Por Nuno Ruivo (*) 

De acordo com o relatório Ascendant, um dos principais motivos que atrasa a adoção da Inteligência Artificial (IA) pelas empresas em Portugal está relacionado com a falta de um plano de estratégico de IA, alinhado com o plano estratégico da organização. Atualmente, apenas 10% das empresas, a nível global, tem um plano de IA totalmente integrado nas suas estratégias, de acordo com o relatório realizado pela Minsait.

Neste sentido, torna-se muito relevante poder contar com uma estratégia de adoção e desenvolvimento de IA na empresa, o que representa responder a três simples questões:

A primeira é o “quê”. Isto é, definir as áreas ou combinação de áreas às quais os sistemas de Inteligência Artificial devem ser aplicados de forma prioritária: será a eficiência de processos, a melhoria da experiência do cliente, as mudanças no modelo de negócio, o desenvolvimento de novos produtos e serviços? Naturalmente, esta é uma decisão que não pode ser dissociada da estratégia da empresa e que deve basear-se numa reflexão sobre o principal diferencial de valor e vantagem competitiva da empresa: a eficiência e custos, a inovação, ou a experiência do cliente?

A segunda é “quando”. Qual é o tempo de evolução e, portanto, o plano para a implementação da IA na empresa? O quando não é um elemento secundário se considerarmos que a velocidade de evolução destas tecnologias é muito mais rápida do que as anteriores ondas de digitalização, mas também que o nível de maturidade das soluções verticais de IA, em muitos casos, ainda está na sua infância.

A terceira questão é o “como”. Ou seja: como integrar a Inteligência Artificial na empresa, para que impacte todas as áreas-chave. Ou, dito de outra forma, quais são as alavancas e facilitadores, como organização, tecnologia e investimento, que vão impulsionar esta adoção?

No que se refere à organização, é muito relevante que as empresas tenham a capacidade de acelerar as suas mudanças internas, realizar a revisão e eventual adaptação de processos, funções e responsabilidades. Em paralelo, é importante assegurar a formação das equipas internas, assegurando a capacitação e sensibilização das pessoas para esta área tecnológica, e simultaneamente, ajustando a cultura da empresa, das pessoas e dos processos, a este novo paradigma.

Um outro facilitador, igualmente importante, é a tecnologia. É necessário assegurar que a componente tecnológica é pensada e estruturada para suportar estes novos ativos. É de extrema relevância consolidar não só a infraestrutura, mas também definir a arquitetura de suporta à IA, de forma a garantir uma escalabilidade, flexibilidade e capacidade para endereçar os desafios atuais, endereçando todos os temas de segurança, monitorização e de integração com os restantes sistemas aplicacionais já existentes. Segundo dados do nosso relatório, 65% das empresas afirma não possuir infraestrutura tecnológica adequada para enfrentar os desafios da Inteligência Artificial, nem capacidade interna para realizar estas tarefas.

Em forma de resumo, é importante que as empresas em Portugal consigam acelerar a implementação de sistemas de Inteligência Artificial para se manterem competitivas, e esta competitividade só pode ser conseguida se a IA for realizada de uma forma estruturada, e vista como parte da estratégia das empresas e não como iniciativas isoladas.

Apesar de esta democratização na utilização da IA ter pouco tempo de existência, já é possível confirmar que o potencial da IA é imenso, e pode apoiar as empresas em muitos eixos. Dados do estudo Ascendant revelam que, em Portugal, a IA está a ser utilizada para obtenção de maiores eficiências operacionais e redução de custos (72%), no apoio à tomada de decisão (34%), na melhoria da experiencia do utilizador (interno e externo) (31%), mas também na criação de novos produtos ou serviços (16%). Ainda temos um caminho a percorrer!

(*) Responsável da unidade de Inteligência Artificial da Minsait, uma empresa da Indra, em Portugal