Por Hugo Jorge (*)

Quantas “vidas” pode ter um telemóvel? E um frigorífico? E um televisor? Todos estes equipamentos podem ter as “vidas” que lhe quisermos dar, pois uma vez obsoleto ou danificado um equipamento elétrico ou eletrónico não tem de ser, para sempre, um objeto inútil, a ocupar espaço dentro de uma gaveta ou arrecadação. O seu fim “natural” deve ser o encaminhamento para a reciclagem, depositando-o nos locais próprios para o efeito para que “mãos” experientes e sabedoras do seu desmantelamento o possam “decompor”, separar e reconduzir a uma nova vida.

Só com esta atitude perante os “nossos monos” elétricos e eletrónicos poderemos contribuir para o lixo eletrónico não seja atualmente um grave problema de gestão de resíduos a nível mundial. E os número não enganam: Em 2025 a população mundial deverá gerar 53,9 milhões de toneladas de resíduos eletrónicos por ano, caso se mantenha o atual crescimento na ordem dos 3% ao ano. Segundo estimativas das Nações Unidas, em 2016, foram produzidas 44,5 milhões de toneladas de REEE em todo o planeta, tendo o volume de lixo eletrónico aumentado globalmente 8% em apenas dois anos, entre 2014 e 2016. No caso da Europa, a percentagem de resíduos recolhidos é de 35% de 12,3 milhões de toneladas produzidas e em Portugal foram recolhidas em 2017 aproximadamente 63 mil toneladas de REEE.

Second life

Milhões, percentagens, quilos e mais quilos de e-waste que poderiam ter uma segunda-vida, um novo destino, mas que na sua grande maioria (cerca de 60%)  acaba em aterros, contaminando os solos, poluindo o ambiente. Situação que é particularmente preocupante quando se sabe já que quando devidamente tratados, a maior parte dos componentes utilizados nos equipamentos elétricos e eletrónicos (plástico, metal e vidro) podem ser reaproveitada e transformada em  matérias primas secundárias e incorporadas no processo de fabrico de novos produtos. Apesar desta certeza, do volume total de lixo eletrónico produzido mundialmente sabe-se que apenas 15 a 20% é reciclado.

Atenta a esta realidade, e preocupada com o impacto que este lixo eletrónico tem na vida de todos e de cada um de nós, a LG passou das palavras aos atos e acredita que a tecnologia pode ser sustentável mesmo num mundo dominado pelo consumo de gadgets digitais, cujo crescimento desenfreado é totalmente proporcional aos resíduos produzidos.

Foi com esta convicção que, no âmbito da sua estratégia de sustentabilidade, a LG Electronics passou a oferecer, por exemplo, um serviço personalizado de devolução e reciclagem de resíduos eletrónicos através da qual na venda de um novo equipamento existe a obrigatoriedade legal de aceitar, sem qualquer custo adicional para o cidadão, um equipamento descartado, concretizando a premissa de “troca do velho pelo novo”.

Eco Design: da criação ao desmantelamento

A montante,  a LG implementou há já algum tempo uma forte política de eco design a nível mundial que pressupõe um processo de montagem para os seus televisores que é executado de forma a que o desmantelamento permita a reciclagem de grande parte dos componentes, pois desde que devidamente tratado acreditamos que o lixo eletrónico é quase 100% reciclável.

Mas nem só de inovações ao nível dos equipamentos, e da sua potencial reciclagem, se faz a preocupação da LG com o impacto dos seus produtos e atividade no ambiente. Na LG o desenvolvimento das embalagens é avaliado tendo em conta o cumprimento de 22 pontos-chave, tais como a redução do volume e peso, a otimização da eficiência logística e o uso mínimo de substâncias perigosas de forma a minimizar os seus efeitos ambientais. Em complemento, foi introduzida em 2012 uma diretriz para o design de Embalagens Verdes para televisores e smartphones a que se juntaram, no ano seguinte, orientações específicas para outras gamas de produtos como computadores, frigoríficos, máquinas de lavar e aspiradores.

e-Waste Summit: Tecnologia Sustentável na Era Digital

E para além das inovações, das medidas adotadas para minimizar a sua pegada ambiental e do desenvolvimento de equipamentos com uma cada vez maior eficiência energética e taxa de reciclagem, a LG quis desafiar a sociedade a repensar a sua atitude perante o lixo eletrónico, a sua reciclagem e os efeitos que a inação de grande parte dos portugueses tem no ambiente através do “e-Waste Summit |Tecnologia Sustentável na Era Digital”.

Neste encontro, que reuniu, no dia 22 de maio, em Lisboa, pela primeira vez, vários especialistas na matéria, mas também académicos, ambientalistas, setor empresarial e decisores políticos como o secretário de Estado do Ambiente, pretendeu-se contribuir para uma análise do panorama português no que respeita à gestão dos Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos – REEE mas também partilhar as nossas melhores práticas, inovações e projetos nesta matéria e projetar soluções que permitam colocar Portugal nos lugares cimeiros da valorização e reciclagem do chamado lixo eletrónico.

Entre as várias apresentações realizadas durante o dia, destacaram-se alguns dados que nos devem fazer pensar nas nossas atitudes e ações enquanto empresas e cidadãos. Numa investigação realizada em Portugal sobre o destino dado a smartphones e tablets em fim de vida 45% dos inquiridos afirmam que guardam os dispositivos obsoletos, ainda que funcionais. Os equipamentos avariados são também guardados pelos utilizadores, em 36% dos casos. Esta propensão para manter e guardar, em vez de encaminhar estes resíduos com vista à sua valorização, salvaguardando o ambiente, foi uma das conclusões do estudo apresentado durante a primeira e-Waste Summit, onde também se falou sobre economia digital e a importância de promover e sensibilizar a população para a promoção da economia circular como forma de melhorar o aproveitamento dos recursos naturais, reciclando os resíduos provenientes do ciclo de produção e assegurando, ao mesmo tempo, a maior recolha possível dos dispositivos eletrónicos em fim de vida.

Este momento de debate, que surgiu da união de esforços entre a LG Electronics Portugal e a ERP Portugal  para consciencializar os portugueses para a importância de neutralizar algumas das principais ameaças ambientais, entre as quais se insere o “lixo eletrónico”, é apenas uma das iniciativas que estas duas entidades vão levar a cabo até ao final do ano.

Um momento. Uma iniciativa. Mas um projeto muito mais vasto que surge no âmbito da estratégia de Responsabilidade Social e Corporativa da LG Eletronics, cujo principal objetivo é a criação de um sistema de gestão e um portfolio que assegurem um ambiente melhor, contribuindo para que as comunidades onde operamos tenham uma vida melhor, tanto a nível social como ambiental, e para que os telemóveis, frigoríficos e televisores “saiam” das gavetas e arrecadações ganhando tantas vidas quantas as que lhe quisermos dar.

(*) Diretor de Marketing da LG Portugal