Depois dos atrasos na atribuição de licenças de 5G, que resultaram de um longo leilão de espectro com teve mais 200 dias de licitações e 1727 rondas, a cobertura de rede 5G em Portugal conseguiu recuperar terreno e está já classificada entre os 10 estados membros com maior cobertura do território, segundo o Observatório Europeu.

Dados da Anacom indicam que estão instaladas mais de 10 mil estações base, chegando a todos os concelhos do país, numa progressão de 4% em relação ao primeiro trimestre deste ano. Mas a cobertura de rede é apenas uma das faces do desenvolvimento do 5G e a conferência 5G em Ação, promovida esta semana pela Anacom, mostra que os pilotos de utilização da tecnologia estão a avançar em várias áreas, sendo ainda necessário maior envolvimento de todo o ecossistema para tirar verdadeiro benefício da maior velocidade, menor latência e reforço da segurança que esta geração de rede móvel traz.

A conferência contou com a apresentação de 35 projetos, em áreas como a energia, saúde, administração pública e cidades inteligentes, soberania e proteção civil, indústria 4.0, mobilidade, economia azul e recursos naturais, que subiram ao palco para mostrar o que está a ser feito nos pilotos e provas de conceito, assim como as necessidades identificadas para a massificação das aplicações.

Veja algumas das imagens da conferência:

A necessidade de libertar espectro para a inovação, em processos mais expeditos, também para a criação de Zonas Livres Tecnológicas, como foi sublinhado por Susana Sargento, da Universidade de Aveiro e Hélio Simeão, da Ubiwhere. Hoje ainda a Anacom deverá lançar uma consulta pública sobre o tema, que servirá para ouvir empresas e operadores sobre as necessidades nesta área.

Visto como um catalisador da inovação nas cidades inteligentes, o 5G pode trazer novos casos de utilização para gerir informação e melhorar a capacidade de intervenção, até pelo desenvolvimento de gémeos digitais. Nas áreas da Saúde é o serviço ao utente que pode ter mais impacto, mas Pedro Gouveia, cirurgião da Fundação Champalimaud, avisa que os blocos cirúrgicos ainda não estão preparados para aplicar a tecnologia em cirurgia remota.

Ecossistema sólido para que a tecnologia avance

Do lado dos operadores de comunicações, a MEO, NOS e Vodafone mostraram o trabalho feito no terreno nos últimos dois anos para chegar a uma cobertura do território que coloca Portugal na linha da frente dos países mais avançados na Europa. A DIGI, que participou pela primeira vez numa conferência pública em Portugal, diz que está também a avançar com a rede mas não partilhou dados, com Valentin Popoviciu, Director-Executivo e Chief Strategy & Operating Officer da Digi Communications e diretor executivo em Portugal, a avançar que a empresa está a preparar-se para que o lançamento do serviço aconteça “em breve”.

Carlos Bouça, Diretor de Engenharia e Operações de Rede da Altice Portugal, lembrou porém que para que os benefícios da tecnologia para a economia e sociedade sejam uma realidade é necessário que todo o ecossistema trabalhe para implementar as soluções e casos de uso, já que este não é um trabalho que possa ser feito só responsabilidade dos operadores.

Os pilotos e casos de uso que foram apresentados mostram que há desenvolvimentos acontecer em Portugal, especialmente promovidos pelas grandes empresas, universidades e organismos públicos, mas é necessário passar dos projetos ao terreno e estender os benefícios às pequenas e médias empresas.

Já no segundo dia, Hugo Pinto, partner da Deloitte Portugal, defendeu a mesma ideia, dizendo que um ecossistema sólido, que junte a investigação, academia, empresas públicas e privadas, assim como o Governo, são a base necessária para o sucesso do 5G. Um estudo da consultora indica que a expectativa do impacto económico em Portugal, até 2035, chega aos 17,2 mil milhões de euros, sendo o maior impacto esperado na indústria e serviços grossistas, enquanto a maior expectativa está centrada nas utilities, com os serviços de eletricidade, gás e água.