A "reviravolta" da exclusão da Huawei na rede 5G no Reino Unido foi anunciada esta terça-feira e as reações de vários países já se fizeram sentir. Enquanto os Estados Unidos, sem surpresas, congratulam a decisão do governo britânico, a China fala numa conspiração do Reino Unido com Washington. A Alemanha, já mesmo antes do anúncio, mostrava-se insatisfeita com uma possível exclusão da empresa chinesa.

O governo de Boris Johnson tomou a decisão de obrigar as operadoras de telemóvel britânicas a removerem todo o equipamento da Huawei utilizado na infraestrutura de telecomunicações 5G até ao final de 2027, no seguimento de novas restrições à fabricante chinesa por parte dos Estados Unidos. Quanto à compra de novos equipamentos Huawei para a quinta geração de rede móvel, será proibida a partir de 31 de dezembro de 2020.

Com os Estados Unidos a colocarem a Huawei numa lista negra em maio de 2019 por suspeitas de ameaças à segurança do país, e a pressionarem mais países para o fazerem desde 2018, a satisfação do governo americano não é nenhuma surpresa. Numa conferência de imprensa, Donald Trump garante que os Estados Unidos "convenceram muitos países a não contarem com a Huawei, porque achamos que é um risco à segurança”. “ E eu fiz isso a maior parte do tempo”, comenta.

Como a "reviravolta" da exclusão da Huawei na rede 5G no Reino Unido vai afetar a fabricante chinesa
Como a "reviravolta" da exclusão da Huawei na rede 5G no Reino Unido vai afetar a fabricante chinesa
Ver artigo

Num comunicado, o secretário de estado afirma que os Estados Unidos congratulam a escolha do Reino Unido. "Com esta decisão, o Reino Unido junta-se a uma lista crescente de países em todo o mundo que defendem a sua segurança nacional ao proibir o uso de fornecedores não confiáveis ​​e de alto risco", afirma. Para além daqueles que diz ser os "amigos britânicos", Michael Pompeo dá o exemplo de outros países que também já o fizeram, como a República Checa, Dinamarca, Estónia, Letónia, Polónia, Roménia e Suécia.

China acusa o Reino Unido de conspirar com Washington. Alemanha já considerava a decisão “prematura”

A China acusou esta quarta-feira o Reino Unido de conspirar com Washington para prejudicar as empresas chinesas. Citada pela agência Lusa, a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Hua Chunying, afirmou que "sem qualquer evidência concreta, o Reino Unido apontou riscos sem fundamento como desculpa e cooperou com os Estados Unidos para discriminar, suprimir e excluir empresas chinesas".

Hua Chunying disse ainda que a China "vai avaliar completa e seriamente este incidente e tomará todas as medidas necessárias para salvaguardar os direitos e interesses legítimos das empresas chinesas". Neste sentido, Pequim vai alertar as empresas chinesas "para atribuírem grande importância aos crescentes riscos" que enfrentam no Reino Unido.

Apesar da pandemia e sanções dos Estados Unidos a Huawei cresce 13,1% no primeiro semestre
Apesar da pandemia e sanções dos Estados Unidos a Huawei cresce 13,1% no primeiro semestre
Ver artigo

A Alemanha considerava já "prematura" uma possível exclusão da empresa chinesa na rede 5G. Citado pela Reuters, o presidente da Agência Federal de Telecomunicações afirmou na semana passada, antes de ser conhecida a decisão, que não havia “razão para excluir a Huawei desde o início". Na altura, Jochen Homann justificou a sua posição garantindo que não havia riscos de segurança para o país. Em contraste com a decisão sobre a Huawei no Reino Unido, a escolha está ainda pendente na Alemanha.

No final de 2019, já o coordenador do Centro Nacional de Cibersegurança, Rogério Raposo, afirmava que Portugal estava "atento" aos riscos inerentes à tecnologia 5G. "Estamos atentos e não estamos atentos sozinhos", sublinhou o coordenador, apontando que em Portugal "há várias entidades" que terão responsabilidade e papel de "poder assegurar" que os riscos detetados no 5G sejam reduzidos, assegurou em outubro de 2019.

Huawei fala em “decisão desapontante” para o Reino Unido

Em comunicado, o porta-voz da Huawei, Edward Brewster considera que a decisão do governo britânico traduz-se em “más notícias para todas as pessoas no Reino Unido com um telemóvel”. O representante assume que a empresa espera que a decisão seja reconsiderada.

Edward Brewster fala ainda numa decisão que maximiza a divisão digital e que se baseia na política e não na segurança. Porém, quanto às novas restrições dos Estados Unidos, a empresa mantém-se confiante que “não irão afetar a resiliência ou segurança dos produtos” que fornecem no Reino Unido.