Por Mike Sousa (*)
O Agile Manifesto surgiu em 2001, no Utah, EUA, pelas mãos de um grupo de 17 visionários na busca de uma melhor forma para desenvolver software. O que eles não sabiam era que estavam a criar algo muito mais poderoso e abrangente do que um simples manifesto para a indústria do software.
O Agile é um mindset que, de acordo com o dicionário, significa mentalidade, raciocínio, ou lógica; ou seja, o Agile é a forma como ajustamos a nossa forma de pensar e raciocinar para resolver problemas e desafios. É especialmente útil se se tratarem de problemas complexos, grandes ou com um elevado grau de incerteza e dúvida. E é partindo desta base do Agile que existem uma série de ferramentas (modelos, esquemas, guias, estruturas, etc.), todas elas desenvolvidas com os mesmos pressupostos e valores, tais como Scrum, Kanban, XP (eXtreme Programming) e Lean.
Seja para uso pessoal, profissional ou para equipas, esta metodologia tem grandes vantagens na organização e formas de trabalhar; e quando aplicada de forma consistente e correta, permite grandes melhorias de performance e entrega.
O Agile nas Equipas
Ao ler o Agile Manifesto podemos (e devemos) substituir a palavra software por qualquer outro tipo de ‘entrega’ que se pretenda. Há muito que o Agile deixou de estar fechado na esfera do desenvolvimento de software. Podemos ver exemplos espalhados por diversas áreas, tais como recursos humanos, marketing, universidades e escolas, indústrias, hospitais, etc.E não precisamos de ter implementações completas das ferramentas, ou seja, em muitos casos, a aplicação de apenas uma parte do modelo já permite tirar grandes vantagens para a equipa.
Dos muitos exemplos que já tive o prazer de presenciar e participar, destaco um que ocorreu numa escola, mais concretamente num grupo de professores.
Tudo começou porque uma das professoras decidiu fazer uma mini-formação em Agile. Durante essa formação, ela explicou que, muitas vezes, ao terminarem um trabalho, descobriam que outro professor também estava a trabalhar em algo semelhante.
Para tentar resolver este problema, e dar mais visibilidade ao trabalho, começaram por usar um quadro Kanban onde colocaram cartões com o tema do trabalho que cada um estava a desenvolver.
Apesar de algum desconforto inicial em expor o que faziam desta forma, ficou claro que alguns professores trabalhavam em temas relacionados. Isto trouxe, de imediato, várias vantagens:
- Colaboração - uniram esforços nos trabalhos comuns, o que levou a entregas com mais qualidade e menor esforço individual;
- Comunicação - os professores começaram a comunicar mais entre eles. Fosse para esclarecer dúvidas, pedir ajuda ou unir esforços;
- Espírito de equipa - a união e espírito de equipa rapidamente cresceram, criando uma sensação de que o que faziam, faziam juntos e estavam disponíveis uns para os outros. Começaram a sentir-se apoiados.
O passo seguinte surgiu com naturalidade, e a equipa de professores começou a fazer uma reunião semanal para falar e atualizar o quadro com o estado corrente das tarefas e apresentação de novos desafios. Com o tempo, esta prática tornou-se mais fácil e natural, e a equipa decidiu tornar a reunião bi-semanal.
Destaco ainda outro bom exemplo, de uma equipa de recursos humanos que decidiu usar Scrum para organizar a parte das novas contratações, sendo que esta prática se tornou ainda mais relevante em períodos de grande trabalho. Da lista de vantagens que a equipa sentiu, realço:
- Comunicação - a equipa melhorou imenso a forma como comunica entre si;
- Colaboração - tornou-se mais fácil pedir e perceber onde era preciso ajuda;
- Planeamento - com o visualização do trabalho pendente (num quadro Kanban) a equipa consegue ajustar rapidamente o seu trabalho para fazer frente aos desafios mais urgentes;
- Sentido de entrega - é possível visualizar o trabalho em curso e o terminado, criando um sentido de entrega que acaba por ser motivador. E a equipa celebra regularmente os seus feitos, seja com uma ‘dança de contratação’ ou um jantar de equipa;
- Melhoria contínua - a equipa decidiu fazer retrospetivas regularmente para perceber onde pode continuar a melhorar o processo e obter ainda melhores resultados.
Conclusão
Os resultados obtidos fora do mundo de desenvolvimento de software vêm reforçar todas as vantagens da utilização das metodologias Agile e a forma como as equipas que experimentam não querem voltar atrás. Feito de forma iterativa, permite ir ajustando, melhorando e acrescentando as técnicas à medida das necessidades e capacidades de cada equipa.
Não tenho dúvidas de que o Agile é uma mais valia para qualquer equipa, independentemente da sua área de trabalho ou tipo de entrega final.
(*) Lead Agile Coach na New Work Portugal
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