Esta quarta-feira, dia 17 de maio, realiza-se a primeira conferência “Saúde 5G” promovida pela NOS, para demonstrar como a quinta geração de redes móveis está ligada a diversas soluções de tecnologia inovadoras, sobretudo na área da saúde. Vão estar presentes empresas tecnológicas e startups com projetos inovadores, mas a “cabeça de cartaz” é o cirurgião britânico, Owase Jeelani, especialista na separação de gémeos siameses, tendo feito manchetes em Portugal pela separação de irmãos brasileiros, utilizando a realidade virtual como um instrumento no processo.

A conferência conta ainda com a participação dos oradores Pedro Gouveia, da Champalimaud Clinical Centre, que aborda o papel do metaverso, inteligência artificial e realidade aumentada na cirurgia de cancro da mama; e Cristina Campos, líder da Novartis Portugal, para falar sobre a tecnologia no sector farmacêutico. O SAPO TEK esteve presente no Hub 5G da NOS para conhecer, antecipadamente, algumas das soluções que vão ser mostradas na conferência.

Hopecare HCAlert – Telemonitorização de pacientes no conforto das suas casas

A Hopecare oferece uma solução de telemonitorização remota 24/7 chamada HCAlert. Este sistema analítico utiliza ferramentas de triagem clínica, de forma a atender e prestar assistência remota de uma forma mais simples. José Paulo Carvalho, fundador da empresa, explicou que o objetivo do seu negócio “é construir o hospital em casa, ajudando a acompanhar doenças crónicas, evitando que os doentes se desloquem aos centros clínicos”.

Hopecare
José Paulo Carvalho, fundador da Hopecare.

O primeiro ponto de contacto é feito através da sua aplicação num smartphone, fazendo a recolha dos dados através dos diversos equipamentos médicos de IoT, que a empresa diz ter mais de 30 fabricantes compatíveis conectados, entre balanças, termómetros, smartwatchs, etc. Basicamente muitos dos equipamentos que atualmente já recolhem dados clínicos, utilizados pelos pacientes, são compatíveis com o sistema da empresa. E todos os que são lançados com Bluetooth 5.2 são automaticamente compatíveis. “50% da população já tem um gleucómetro conectado connosco e capaz de fornecer os dados de glicémia”. A informação é recolhida de forma simples e automatizada, que através de um sistema de cores, de protocolos clínicos, permite saber logo se está bem ou mal. A vantagem do sistema é que os pacientes podem levar o registo em forma digital e apresentar ao seu médico durante as consultas.

Os algoritmos da aplicação da HCAlert permitem no hospital, em cardiologia por exemplo, ver em tempo real o que se está a passar na casa da pessoa, enquanto este recolhe os seus dados. O sistema de alarmística fornecer dados imediatos aos médicos, atuando se necessário. Um médico ou técnico especializado pode aceder à dashboard da aplicação e consultar todos os pacientes. “Um enfermeiro pode cuidar de 1.000 pacientes em simultâneo”, refere o gestor.

A empresa diz que tem uma solução “chave na mão”, em que os hospitais podem encaminhar pacientes para cuidar, neste caso montam os equipamentos em casa, as comunicações e oferecem um call center clínico gerido pela própria. A Hopecare diz que em Portugal gere 2.000 clientes em casa, no estrangeiro está na Áustria e Suíça, contando com mais mil. A empresa está em fase de expansão, depois de ter garantido a certificação médica para as suas soluções.

VR4ICU ajuda pacientes a recuperar dos cuidados intensivos através de realidade virtual

A VR4ICU é uma plataforma de realidade virtual com conteúdos para pacientes com necessidade de terapia física e neurológica. A solução pretende prevenir o Síndrome Pós Cuidados Intensivos, que afeta entre 50-70% dos sobreviventes a estas intervenções. Problemas cognitivos, tais como falta de memória, de concentração ou capacidade de resolução de problemas afetam 75% desses sobreviventes.

