A inteligência artificial é o tema do momento e como mostra a história (curta) da Mistral AI, é também a área de investimento por excelência de quem tem capital para financiar os prováveis unicórnios do futuro.

A Mistral AI é uma startup francesa com pouco mais de um mês de existência, que partiu para a sua primeira ronda de financiamento sem um produto e até sem um site, que desse a conhecer o projeto. Isso não a impediu de conseguir angariar 105 milhões de euros, naquela que foi a maior ronda de investimento seed (inicial) alguma vez realizada na Europa, segundo os dados do site Dealroom.do.

O seu grande ativo, para já, são os três fundadores: Arthur Mensch, CEO, é um ex-colaborador da DeepMind (Google), Timothée Lacroix e Guillaume Lample trabalhavam na Meta, todos com cargos de destaque nas equipas de investigação em inteligência artificial destas companhias.

Antoine Moyroud, partner de um dos fundos que participaram na ronda, a Lightspeed, admite mesmo que em todo o mundo existem hoje “80 a 100 pessoas com este nível de experiência”. Essa terá sido uma das grandes razões para uma empresa que ainda não tem resultados para mostrar conseguir garantir um financiamento que atirou a sua valorização para os 240 milhões de euros, segundo vários meios.

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A outra grande razão, explica o mesmo investidor citado pelo Financial Times, é que hoje “para o bem e para o mal, as exigências em termos de capacidade de computação e acesso a talento de topo, para lançar uma start-up de IA, fazem destes projetos de capital muito intensivo”.

Nas declarações, entretanto feitas a outros meios a equipa da Mistral.AI confirma que boa parte do financiamento angariado vai servir para contratar a capacidade computação necessária para treinar o modelo de linguagem que está a desenvolver (Large Language Model), que será idêntico ao sistema de IA generativa criado pela OpenAI e que alimenta o ChatGPT.

A empresa também revelou que pretende criar soluções open source, com modelos que vão ser treinados apenas com dados disponíveis publicamente, e que estará exclusivamente focada no mercado empresarial.

Em declarações citadas pelo TechCrunch, Arthur Mensch diz que a Mistral AI vai trabalhar em soluções que ajudem a resolver um dos grandes desafios do momento, na sua perspetiva: “tornar a inteligência artificial útil”.

O primeiro modelo de linguagem de IA generativa da Mistral AI, baseado em texto, deve estar disponível no início do próximo ano. Será a base para ajudar empresas a melhorarem processos nas áreas de I&D, serviço ao cliente e marketing. Pretende também disponibilizar ferramentas que facilitem a criação de novos produtos com IA.

Além da Lightspeed Venture Partners, que liderou a ronda de capital e que também já investiu noutros projetos de grande sucesso no sector tecnológico, como o Snapchat, Epic Games ou StabilityAI, a Mistral AI ganhou, e nalguns casos contava já, com outros investidores de peso.

Além da JCDecaux e de vários fundos de França, Alemanha, Itália, Bélgica e Reino Unido, também o banco francês de investimento Bpifrance investiu na empresa, assim como ex-CEO da Google, Eric Schmidt, ou o multimilionário francês Xavier Niel.

Os dados da Dealroom.com confirmam que na Europa há um esforço claro para apoiar projetos de IA, que este ano ganhou escala. Os fundos de investimento já alocaram 4 mil milhões de dólares a projetos nesta área, num número que junta Israel à Europa. Ainda assim, nos Estados Unidos o investimento em startups de IA este ano já é seis vezes superior (25 mil milhões de dólares).