Com a chuva a obrigar a maior concentração nos espaços fechados, e a tempestade Cláudia a afastar alguns dos participantes, o último dia do Web Summit 2025 não deixou de ter pontos altos, com uma startup portuguesa a destacar-se no Pitch, o pai da Internet, Tim Berners-Lee, mas também com espaço para outras áreas, como a música do DJ  Armin van Buuren e a visão do ator Joseph Gordon-Levitt. Este ano com uma presença mais discreta de Paddy Cosgrave, o Web Summit 2025 chegou ao fim com as últimas apresentações

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Há muito tempo que o Web Summit deixou de ser uma cimeira apenas de tecnologia, cruzando os vários temas num mundo onde a tecnologia está integrada em todas as coisas. E os temas da sociedade, sustentabilidade, música, política, desporto e criatividade ganham sempre espaço especial nos palcos, mesmo que depois na área de exposição seja a tecnologia que manda nas propostas das startups, e este ano, como seria de esperar, e a Inteligência Artificial que manda.

A chuva não arrefeceu o entusiasmo, e embora não seja comum para os participantes portugueses enfrentarem o dia com chapéu de chuva na mão, no dia em que a tempestade Cláudia que chegou a Lisboa, para grande parte dos visitantes e expositores internacionais era um dia como outro qualquer. E até surpreendemos alguns com a história do nosso "Verão de São Martinho", que justifica todos os anos o bom tempo a meio de novembro.

Veja as imagens do Web Summit 2025

Os dados avançados pela organização do Web Summit dão conta do número de participantes, startups e investidores. Ao todo, a edição deste ano do evento voltou a registar um recorde no número de participantes, com 71.386 pessoas vindas de 157 países.

Contam-se ainda 2.725 startups de 108 países, com destaque para as áreas da IA e machine learning e com 40% a serem fundadas por mulheres. O número de investidores passou de 1.066 no ano passado para 1.857 em 2025, numa subida de 74%, avança a organização.

Segundo dados da Crunchbase e da organização, quase 200 startups, que participaram na edição de 2024 do Startup Programme do Web Summit, conseguiram levantar financiamento após o evento, num total de 715,5 milhões de euros.

A competição das startups é um dos pontos altos e este ano uma startup portuguesa voltou a vencer, o que acontece pela quarta vez na história do Web Summit. A Granter tem uma plataforma que apoia empresas na identificação e candidatura a financiamentos e incentivos e junta-se a uma lista de vencedores do Pitch da Web Summit, sucedendo à também portuguesa Intuitivo, que ganhou o prémio no ano passado.

Finalistas Pitch Web Summit
Finalistas Pitch Web Summit

IA em todo o lado e o poder da infraestrutura

O compromisso com a atração de uma gigafábrica de IA para Portugal foi um dos temas, abordado logo no primeiro dia pelo ministro da Reforma do Estado, Gonçalo Matias, e no encerramento por Manuel Castro Almeida, ministro da Economia e Coesão Territorial, que deixou o convite para investir em Portugal, viver em Portugal, onde encontra um ambiente favorável e parceiros, um ecossistema de inovação. "Voltem a Portugal", afirmou o ministro.

Logo na noite de abertura, Carlos Moedas tinha sublinhado a mudança em Lisboa, e em Portugal, nos últimos 10 anos, e a antecipado a fixação do 17º unicórnio em Portugal. O anúncio oficial foi ontem, com a Upwork a garantir que vai criar o seu primeiro centro fora dos Estados Unidos, e contratar 100 pessoas, com foco no desenvolvimento de tecnologia.

Não faltaram também outros anúncios de investimentos, com Brad Smith, presidente da Microsoft Corporation a dar destaque ao investimento da empresa no datacenter da Start Campus em Sines, para um cluster com 200 mil GPUs que vale dez mil milhões de dólares. Também Cristiano Amon, CEO da Qualcomm, deixou no ar a possibilidade de investir em Portugal, referindo em conferência de imprensa que iria ter uma reunião com o Governo, como escreveu o ECO, mas sem desenvolvimentos conhecidos.

70 mil pessoas e muitos gigas de dados

Se a infraestrutura do Web Summit já "impressiona" pela dimensão, o trabalho necessário para assegurar que tudo corre como planeado nas comunicações também não nos deixou indiferentes, numa operação com mais de 170 pessoas, infraestruturas reforçadas, muitos kms de cabos de rede e fibra ótica, bem como uma “war room” sempre atenta, incluindo a potenciais ameaças de cibersegurança.

A IA está por toda a parte do Web Summit, das sessões nos múltiplos palcos às propostas das startups nos pavilhões. Mas, com Lisboa como pano de fundo, fica a questão: será que Portugal tem o que é preciso para ser líder neste sector? A gigafábrica que o consórcio liderado pelo Banco Português de Fomento ambiciona construir em Sines, pode ajudar a dar um “empurrão” nessa direção.

Os ingredientes certos parecem estar reunidos, mas, como lembra Daniela Braga, CEO da Defined.ai, Portugal precisa de se concentrar numa área específica deste mundo, sem dispersar atenções e investimentos. 

Portugal pode liderar na IA com uma gigafábrica, mas precisa centrar atenções (e investimentos) no que faz a diferença
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A computação é, na visão da responsável, um dos pilares cruciais da IA onde as atenções de grande parte do mundo da tecnologia estão centradas. Para Daniela Braga, a aposta nesta área poderá fazer com que Portugal realmente se destaque. 

O ecossistema de startups continua a “fervilhar” dentro e fora dos pavilhões e, em Portugal, já se contam mais de 5 mil, com o ecossistema a entrar numa nova fase de consolidação e maturidade, apontam os mais recentes dados da Startup Portugal.

Só do lado da Startup Portugal, 115 startups tiveram a oportunidade de marcar presença no Web Summit com os seus projetos através do programa Road 2 Web Summit. Mas a grande vencedora, reconhecida como a mais promissora desta edição, foi a Enhanced Fertility, que quer acelerar o processo de testes, diagnóstico e início de tratamentos de fertilidade baseados em dados.

Das startups e do ecossistema de inovação na Terra partimos para o Espaço, guiados por Andrew Feustel, ex-astronauta da NASA e atual Lead Astronaut da Vast, para uma viagem até aquela que será uma das sucessoras da Estação Espacial Internacional, juntando-se aos projetos de empresas como a Axiom Space, a Blue Origin e a Voyager Space.

Mais do que dar conta dos planos para uma (de possivelmente muitas) futuras estações espaciais, o ex-astronauta da NASA e atual Lead Astronaut da Vast realça a importância de fazer a diferença, neste caso, através da ciência realizada no Espaço, lembrando que os astronautas não vão ao Espaço simplesmente para “passear”.

A robótica afinal não é o fim dos empregos humanos

A robótica foi outro tema quente desta edição do Web Summit, com a presença de vários exemplos de modelos humanoides (e não só), mas a narrativa que emergiu do evento não foi a da substituição, mas sim a do aumento do potencial humano.

O exemplo mais emblemático desta tese foi dado por Tye Brady, Chief Technologist da Amazon Robotics. A sua intervenção no palco principal solidificou a visão da gigante do retalho de que a robótica de nova geração não tem como objetivo transformar os armazéns em locais totalmente automatizados ("lights-out"), mas sim estender o potencial humano.

Ao apresentar inovações como o robot Vulcan, a plataforma Blue Jay, e o Project Eluna, todos estes sistemas são projetados para eliminar tarefas "monótonas, enfadonhas e repetitivas", libertando o tempo dos trabalhadores para que se concentrem em trabalhos de maior valor e em maior segurança.

Esta ênfase no ser humano foi reforçada pela própria estratégia da Amazon. Apesar de já contar com mais de um milhão de robots implantados, a empresa continua a apostar no fator humano, não só pelo recrutamento de 250 mil novos funcionários para o período festivo, mas também ao convidar muitos trabalhadores existentes a aproveitarem oportunidades internas para o upscaling das suas capacidades, evoluindo as suas carreiras para posições mais estratégicas.

No fundo, a Amazon aproveitou a ocasião para passar a mensagem de que a robótica veio para dar oportunidades de evolução dos seus colaboradores, não para lhes roubar os empregos, embora nem sempre sejam esses os rumores que vemos escapar cá para fora.

Os bons ventos do oriente

Em paralelo à revolução tecnológica, o Web Summit 2025 destacou-se pela sua crescente atração por outras geografias. O interesse pelo oriente, nomeadamente pela China, foi bastante palpável, ignorando por completo os atritos existentes com os Estados Unidos, e que “negócios são negócios.” O sucesso e a atenção gerada pelo China Summit dentro da feira demonstraram uma sede por parte dos participantes e investidores em olhar para além dos mercados tradicionais.

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Perante este cenário, o próprio fundador do evento, Paddy Cosgrave, embora reafirmando "continuar apaixonado" por Lisboa, deixou no ar a possibilidade de a China poder, um dia, vir a acolher o certame, espelhando a crescente importância do eixo asiático no panorama tecnológico global e o peso do mercado chinês para as startups e empresas tecnológicas europeias.

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Nota da Redação: A notícia foi atualizada com mais informação, última edição 16h59