Um antigo programador da CIA foi condenado em tribunal pela divulgação de segredos da agência. Em causa está a divulgação de um conjunto de ferramentas de hacking criadas pela agência, malware usado para entrar em smartphones e televisões inteligentes, e cedidas ao Wikileaks, que posteriormente as publicou.

No total foram partilhados 8.761 documentos com informação confidencial que detalhava os métodos da CIA para entrar em smartphones e transformá-los em equipamentos de escuta, dados que ficaram à mão de quem os quisesse usar para replicar essas mesmas técnicas.

Joshua Schulte, de 33 anos, trabalhava para a unidade de elite de hacking da CIA desde 2010 e integrava as equipas que desenvolvem ferramentas para entrar em smartphones Android e iOS e SmarTVs.

No julgamento, o procurador responsável pelo caso sublinhou que a divulgação teve "um efeito devastador na comunidade de inteligência, fornecendo informações cruciais para aqueles que nos querem prejudicar".

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A acusação defendeu também que a divulgação da informação confidencial foi um ato de vingança, relacionado com problemas no local de trabalho que motivaram queixas não atendidas pela entidade patronal. Apresentou provas de que acusado tinha dificuldade em cumprir prazos nos projetos que desenvolvia e que isso lhe trouxe problemas na agência, que acabaram por ter como resposta uma vingança. Para "realizar essa vingança, causou enormes danos à segurança nacional deste país", defendeu o procurador.

Schulte abdicou de advogado e assumiu a sua própria defesa. No tribunal garantiu que a tese da vingança era fantasiosa e sublinhou que muita gente tinha acesso às ferramentas que era acusado de ter divulgado. Os argumentos não vingaram, até porque a acusação apresentou provas de que, mesmo depois de detido, Schulte continuou a tentar passar informação confidencial à imprensa, apresentando registos de comunicações móveis para o confirmar.

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O homem está detido desde 2018. Logo que o Wikileaks começou a divulgar documentos foi identificado como suspeito, já tinha ido a julgamento, onde acabou por ser condenado por crimes menos, porque as provas reunidas não permitiram sustentar as acusações que agora o condenaram.

O caso acabou por voltar a ganhar forma mais tarde e culminar agora na condenação por oito crimes de obstrução à justiça e espionagem, que podem traduzir-se numa pena de prisão até 10 anos. A sentença, no entanto, ainda não é conhecida porque o homem enfrenta também acusações de posse e divulgação de pornografia infantil e ainda aguarda julgamento deste caso.