Por Adão Ferreira (*)

A indústria automóvel em Portugal vive uma situação complexa derivado de uma conjugação de vários fatores. Os mais relevantes no momento são a falta de semicondutores e componentes eletrónicos, o aumento de preço de outras matérias-primas, tais como o aço ou matérias plásticas, além da inflação galopante dos custos logísticos e da energia.

A crise de escassez de semicondutores atingiu a indústria automóvel numa altura em que o sector começava a sentir uma recuperação moderada dos níveis de produção no início de 2021.

O aumento da procura de chips da indústria automóvel começou quando as linhas de fornecimento de semicondutores (localizadas essencialmente na Ásia, nomeadamente em Taiwan e China) já estavam sobrecarregadas por uma procura significativa de chips do sector da eletrónica de consumo, para telemóveis e infraestruturas 5G, novas plataformas de videojogos, e equipamento informático.

A tendência é incontornável, é que a procura automóvel de semicondutores continuará a crescer em grande escala devido à quota crescente de tecnologias de condução autónoma e assistida para manter os condutores confortáveis e seguros, bem como a eletrificação dos veículos com a gestão sofisticada exigida ao desempenho da bateria e outros componentes eletrónicos.

A escassez de chips semicondutores está a afetar significativamente toda a indústria automóvel. As interrupções na cadeia de abastecimento atrasaram globalmente a produção de veículos automóveis e afetam toda a indústria, direta e indiretamente.

A Europa tem que apostar no fabrico e investigação e desenvolvimento de chips, para não estar tão dependente da Ásia. O sector automóvel a nível mundial é responsável por cerca de 10% da procura de semicondutores, na Europa esse valor sobe para 37%.

Efetivamente durante o ano de 2021 foram anunciados fortes investimentos na indústria europeia de semicondutores, mas até terem efeito no mercado vai demorar ainda algum tempo, o que nos leva a esta situação complexa.

A AFIA já propôs ao Governo, através do Ministério da Economia, um Programa Específico de Apoio e Incentivo ao Investimento para as empresas acompanharem a transição digital e energética.

A AFIA considera que um programa que ajudasse as empresas a conseguirem aumentar o seu posicionamento nos projetos dos novos veículos teria também um efeito junto dos construtores (OEM) e fornecedores de 1.ª linha (TIER1), captaria a atenção dos decisores e potenciaria não só a indústria nacional mas também o sistema científico nacional.

A indústria automóvel tem uma relevância importante para a economia de Portugal, devido à sua capacidade de exportação, à criação de empregos qualificados, ao valor acrescentado e ao efeito catalisador noutros setores, nomeadamente enquanto motor da capacidade competitiva do ecossistema científico. Por isso, é fundamental estabelecer um quadro que garanta uma transformação cuidadosamente gerida para alcançar com sucesso a descarbonização e a digitalização da economia.

(*) Secretário-Geral da AFIA – Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel