais, como os Tales of Unspoken e Avesso.
Veja a demonstração feita para os Vision Pro:
Nuno Folhadela diz que o arranque de Devil’s Purge, como jogo premium, correu bem, tendo chegado ao Top 3 de apps pagas, mas agora com a estabilização das vendas vai tentar uma nova abordagem. Em vez de uma demo, o jogo está agora disponível de forma gratuita para os primeiros nove níveis, e depois é preciso comprar o resto. Dá como exemplo o DOOM, que nasceu exatamente com este conceito, tendo recebido esse conselho do seu cocriador John Romero, numa visita recente a Lisboa.
O posicionamento do estúdio pretende ser um pouco diferente da habitual abordagem ao mercado de jogos para smartphones. No pensamento de Nuno Folhadela, os jogadores e PC e de consolas tradicionais andam com um smartphone no bolso. É para esses jogadores hardcore, que acabam por ser de nicho, que pretende oferecer jogos, notando-se nos valores de produção de Devil’s Purge, que apresenta gráficos detalhados e ação refinada, mesmo sendo elementos de realidade aumentada, como o SAPO TEK teve oportunidade de experimentar.
Inicialmente parece ser um jogo de miras, mas é preciso encontrar os pontos fracos dos inimigos e bosses para causar dano e isso só se consegue quando se muda de perspectiva. Por isso, há que se mexer para se posicionar.
E por falar em mexer, Nuno Folhadela diz que a empresa nunca está parada, mas sempre a desenvolver a sua Propriedade Intelectual própria ou a criar parcerias para projetos. “Somos uma startup, estamos sempre a criar nova tecnologias, sobretudo mais formas de jogar de forma disruptiva, para ajudar a abrir o mercado”, acrescentando que criam diferentes tipos de experiências para diferentes géneros de jogadores.
Com Devil’s Purge pretende encontrar uma comunidade própria e fazê-la crescer. E mais uma vez cita DOOM, em que a primeira versão era um jogo de nicho, mas a sequela tornou-se mass market.
Por outro lado, junta-se aos jogadores que preferem os chamados “boomer shooters” no PC e consolas, mas que olham com desdém o mercado mobile pela inundação de jogos free to play e que são “cash grabs”, ou sejam, tentam extorquir o máximo de dinheiro aos jogadores com as suas mecânicas e micro-transações.
O estúdio pretende com Devil’s Purge mostrar que existem títulos únicos que podem ser jogados no smartphone, com uma componente madura e hardcore. E a geolocalização permite adicionar mecânicas únicas nos seus jogos. Por outro lado, sente que a realidade virtual está a dar origem aos mesmos jogos de antigamente, mas com uma nova perspectiva, excetuando alguns poucos exemplos.
Em sete anos Ontop produziu 20 jogos de realidade aumentada
Ao longo dos últimos sete anos, foram criados cerca de 20 jogos para smartphones, todos eles baseados em realidade virtual, entre propostas originais ou projetos criados para clientes. O estúdio procura sempre adicionar um elemento inovador nos seus títulos, mas sobretudo, a capacidade de mobilizar as pessoas a saírem para a rua para jogarem com elementos baseados em geolocalização, enquanto fazem exercício.
Na lista de lançamentos conta com alguns projetos que o SAPO TEK tem vindo a acompanhar, entre eles Heróis da Fruta, que ensina boas práticas da alimentação e claro, a sair do sofá; o ARcade Sports procura explorar o conceito de desportos em realidade virtual, que teve direito a uma arena física instalada em centros comerciais; o New Fantasy propõe caçar monstros que podem surgir em qualquer lado durante os passeios.
No meio dos seus projetos originais, o estúdio português teve a oportunidade de criar uma adaptação de Ghostbusters para a Sony, Ghostbusters: Afterlife ScARe. Jogos que lhe valeram nomeações para os prémios Auggie Awards, uma espécie de Óscares para a realidade aumentada.
Veja o vídeo do ARcade Sports:
Voltando a Devil’s Purge, depois de um lançamento em outubro do ano passado exclusivo para iOS, a Ontop alterou hoje o modelo de negócio do jogo, tornando-o gratuito para os primeiros níveis, a acompanhar a adição de 12 novas músicas de heavy metal. Neste título, que se assume como um jogo de “ação extravaganza”, utiliza a câmara do smartphone para detetar demónios que povoam o mundo real. O jogador assume o papel um exorcista que tem de seguir os comandos de deus para eliminar as aberrações demoníacas.
O jogo segue elementos de roguelike, por isso, sempre que morre terá de aprender com esses erros, tornando-se mais poderoso quando se encontra com Jesus Cristo, aqui o mestre da ressurreição. Mas tal como os anteriores títulos da Ontop, há um twist na jogabilidade assente na geolocalização. O jogo convida a ir para a rua e procurar uma igreja real, se entrar no interior vai obter bênçãos de anjos como Miguel, Rafael e Gabriel, que dão boosts à personagem.
Nas novidades da nova versão, para além do acesso gratuito aos primeiros nove níveis, sendo que o jogo completo custa 2,99 euros, o estúdio adicionou 12 novos temas de heavy metal, todos eles de bandas portuguesas.
- Avesso: Deus Cão, Tristeza não é derrota
- Last Piss Before Death: Devils Road
- Mau Olhado: O Beijo de Satanas
- Temple: Nation of fire
- Visceral: Horror Flower
- Men Eater: Multitude, Mortice
- Earth Drive: Light Codes
- Black Hill Cove: Release the Pressure, Carry On
- Fonte: Alquimista
- Zero Massive: Fire Underwater, 8 Stones
- Tales for the Unspoken: Reckless, CO2
Os jogadores podem ainda criar a sua build para o início de uma nova sessão de jogo, utilizando os recursos obtidos em anteriores partidas. As bênçãos dos anjos podem ser misturadas mediante a estratégia pessoal de cada um.
É possível fazer o download de Devil’s Purge para iOS.
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