O presidente e CEO da Qualcomm, Cristiano Amon, esteve presente no Web Summit para uma conferência onde falou na transformação das experiências de utilização com os equipamentos com a ajuda da IA generativa. Existe cada vez mais utilização de linguagem natural e intuitiva na forma como se interage com os equipamentos, graças à inteligência artificial.

Cristiano Amon começou por “vender” o seu principal produto, os chips Snapdragon, presentes em muitos equipamentos como smartphones, tablets, automóveis, computadores espaciais, equipamentos de realidade virtual e aumentada, entre outros. A missão da empresa é permitir a computação inteligente em todo o lado. E essa transformação está a acontecer pela cada vez maior interligação de equipamentos, graças ao Wi-Fi ou 5G. A próxima geração de computadores, alimentado por IA, usam modelos inteligentes nos processadores.

Até aqui nada de novo, mas o que a IA vai fazer para os equipamentos que utilizamos no nosso dia-a-dia, perguntou Cristiano Amon ao público. Aponta que a IA está a ser desenvolvida em diferentes formas, não apenas em cloud, mas nos equipamentos edge (smartphones ou portáteis com NPUs). E não é preciso procurar muito para encontrar os efeitos da IA nos equipamentos que já usamos. A IA ajuda a obter uma maior performance e eficiência, diminui a latência e claro, a personalização da experiência de cada utilizador. Está também a ajudar a gerir a energia para baixar custos, sobretudo ao nível dos centros de dados.

Os computadores que usamos, segundo Cristiano Amon, existe um custo dinâmico, pois não temos de alugar o computador para ligar a um servidor Edge.

Mas a questão principal que destaca é como a IA generativa é vista como a nova interface de utilizador (UI). Diz que sempre que há uma nova geração de redes mobile, esta é acompanhada de uma nova “revolução tecnológica”. No 4G criou-se uma rede poderosa que permitiu ao smartphone transformar-se num computador pessoal. A tecnologia permitiu a todos terem um computador no bolso, uma revolução tecnológica criada pelo 4G, que mudou a experiência de utilização através do ecrã que vivemos atualmente.

Quando se fala agora no 5G, a baixa latência como principal bandeira, há uma nova grande mudança que se adivinha, neste caso na computação e na experiência de utilização, a IA generativa passa a ser a nova interface do utilizador. O CEO da Qualcomm aponta que a loja de aplicações e apps estão no centro da experiência dos utilizadores. A nova interface de utilizador abre um novo paradigma nas experiências das apps e acredita que vão criar valor e muitos vão aproveitar.

Explica que a IA generativa é a nova interface porque existe uma maior dinâmica de comunicação, as apps agora compreendem o que os utilizadores dizem, quando se interage com os computadores através de linguagem humana. E dá alguns exemplos práticos de aplicações que atualmente utilizamos e como estas se vão transformar quando forem desenhadas com a IA generativa no centro.

Nas apps bancárias, o seu design apresenta um ecrã principal onde diz rapidamente o balanço da conta, as últimas transações, etc. Se a app fosse criada com a IA no seu núcleo, essa informação já não era inicialmente mostrada. Seria desenhada para responder às perguntas do utilizador, seja o balanço, o progresso das poupanças, entre outras informações necessárias que seriam respondidas prontamente pela IA.

Em outra app de shopping, em vez de encontrar um produto que deseja, sair para a conta bancária para verificar se tem saldo para o comprar, passa a perguntar à IA se tem dinheiro suficiente para comprar e pedir para concluir a compra. Considerando que os modelos utilizados são multimodais, é possível utilizar a visão e reconhecimento de texto nas operações mais banais. Basta apontar a câmara a uma fatura e pedir ao banco para pagar a respetiva conta, apenas conversando com o equipamento.

Web Summit 2024
Web Summit 2024 Cristiano Amon, CEO da Qualcomm

Outro exemplo apresentado, uma pessoa quer sair com a mãe para celebrar o aniversario e usa três apps: a consulta ao calendário quando recebe a notificação de aniversário, uma para mandar a mensagem e outra para fazer uma reserva do restaurante. A IA vai permitir entrar numa única app para escrever, ter um lembrete do aniversário, pedir sugestões de restaurantes e ainda fazer a respetiva reserva, conversando e sem saltar entre aplicações.

A IA está sempre presente no equipamento e atenta ao que se escreve e o que se faz, mesmo de forma privada para o utilizador. Se escrever a alguém no WhatsApp a dizer que visitou o Palácio de Queluz, a IA prontamente vai apresentar as fotografias para mostrar na conversa.

O mesmo se aplica quando se utiliza o automóvel, que tem uma importância aumentada por estar atrás do volante. Através da IA basta falar para ter acesso a toda a informação que necessita. Cristiano Amon acredita que estamos apenas no início deste tipo de experiências, nesta nova geração de computadores, de smartphones. As máquinas compreendem a conversa, o que se escreve, o que veem e têm sensores para alimentar os agentes de IA.

Estes agentes vão interagir com os dados disponíveis para alimentar as experiências do computador. Sejam modelos visuais ou de textos, fotos, toque ou voz, tudo vai ser ligado a experiências. Uma nova abordagem na forma como se utiliza os computadores. E com isso, os humanos passam a ser a interface.

Os agentes estão em todo o lado, para contas diferentes e estão a criar um novo ciclo baseado em IA generativa. Sejam os wearables ou computadores espaciais, há uma evolução com a IA no centro. Quando a Meta e a Rayban fizeram a parceria, a ideia inicial era captar fotos e partilhar no Facebook. Agora já faz coisas bem mais avançadas com IA.

A Qualcomm mostrou-se disponível para criar uma plataforma para facilitar a criação de apps baseadas em AI. A Qualcomm AI HUB é uma plataforma aberta a todos para acelerar a criação de apps com IA. Os utilizadores podem mesmo criar o seu próprio modelo. E Cristiano Amon demonstra a grande excitação em torno desta tecnologia, onde a IA está a mudar os computadores e a forma como pensamos os sistemas operativos.

Os computadores evoluíram, começaram por ter um botão “Ask”, depois o rato permitiu a navegação pela interface, até ao momento atual onde afirma que uma app pode ser simplesmente um verbo: “comprar isto”, “photoshopa aquilo”. Os agentes de IA percebem todo o contexto e nesta nova visão, as apps precisam de se adaptar.

Espera, de forma otimista, que daqui a dois anos até cinco, as aplicações criadas de raiz para IA serão totalmente diferentes. Faz a comparação quando surgiram os primeiros smartphones, havia 10 apps, depois passadas semanas uma centena e meses depois a contarem-se aos milhares. Atualmente a IA está no início e contabilizamos os use cases em dezenas, mas daqui a uns tempos serão centenas e começa um novo ciclo.

Na conferência de imprensa depois da sessão, Cristiano Amon respondeu que os seus negócios na China não estariam afetados com a recente decisão dos Estados Unidos proibirem a TSMC de fornecer chips de IA às empresas chinesas. O líder da Qualcomm afirma que quando se tem tecnologia de liderança, não existe o perigo de haver cortes devido a questões geopolíticas.

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