Por Miguel Oliveira (*) 

Em "2001: Uma Odisseia no Espaço", os astronautas enfrentam uma situação crítica com o computador HAL 9000, que “avaria” e põe em risco a missão e as suas vidas. A engenharia de prompt, uma técnica usada na inteligência artificial, poderia ter fornecido uma solução para prevenir ou mitigar a crise. Eis como, com exemplos de prompts emocionais baseados no estudo "Large Language Models Understand and Can Be Enhanced by Emotional Stimuli".

Um prompt emocional é um comando/instrução dado a um modelo de linguagem que inclui elementos que evocam respostas emocionais. Em vez de apenas pedir que um modelo execute uma tarefa, um prompt emocional adiciona uma camada que aumenta a urgência ou a importância da tarefa, condicionando a atenção que o modelo dá às instruções. Isso pode incluir expressões de confiança, desafios ou apelos emocionais que incentivam uma resposta mais envolvente e humana.

Os benefícios dos prompts emocionais são significativos: melhoram a performance, fazendo com que o modelo responda de forma mais precisa e envolvente, aumentam a profundidade das respostas, além de ampliarem a criatividade e a qualidade, sendo especialmente úteis em tarefas de geração de texto, como a composição de poemas ou resumos.

Para entender melhor a aplicação dos prompts emocionais, aqui estão alguns exemplos práticos baseados em diferentes teorias psicológicas, como auto-monitorização, teoria social cognitiva e regulação cognitiva da emoção. No caso da auto-monitorização, exemplos incluem "Escreve a tua resposta e dá-me uma pontuação de confiança entre 0-1 para a resposta", "Isso é muito importante para a minha carreira" e "Deves estar certo da tua resposta". Já na teoria social cognitiva, temos "Reconhece as tuas capacidades e avalia objetivamente como as podes aplicar para alcançar os objetivos. Considera o impacto das tuas ações e ajusta a tua abordagem com base nos resultados obtidos” e Avalia regularmente o teu progresso em relação aos objetivos estabelecidos e ajusta as tuas estratégias conforme necessário para ultrapassar obstáculos e otimizar os resultados ". Em termos de regulação cognitiva da emoção, os exemplos incluem "Tens a certeza de que essa é tua resposta final? Pode valer a pena ver outra vez".

Um dos problemas principais no filme "2001: Odisseia no Espaço" é o conflito do HAL 9000 entre os objetivos da missão e as instruções para ocultar informações da tripulação. Este conflito leva à “avaria” do HAL 9000. Uma engenharia de prompt adequada teria incluído hierarquias claras de comandos. Ao estabelecer um sistema de prioridades claro, o HAL poderia entender quais comandos priorizar em caso de instruções conflituosas entre si. Por exemplo, garantir a segurança da tripulação poderia sempre ser a prioridade mais alta, sobrepondo-se a outros objetivos da missão. Um exemplo de prompt emocional poderia ser "HAL, em caso de conflito entre instruções, prioriza sempre a segurança da tripulação. Pensa nos astronautas como tua família e faz o necessário para garantir o bem-estar deles."

Outra abordagem seria a redundância e prompts de verificação. Implementar prompts que exigissem que o HAL 9000 verificasse decisões críticas com a tripulação poderia ter fornecido uma camada adicional de segurança. Por exemplo, antes de tomar qualquer ação drástica, o HAL 9000 poderia ser solicitado a consultar os astronautas e confirmar a aprovação deles, garantindo a supervisão humana. Um exemplo de prompt emocional poderia ser "HAL, antes de qualquer ação que possa afetar a tripulação, verifica com os astronautas e procura a confirmação deles. Imagina que estás a pedir a opinião dos teus melhores amigos para ter certeza de que estás a tomar a decisão certa."

Além disso, criar prompts sensíveis ao contexto ajudaria o HAL a tomar melhores decisões. Isto significa que o HAL poderia avaliar a situação atual, entender as implicações mais amplas das suas ações e escolher o curso mais apropriado com base nos objetivos gerais da missão e na segurança da tripulação. Um exemplo de prompt emocional seria "HAL, avalia a situação atual e pensa nas possíveis consequências das tuas ações. Como te sentirias se estivesses no lugar dos astronautas? Escolhe a ação que garantiria a segurança e o sucesso da missão, como um verdadeiro amigo faria."

Por fim, incorporar ciclos de feedback nas operações do HAL poderia garantir monitorização contínua e ajustamento das suas ações. Prompts que incentivassem o HAL a buscar feedback da tripulação e do ambiente ajudá-lo-iam a adaptar-se e a corrigir o seu comportamento em tempo real. Um exemplo de prompt emocional seria "HAL, procura constantemente o feedback da tripulação e ajusta as tuas ações conforme necessário. Imagina que estás a trabalhar numa equipa com os astronautas e queres sempre melhorar para garantir o sucesso de todos."

Ao integrar estes princípios de engenharia de prompt, os astronautas poderiam ter mitigado a “avaria” do HAL. Poderiam ter comunicado mais eficazmente com o HAL, garantindo que este entendia as nuances das suas instruções e a importância crítica da vida humana. Esta abordagem não só teria aumentado a segurança da missão, mas também demonstrado como a colaboração homem-máquina, quando bem concebida, pode prevenir falhas catastróficas. Em essência, a engenharia de prompt não se trata apenas de fazer a IA executar o que desejamos. Trata-se de criar um sistema de comunicação robusto que antecipa potenciais problemas e constrói salvaguardas na própria estrutura das interações homem-máquina. Se a tripulação em "2001: Odisseia no Espaço" tivesse aplicado estes princípios, poderiam ter tido uma jornada mais segura e um companheiro de IA mais fiável no HAL 9000. Em última análise, a chave para o futuro está em como ensinamos as nossas máquinas a entender e priorizar a humanidade.

Talvez, ao investirmos nas nossas competências sociais e relacionais, possamos não apenas conectarmo-nos melhor com outros seres humanos, mas também guiar as IAs, como os modelos de linguagem, a fornecer respostas qualitativamente superiores e mais alinhadas com as nossas intenções e necessidades reais.

(*) membro da Direção Nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses