À pergunta sobre se há concorrência no sector das telecomunicações, os operadores de telecomunicações convidados para o Estado da Nação no 32º Congresso da APDC respondem de forma positiva, mas isso não invalida que apontem riscos, problemas e uma visão negativa das decisões regulatórias em Portugal e na Europa. O debate encerra o segundo dia do congresso que o SAPO TEK está a acompanhar.

Luís Lopes, CEO da Vodafone Portugal, defende mesmo que na Europa "o sector está doente", falando sobre a sustentabilidade, mas lembra que existe concorrência, até porque nos últimos anos a Vodafone ganhou 20 pontos no segmento fixo.

Também Miguel Almeida, CEO da NOS, aponta números: Portugal é número 3 na Europa na subscrição de serviços de elevado débito, apesar de ter um baixo poder de compra e de literacia digital. "75% das famílias portuguesas já mudaram pelo menos uma vez de operador [...] na Europa a média é 40%", destaca, apontando que estes números comprovam que há concorrência.

Em sintonia com a ideia de concorrência, Ana Figueiredo, CEO da Altice Portugal, defende que "Se há sector que Portugal se pode orgulhar é das telecomunicações [...] foi feito investimento em cobertura", adiantando que há acessibilidade aos serviços, houve oscilação de quotas, e há alternância e competitividade da oferta. "Fomos challenger na TV e em 12 anos passámos a líderes", acrescenta.

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Há espaço para um (ou dois) novos operadores?

Com a entrada de dois novos operadores, que ganharam licenças de 5G, como fica a concorrência do sector? Também aqui há sintonia entre os três operadores e a ideia é clara: não existe espaço para mais operadores e os que estão a entrar vão destruir valor.

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Ana Figueiredo diz que como indústria de capital intensivo, as empresas de telecomunicações necessitam de escala, lembrando que há uma incógnita sobre as intenções do novo entrante no mercado, a Digi, de quem não se conhecem os objetivos e posicionamento.

"Na equação de rentabilidade de investimento, vai permitir dar boleia de entrada no mercado em que nós fizemos investimentos", afirma a CEO da Altice Portugal, avisando que "pode haver destruição de valor". Ana Figueiredo recorreu igualmente a números para lembrar que o retorno de Capex sobre receitas no mercado europeu é em média de 20% e nos Estados Unidos é de 15%.

Miguel Almeida também deixa alertas: a justificação do interesse de quem entra é "criar valor económico para quem faz a jogada". Há países que são 5 e 10 vezes maiores do que Portugal e que têm 4 operadores, indica, dando o exemplo de Espanha e da fusão que está a acontecer. "Há uma tendência de redução para 3 operadores, só isso permite concorrência, por um lado, e investimento, por outro".

"Quem faz esta operação [de entrar no mercado], entra, faz confusão, destrói e é remunerado a sair", sublinha Miguel Almeida, que diz também que há uma falsa ideia de concorrência para o consumidor.

O exemplo da Europa foi usado também por Luís Lopes. "Temos demonstração do que se está a passar na Europa, com o atraso no 5G e redes de fibra, quando compara com EUA e Ásia, quando havia vantagem 4G e 3G. Algo aconteceu", afirmou, destacando que os operadores têm subescala e que o sector está sobre fragmentado. "Temos perto de uma centena de operadores, 600 MVNO, para 400 milhões de utilizadores", sublinha.

"A fragmentação e deflação de preços faz com que investidores não olhem com apetite para o mercado português, diz Luís Lopes.

Em números, o CEO da Vodafone Portugal refere que quem investiu 100 euros em 2015 hoje teria 60 e poucos euros, teria perdido mais de 30% do valor, isto olhando para um cabaz de investimento em empresas de telecomunicações, que segue em linha contrária em relação a outras áreas. "Foi o sector com pior remuneração de investimento", destaca.

O responsável da Vodafone Portugal escusou-se a comentar a operação de aquisição da NOWO, que está em curso e aguarda aprovação da Autoridade da Concorrência, explicando que foram levantadas preocupações que vão ser endereçadas. Luís Lopes adiantou ainda que a operadora viu uma oportunidade de acelerar o investimento, com a modernização da rede de cabo da NOWO que está desatualizada e que pode ser mudada para fibra com valor para clientes.

Questionados também sobre a sua visão em relação à operação da NOWO, a NOS e a Altice Portugal posicionam-se como observadores, referindo Miguel Almeida que na resposta à consulta pública só pediu "os mesmos remédios aplicados a operações semelhantes no passado".

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