Ainda se lembra dos tempos em que, para aceder à Internet, tinha de ligar o modem à linha telefónica? Nos Estados Unidos, a chegada da Internet aos lares durante os anos 90 ficou marcada pela oferta da America Online (hoje AOL). Mais de 30 anos depois, a empresa prepara-se agora para desligar o seu serviço de dial-up.

Numa nota discreta, publicada na sua página de apoio ao cliente, a AOL afirma que o serviço será descontinuado no dia 30 de setembro. O mesmo se aplica ao software associado, incluindo o AOL Shield browser, um navegador optimizado para sistemas operativos mais antigos e ligações à Internet por dial-up.

No início da década de 1990, à medida que a Internet como a conhecemos dava os primeiros passos, a AOL apostou numa estratégia arrojada para conquistar os utilizadores americanos, enviando disquetes e, mais tarde, CDs de instalação gratuitos para milhões de lares, passando depois a ser distribuídos também através de campanhas promocionais com diferentes marcas e empresas no mercado norte-americano.

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Em 1999, a empresa estimava que 40% dos americanos navegavam na Internet através do seu serviço. No final de 2001, a AOL afirmava que já tinha mais de 30 milhões de assinantes, recorda a BBC. Ainda em 1998, a empresa comprou o ICQ, o serviço de mensagens online criado pela israelita Mirabilis, que, três anos depois, alcançou a marca dos 100 milhões de utilizadores.

Mas, durante esta época, nem tudo correu bem para aquela que era considerada como o principal fornecedor de acesso à Internet nos Estados Unidos. Na entrada do novo milénio, a AOL anunciou uma fusão com a Time Warner, num negócio multimilionário considerado por muitos como desastroso, numa altura em que a bolha do dot-com estava prestes a rebentar. Em 2002, a empresa já previa que se aproximavam tempos difíceis.

O “casamento” com a Time Warner não durou tanto tempo quanto o esperado e, depois de vários anos conturbados, as empresas a cortaram ligações em 2010. Em 2015 a AOL foi comprada pela Verizon e, mais tarde, a operadora norte-americana vendeu-a, juntamente com a Yahoo (que tinha adquirido em 2016), à gestora de capital privado Apollo Global, lembra a Associated Press.

Com o passar do tempo, a chegada de tecnologias mais avançadas no acesso à Internet, incluindo as ligações de banda larga, acabaram por impactar significativamente a popularidade do serviço de dial-up da empresa, que não era exclusivo no mercado norte-americano.

No entanto, segundo dados do US Census Bureau, em 2023, 163.401 lares ainda usavam exclusivamente serviços de Internet dial-up nos Estados Unidos, correspondendo a 0,13% de todos os lares com ligações online no país.

No princípio a Internet era a 1.200 bps. Ainda se lembra do barulho do modem a ligar-se na linha telefónica?
No princípio a Internet era a 1.200 bps. Ainda se lembra do barulho do modem a ligar-se na linha telefónica?
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Do outro lado do Atlântico, em Portugal, os primeiros passos da Internet também foram dados através de ligações dial-up. Como recordamos neste artigo, a experiência era marcada pelo inconfundível ruído do modem a comunicar para se ligar à Internet, sem a possibilidade de fazer chamadas telefónicas, e ligações a velocidades de 1.200 bps.

As ligações foram gradualmente passando para 2.400 bps e mais tarde para 9.600 bps, antes da chegada do ADSL no início dos anos 2000, e da fibra óptica a partir de 2006.

De acordo com dados do último relatório da ANACOM acerca do sector das comunicações, relativo a 2024, o acesso à Internet através de ligações dial-up, também conhecidas como ligações de tipo comutado, tem uma expressão quase inexistente. “Esta forma de acesso, inicialmente maioritária, representa atualmente uma percentagem quase nula dos acessos à Internet”, indica a entidade reguladora.