Está confirmado. O governo norte-americano assumiu mesmo uma posição de 10% na Intel, que nos últimos anos se tem debatido com problemas financeiros e dificuldades em manter a posição de destaque que durante décadas teve no mercado de processadores.

A posição de 10% no capital da empresa assumida pelo Governo federal na verdade é uma troca. A Intel foi uma das grandes beneficiadas em dois pacotes de subsídios para promover a indústria local de microprocessadores, programas ainda lançados pelo antecessor de Donald Trump, Joe Biden.

O acordo agora assinado converte os subsídios governamentais numa participação acionista na empresa e desbloqueia a totalidade das verbas previstas para que a Intel construa e aumente fábricas de processadores nos Estados Unidos. O valor total do apoio é de 9 mil milhões de dólares, pagos à empresa em troca de uma participação de capital de 9,9%. O valor traduz um desconto de 4 dólares no valor dos títulos, tendo em conta o preço de fecho na sexta-feira, como detalha a Reuters.

Donald Trump, que nas últimas semanas vinha defendendo o afastamento do atual CEO da Intel, saiu de uma reunião com Lip-Bu Tan com uma opinião diferente, proferida no estilo de comentário habitual: “Ele entrou com o objetivo de manter o seu emprego e acabou por nos dar 10 mil milhões de dólares para os Estados Unidos”, disse o presidente americano à imprensa.

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Os métodos pouco habituais de negociação, que acabam em acordos comerciais com vantagens financeiras, começam a ser habituais na Casa Branca neste segundo mandato de Trump. Ainda recentemente foi alcançado um acordo com a Nvidia para que a empresa volte a poder vender os seus chips avançados H20 à China, em troca de 15% das receitas que daí resultarem. As preocupações com as alegadas ameaças à segurança nacional dos EUA, que justifica as sanções, foram aparentemente ultrapassadas. Noutras áreas têm sido assinados outros acordos do mesmo género.

Há dúvidas sobre o impacto do investimento público americano na Intel, no que respeita à capacidade da empresa para voltar a fazer rapidamente dos seus produtos os mais desejados do mercado. Mas outros investidores parecem também acreditar nessa possibilidade. No início da semana, o Softbank do Japão anunciou mais um investimento de 2 mil milhões de dólares na tecnológica.

Em julho, quando apresentou as contas do trimestre, a Intel confirmou aquilo que vinha sendo avançado por várias fontes nas semanas anteriores. Até final do ano, a empresa vai reduzir mais de 20 mil colaboradores, a somar aos que já tinha despedido desde o início do ano e no ano passado. Os números absolutos não foram revelados, mas as contas entre o número de colaboradores no final do ano fiscal de 2024 e o número previsto para o final do ano fiscal em curso, mostram que dezenas de milhares de colaboradores vão perder o emprego. No anúncio também foi confirmado o cancelamento dos projetos de investimento na Europa (Alemanha e Polónia), que já vinham sendo atrasados.