Através de VR pretende-se mitigar esses efeitos, através de exercícios básicos para os doentes internados. João Coimbra, médico do hospital de São João, explicou ao SAPO TEK que a reabilitação em todo o mundo continua a ser um grande problema, por falta de disponibilidade de recursos humanos e a tecnologia pretende colmatar a ausência de médicos especializados. “Quanto mais precoce for a reabilitação, melhor será. E a realidade virtual tem a vantagem de não estar limitada por horas do dia nem disponibilidade de recursos humanos e as pessoas podem utilizar ao longo do tempo”.

VR4ICU
João Coimbra, médico do hospital de São João

Este projeto académico utiliza os exercícios físicos e neuro cognitivos já estabelecidos e utilizados nas fisioterapias que são transformados em jogos de realidade virtual que os pacientes podem usar para treinar e recuperar. O projeto vai entrar em fase de ensaios clínicos, através do protótipo, no terceiro trimestre deste ano, contando com financiamento da FCT para o desenvolvimento da aceleração, até ao final do ano. Até lá procuram recolher o máximo de resultados de testes científicos. Há seis meses que o projeto está a ser testado, em ambiente de usabilidade.

ROSE - Ecografias remotas assistidas por robots

O terceiro projeto presente na apresentação é do Instituto Pedro Nunes e chama-se ROSE - RObot Sensing for tele-Ecography, um sistema de ecografias remotas, assistido por sistemas robóticos. O sistema permite a médicos e pacientes interagirem de forma remota. A máquina instalada para demonstração no showroom da NOS permitiu observar como o técnico controlava a máquina remotamente, observando nos ecrãs a ecografia, assim como a própria paciente, mantendo total comunicação bidirecional.

Cada sistema inclui duas estações robotizadas, uma do lado do médico, outra do paciente, assim como um conjunto de sondas ecográficas com uma base de dados dos pacientes na cloud, suportado por estruturas de comunicação através da internet, via 5G.

Rose
António Cunha, diretor executivo do laboratório de automática do Instituto Pedro Nunes.

O sistema promete mitigar viagens desnecessárias, seja do médico ou do paciente, suportados por novos serviços de supervisão técnica à distância e até colaboração internacional, sobretudo em zonas remotas onde não existe um radiologista de forma permanente. A tecnologia promete um controlo mais fino da posição e orientação da sonda, melhorando o conforto dos pacientes. O aumento da capacidade e rapidez dos serviços, maior segurança dos dados e menores custos das operações são apontados como vantagens.

A latência muito reduzida permitida pelas ligações 5G ganham maior importância pela necessidade de ter acesso às sensações hápticas do sistema. Ou seja, o técnico necessita de sentir a força da pressão feita na barriga, à distância, tal como estivesse presencialmente, como explicou ao SAPO TEK António Cunha, diretor executivo do laboratório de automática do IPN. Acrescentou ainda que neste momento estão apenas a ser feitas ecografias abdominais, mas é possível utilizar o sistema para a parte cardiológica e outro tipo de exames. “Neste momento está a validar para a parte abdominal”.

O projeto está em fase de validação para aceder à certificação. A tecnologia foi licenciada a uma empresa, que está a atrair os primeiros clientes, sendo o valor do sistema entre 150 a 200 mil euros. Quem controla a máquina tem de ser um médico certificado em ecografia, por ser muito complexo. Mas do outro lado do paciente, apenas é preciso ter alguém que faça a preparação, que o deite e aplique o gel no abdómen.

RObot Sensing for tele-Ecography
RObot Sensing for tele-Ecography.

Ainda não foi conseguida a patente para realizar as tele-ecografias, mas há uma patente pedida para utilizar a tecnologia na formação de alunos. “É uma segunda utilização que estamos a fazer com a máquina, e já temos alguns cursos em Coimbra, Lisboa, Barcelona e este ano na Irlanda para formar técnicos em radiologia”. Um curso que pretende democratizar o acesso dos técnicos de saúde à tecnologia, sobretudo em hospitais secundários que não têm acesso direto a professores. Para a certificação são necessárias dezenas de exames paralelos, comparando os resultados com as máquinas e os métodos convencionais, nos mesmos pacientes.