"Recordo-me quando a Microsoft começou em Portugal, fiz parte dos primeiros dias do negócio e da vida da Microsoft em Portugal", lembrou Brad Smith, em entrevista à agência Lusa, quando questionado sobre a sua visão sobre o país de uma empresa que marca vários anos no mercado português.

"A primeira coisa que gostaria de dizer é que é notável ver o quanto em Portugal mudou, o quão vibrante o setor de tecnologia se tornou em Portugal", prosseguiu, dando o exemplo da Web Summit, que hoje termina em Lisboa.

"Veja como a própria Web Summit se encaixa hoje em Portugal", destacou Brad Smith. Atualmente, "temos 2.000 funcionários em Portugal e eu lembro-me quando a Microsoft tinha dois", comentou, a sorrir.

Portanto, "assistimos a um crescimento de mil vezes em termos do número de funcionários que temos aqui", acrescentou.

"Acho que Portugal se tornou um ótimo lugar para uma 'startup' começar a sua vida", considerou, salientando que o país também se tornou um "ótimo lugar para contratar pessoas talentosas".

E, acrescentou, "não é apenas em Lisboa", mas nas "múltiplas cidades e vilas em Portugal".

Brad Smith sublinhou que todos os países estão a tentar descobrir como sair da pandemia de covid-19 e como adaptar-se ao futuro.

"Como é que nos adaptamos a uma variedade de desafios económicos diferentes e aqueles que estão presentes aqui", referiu.

No entanto, "acho que se olhar para o longo prazo, de certa forma, o ingrediente mais fundamental para qualquer país é o seu talento", sublinhou.

Nesse sentido, "Portugal tornou-se um lugar tanto tem um grande talento caseiro em termos de pessoas que aqui nasceram" como se tornou "um lar acolhedor para talentos do resto da Europa e mesmo além", sublinhou.

"Acho que é uma combinação bastante mágica para o futuro de Portugal", concluiu o presidente da Microsoft.

Europa deve garantir que indústrias usem tecnologia para serem "ainda mais" competitivas

O presidente da Microsoft, Brad Smith, defendeu ainda que o mais importante para a Europa é "garantir que todas as indústrias" em que é forte "utilizem a tecnologia para se tornarem ainda mais" competitivas.

"O mais importante para a Europa, não é tentar inventar a sua própria versão do Facebook", mas "garantir que todas as indústria em que a Europa é forte utilizem a tecnologia para se tornarem ainda mais competitivas e fortes no futuro", afirmou, à Lusa à margem da Web Summit.

"E então pense sobre a política de tecnologia através dessas lentes, bem como de todas as outras", acrescentou, afirmando que os legisladores já o estão a fazer.

Na comparação entre a Europa e os Estados Unidos, Brad Smith considera que é importante parar e pensar sobre a tecnologia e o papel que ela desempenha e os diferentes tipos de empresas de tecnologia.

"Quando as pessoas afirmam que a Europa está atrás, na verdade estão a referir-se ao facto da Europa não ter uma Apple ou Facebook ou Google, ou talvez uma Amazon ou Microsoft", prosseguiu.

"Muitas vezes estão focados nos serviços de tecnologia de grande consumo e, claro, a Europa tem um serviço de tecnologia importante e popular que se chama Spotify", apontou.

Mas, de facto, "os Estados Unidos têm mais", admitiu.

"O que sentem falta, penso, é da grande força da Europa como continente, que é a liderança numa ampla variedade de domínios económicos, todos impulsionados por uma grande disciplina no assunto", argumentou, dando exemplos como produtos farmacêuticos, automóveis, maquinaria ou químicos.

"E o que sentem falta é do grau em que cada um desses setores está atualmente a avançar, não apenas com uma grande inovação", mas também "com o uso da tecnologia", considerou.

"É isso que vemos na Microsoft e acho que vemos algo diferente do resto da maioria da indústria".

Por muito que "admiremos o que a Apple ou Google ou Facebook podem fazer" na execução de bom serviço ao consumidor, "trabalhar na Microsoft é muito diferente de trabalhar nessas empresas porque, na verdade, nós temos que entender cada uma dessas outras indústrias, o que precisam, como usam a tecnologia e como a estão a usar".

Questionado sobre a questão de armazenamento de dados na 'cloud', um tema que tem dividido a Europa e os Estados Unidos, Brad Smith afirmou que se está "num momento em que vários governos europeus estão mais focados no que estão falar" e evocando a soberania digital.

"Acho que a Europa precisa de tecnologia que sirva os valores europeus e atenda às necessidades europeias", disse, considerando que "será útil para todos que essa conversa continue".

Ou seja, que os governos europeus continuem a trabalhar na definição daquilo que procuram.

"Olhando para isso, acho que é importante atendermos às necessidades de privacidade europeias, protegermos as necessidades de segurança europeias, aumentarmos as oportunidades de crescimento das próprias empresas de tecnologia e do setor de tecnologia da Europa", defendeu.

"E, ao mesmo tempo, sem surpresa, espero sinceramente e acredito que a melhor maneira de servir a Europa é haver uma oportunidade contínua para, digamos, empresas americanas responsáveis participarem, esse é o nosso objetivo", sublinhou.

"Queremos participar, mas queremos participar de uma forma que vá ao encontro dos valores e necessidades europeias e que passe no teste europeu daquilo que procuram quando pensam em tecnologia responsável", concluiu Brad Smith.

A Web Summit arrancou em 01 de novembro e termina hoje em Lisboa, em modo presencial, depois de a última edição ter sido ‘online’ e a organização espera cerca de 40 mil participantes, segundo revelou, em setembro, Paddy Cosgrave, presidente executivo da cimeira.

A comediante Amy Poehler, o presidente da Microsoft Brad Smith, a comissária europeia Margrethe Vestager e o jogador de futebol Gerard Pique juntam-se aos mais de 1.000 oradores, às cerca de 1.250 'startups', 1.500 jornalistas e mais de 700 investidores, numa cimeira na qual serão discutidos temas como tecnologia e sociedade, entre outros, de acordo com a organização.

Apesar do número previsto de visitantes ser este ano cerca de menos 30 mil do que na última edição presencial, em 2019, as autoridades consideram que se trata do "maior evento de 2021" a ter lugar em Lisboa.