A missão Hera da Agência Espacial Europeia (ESA) para defesa planetária captou as suas primeiras imagens, usando três dos instrumentos destinados a explorar e estudar os asteroides Dimorphos e Didymos.
Tudo começou com um lançamento bem-sucedido da missão, a 7 de outubro último, embalada pelo foguetão Falcon 9, da SpaceX. Na altura, também foram apresentadas vistas impressionantes da Terra. Nomeadamente, foi mostrada a superfície azulada do planeta ao lado do motor Merlin da segunda fase do Falcon 9, enquanto o veículo atingia a órbita de transferência interplanetária.
Após a chegada à fase de comissionamento próximo à Terra, a 10 e 11 de outubro, a missão Hera captou as suas primeiras imagens “próprias”, usando três dos seus instrumentos científicos. A Câmara de Enquadramento de Asteroides (AFC) registou um "adeus" à Terra e à Lua a cerca de 1,6 milhões de quilómetros de distância, mostrando o Oceano Pacífico iluminado pelo Sol.
Já o Thermal Infrared Imager (TIRI), desenvolvido pela agência espacial japonesa JAXA, também captou a Terra, focando a costa leste dos EUA e o Atlântico, a 1,4 milhões de quilómetros.
Por fim, o HyperScout H, uma câmara hiperespectral fornecida pelos Países Baixos, produziu uma imagem em cores falsas, revelando detalhes invisíveis ao olho humano, explica a ESA.
Veja as primeiras imagens registadas pela missão Hera
Estas imagens marcam o início da longa jornada da Hera, que tem como destino o sistema binário Didymos, onde só vai chegar em 2026.
O objetivo da Hera é fazer o levantamento detalhado dos efeitos do impacto da missão DART com o objetivo de transformar a experiência numa técnica que permita desviar asteroides sempre que seja necessário.
No caminho, passará “de raspão” por Marte, em março de 2025, o que servirá como um teste para os seus equipamentos e também como impulso gravitacional para depois alcançar o sistema Didymos/ Dimorphos, no final de 2026.
Clique nas imagens para mais detalhes sobre a partida da missão Hera
A operação de aproximação e navegação em torno de asteroides é um grande desafio devido às gigantescas velocidades e distâncias que o corpo celeste está da Terra.
O desafio pode ser comparado a "fazer acertar uma bala disparada a dois quilómetros noutra bala disparada a igual distância”, segundo explicou João Branco SAPO TEK, na altura em que a missão começou a ser preparada.
De acordo com a ESA, a nave espacial está equipada com orientação, navegação e controlo automatizados, para que possa navegar em segurança no sistema binário de asteroides, com funções semelhantes às de um carro autónomo.
Com um corpo do tamanho aproximado ao de uma mesa de escritório, transportará vários instrumentos, como uma câmara ótica de enquadramento de asteroides, complementada por geradores de imagens térmicas e espectrais, bem como um altímetro a laser para mapeamento de superfície.
A Hera é considerada uma espécie de nave espacial “3 em 1”, porque também vai assumir a responsabilidade de colocar o par de CubeSats que transporta nas proximidades de Dimorphos.
Ao Juventas compete realizar a primeira verificação por radar do interior de um asteroide, ao mesmo tempo que integra um gravímetro e um acelerómetro para medir a gravidade ultrabaixa do corpo e a resposta mecânica da superfície. Já o “par” Milani vai ser responsável por registar imagens espectrais de infravermelho próximo e recolher amostras de poeira dos asteroides.
Do tamanho de uma caixa de sapatos, os CubeSat vão manter contacto com a sua nave-mãe Hera, assim como um com o outro, através de um novo sistema de comunicação entre satélites, para reforçar a experiência na supervisão de vários instrumentos espaciais numa exótica quase ausência de peso, antes de finalmente pousarem em Dimorphos, sublinha a ESA.
A Hera contou com a participação das portuguesas Efacec, GMV e Synopsis Planet, que foram responsáveis pelo desenvolvimento de alguns dos elementos fundamentais para o sucesso da missão de defesa planetária da ESA.
Refira-se que a ONU estima que existam 16 mil objetos próximos da Terra, conhecidos pela sigla NEO, embora a maioria não represente qualquer perigo. Ainda assim, nas contas da ESA, há mais de um milhar que pode ter consequências catastróficas e daí as estratégias de alerta e defesa planetária em desenvolvimento serem tão importantes.
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