Entre cursos, bootcamps e programas de formação em TIC, o leque de opções de reconversão de carreira para o mundo tecnológico é vasto. As elevadas taxas de empregabilidade, salários a condizer e as possibilidades de progressão na carreira são fatores apelativos, mas será que é tudo assim tão simples quanto parece?
Para perceber como é arriscar e aproveitar as novas oportunidades de mudança de vida para o mundo tecnológico, assim como que desafios existem ao longo do processo, o SAPO TEK falou com vários ex-alunos de cursos tecnológicos, vindos de backgrounds tão diferentes quanto hotelaria, marketing, biologia ou engenharia civil.
“Eu sentia que precisava de uma mudança”, conta Cátia Falagueira. Antes de ingressar no bootcamp de Web Development na Le Wagon, Cátia trabalhava como Visual Merchandiser para uma marca de roupa, numa empresa onde já estava há cerca de 12 anos e meio.
“Durante este tempo tive a oportunidade de tirar uma licenciatura, uma pós-graduação e um mestrado, mas nunca fui trabalhar para a minha área académica, porque me mantive sempre naquela zona de conforto onde estava no trabalho. Percebi que, onde estava, não me era possível evoluir mais”, relembra Cátia Falagueira.
Tal como Cátia, Maria do Rosário, que completou um bootcamp de Cybersecurity na Ironhack, sentia uma necessidade de mudança a nível profissional. “Eu trabalhava em hotelaria, numa empresa marítimo-turística e, entretanto, senti que tinha estagnado”.
Já para Anaísa Silva, que antes de ingressar no bootcamp de Data Science na Le Wagon era bióloga marinha, a falta de estabilidade da área onde trabalhava e a dificuldade em conciliar a vida pessoal com a profissional levaram-na a partir em busca de novas oportunidades, tendo em vista algo onde se sentisse mais realizada.
Como explica, é difícil de manter um trajeto estável na área da investigação em Portugal e, quando alterou o seu trajeto para a área industrial, esteve a trabalhar numa empresa de aquacultura. “Sentia que não estava a evoluir da forma como queria. A maior parte da minha vida fui atrás de empregos que não eram num sítio onde queria e a minha vida pessoal estava sempre a ser posta de parte”, reconta.
Com a pandemia de COVID-19 muitas pessoas, sobretudo de setores mais afetados, viram nos bootcamps e programas de formação tecnológica uma oportunidade para mudarem de vida.
“Vimo-nos todos trancados em casa de um momento para o outro e a hotelaria foi uma indústria muito afetada”, conta Tomás Aragão, que trabalhava num hotel como agente de reservas, marketing e vendas antes de ingressar no bootcamp de UX/UI Design na Ironhack. “Queria novas oportunidades para evoluir, queria também me desafiar a mim mesmo, porque já estava há seis anos no mesmo sítio e a pandemia foi o timing perfeito para isso”.
Os desafios de "mergulhar" a fundo no mundo da tecnologia
Intensa, mas gratificante: é assim que os ex-alunos com quem falámos descrevem a sua experiência nos cursos em que participaram. “Eu fiz um bootcamp em nove semanas e no papel parece tudo bonito, mas foram nove semanas muito intensas”, afirma Ana Correia, que ingressou no bootcamp de Web Development na Ironhack depois da pandemia a ter levado a refletir se a área de engenharia civil, a qual tinha estudado no Instituto Superior Técnico, faria realmente sentido para si.
Para quem vem de um background completamente diferente, “mergulhar” a fundo no mundo da tecnologia em apenas nove semanas é verdadeiramente desafiante e o processo de adaptação a novos ritmos e formas de pensar requer uma mudança de mentalidade.
“É preciso ter uma mente muito aberta: ter a noção que vamos aprender imenso, mas também ter abertura para aprender”, afirma Anaísa Silva.
Os primeiros passos são sempre difíceis, mas, como detalha a ex-aluna do bootcamp de Web Development, o caminho não se faz sozinho e, no caso da Le Wagon, o sistema de “buddies” ajudou-a a entrar no ritmo, permitindo-lhe trabalhar e aprender com outras pessoas de vários níveis de experiência.
Apesar das dificuldades, a abordagem de ensino mais “hands on” e a possibilidade de ganharem as bases e ferramentas necessárias para continuarem a construir o seu futuro é apontada pelos ex-alunos como uma vantagem.
“Acima de tudo foi muito melhor do que estava à espera”, afirma Tomás Aragão, que destaca o equilíbrio entre a parte teórica e a parte prática. “Até no próprio momento de avaliação não há notas, ou seja, acaba por tirar parte da pressão e acabamos por absorver ao máximo o conteúdo que é lecionado e tentamos aprender de uma melhor forma”.
A intensidade é também algo que faz parte das experiências de quem participou no UPskill. “Tivemos acesso a muitos materiais que nos alargaram os horizontes acerca do que é trabalhar com informática e acima de tudo havia uma noção muito forte de que se estariam a formar profissionais para descobrir qual seria a capacidade que teríamos para aprender coisas a vida toda”, enfatiza Tiago Fonseca.
O ex-aluno conta que os cursos do programa funcionam também em parte como uma “triagem”, permitindo perceber quem está preparado para “lidar com um mundo em constante transformação”. “É necessário dedicação completa”, sublinha
Como é enfrentar um novo mercado de trabalho?
Com o curso terminado, enfrentar o mercado de trabalho pode ser algo “assustador”, sobretudo quando se está numa nova área, realça Maria do Rosário. “De repente, passado três meses, estamos a entrar no mundo do trabalho e a tentar provar às pessoas que estamos aqui para aprender e estamos prontos”.
“Há sempre uma parte de nós que acha que não somos bons o suficiente e que questiona o facto de como é que com um curso de nove semanas vamos conseguir estar ao mesmo nível da concorrência”, admite Tomás Aragão.
Embora confesse que no início não acreditava tanto em si, o ex-aluno afirma que, olhando para trás, sente que todas as competências que adquiriu no curso “foram mais do que suficientes” para fazer face às exigências do seu novo trabalho.
Há também todo um trabalho de preparação por parte das escolas para apoiar os alunos que terminam os cursos, ajudando-os a prepararem os seus currículos, a adaptarem os seus perfis no LinkedIn e a saberem como estabelecer contactos que lhes podem abrir a porta a uma nova carreira na área em que se formaram.
“O facto de eu poder ter alguém com quem posso analisar o meu currículo e perceber como melhor posso contar o meu percurso é uma mais valia”, sublinha Tomás Aragão. Cátia Falagueira também destaca o apoio que recebeu depois de finalizar o curso e que, em parte, ajuda a fazer face à “exaustão da procura de trabalho”.
Apesar das diferenças entre as suas experiências depois de terminarem os cursos, os ex-alunos conseguiram encontrar emprego na área da tecnologia num prazo de um a dois meses, ou até numa questão de semanas. “Enquanto bióloga tinha estado seis meses a mandar currículos e não tinha recebido nada. É uma grande diferença nesta área”, explica Anaísa Silva.
“Agora em relação ao emprego em si, é um dia de cada vez”, admite a ex-aluna. “Por vezes sentimos que não sabemos o suficiente e questionamo-nos «porque é que eu fiz uma mudança tão grande quando era mais confortável para mim [ficar onde estava antes]?». Mas, no final do dia, vale sempre a pena”.
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