A Xerox comemora 120 anos no próximo ano, metade dos quais com presença direta em Portugal. Para festejar os 60 anos, a sucursal portuguesa especializada em impressão está a realizar algumas iniciativas internas, sobretudo uma reunião com os seus parceiros, clientes e distribuidores. Durante um encontro com jornalistas, no qual o SAPO TEK esteve presente, David Alcaide, diretor geral da Xerox Portugal e Espanha, fez um balanço da atuação da empresa no país, destacando o papel imprescindível dos seus distribuidores que ajudam em cerca de 95% da faturação no nosso país.

Não se tratando apenas na marca redonda do aniversário, destaca o trabalho que sempre foi feito para ver valorizada a sua presença em Portugal, no prestigio e reconhecimento da marca. “São 60 anos a liderar o mercado de forma espetacular”, destaca o líder da sucursal nacional, apontando que Portugal tem o maior market share do que qualquer outra divisão da empresa a nível mundial. “Em Portugal são líderes em todos os segmentos”. Ainda assim, mantém o pensamento da dificuldade em crescer quando se está na liderança.

Sobre a estratégia e o futuro da empresa no país, o objetivo continua a ser obviamente o crescimento, usando uma citação famosa de que “se não tentas crescer por definição, acabas por andar para trás”. Ao SAPO TEK explicou que o objetivo passa então por aumentar a equipa em 10%, salientando ser um plano ambicioso. No ano passado a Xerox Portugal somou uma faturação de 48 milhões de euros e prevê este ano crescer 2%. Explica que a empresa emprega 170 funcionários no país (mais de 16.500 em todo o mundo) e a sua otimização entre a faturação e pessoal permite-lhe ter um retorno de investimento “interessante”.

Xerox
Xerox Xerox 914 de 1959. Primeira copiadora de papel normal, capaz de executar sete cópias por minuto.

David Alcaide puxou do livro que marca o aniversário da empresa no país para destacar o compromisso com a inovação e investigação, que afirma fazerem parte do seu ADN. O objetivo continua a ser fortalecer o seu negócio principal que é a impressão e em dezembro iniciaram o processo de aquisição da Lexmark, atualmente ainda a aguardar as aprovações regulatórias, apontando para o segundo semestre deste ano a conclusão da fusão.

A empresa reconhece que o mercado está bastante maduro, as margens são mais pequenas, e as impressões em grandes tamanhos como o A3 vende-se cada vez menos, sendo agora o A4 mais comum. A aquisição da Lexmark, especialista em impressão A4 vem colmatar essa necessidade da multinacional. E numa altura em que se procura soluções mais baratas, a empresa tem que vender mais equipamentos para manter a faturação positiva. Com a compra da Lexmark espera em três anos ver o retorno e continuar a crescer.

Outro ponto salientado sobre a estratégia da empresa diz respeito à revisão feita de todos os processos internos, a nível global. Antes não havia uma unificação das ferramentas, tendo sido necessário encontrar um standard para unir todas as sucursais nos diferentes mercados.

Para se posicionar num mercado de nível superior, a Xerox fez uma parceria com a “scuderia” Aston Martin na Fórmula 1. A parceria, além de aumentar o prestigio na associação a uma marca com tecnologia de ponta, ter os stickers da Xerox espalhadas pelos automóveis permite-lhe uma exposição ao público que pretende alcançar. Na mesma forma, as documentações e necessidades de impressão da equipa ficam ao cargo da empresa.

A empresa pretende ter soluções a nível de TI, IA e software, através de parcerias estratégicas importantes com empresas como a Lenovo e a Microsoft, não apenas para aceder aos seus sistemas de cloud, mas pretende ser um intermediário na venda de computadores, licenças da Microsoft e outros serviços. A Xerox está a avaliar vender “soluções as a service”. David Alcaide diz que as empresas têm gastos de 1 a 3% em impressão, quando gastam até 30% em computadores portáteis e outros produtos.

O centro de digitalização da Xerox serve Portugal e outros sete países da Europa, destacando que passam 150 mil documentos mensalmente no seu serviço. Destaca a necessidade de contratar mais gente em Lisboa, por ser uma cidade muito atrativa, sobretudo para jovens profissionais. Em Portugal faz-se serviços de vendas em formato remoto para outros países, para distribuidores ingleses, alemães, franceses, italianos. Dá o exemplo de um jovem que começou a trabalhar em Lisboa ao telefone com clientes na Alemanha e atualmente é o diretor geral desse país, numa ascensão profissional de cerca de cinco anos.

David Alcaide
David Alcaide David Alcaide, diretor geral da Xerox Portugal e Espanha.

O crescimento da Xerox não demove o foco na responsabilidade civil. E sendo uma indústria ligada ao papel, pretende devolver ao planeta a plantação de árvores. Criou mesmo uma ferramenta para ajudar e incentivar os seus colaboradores a plantar, permitindo consultar as possibilidades dentro da área onde vive.

Recentemente anunciou em Las Vegas acordos para expandir os seus serviços em outros segmentos do mercado, tais como a impressão de etiquetas e embalagens de maior gramagem de produtos que muitas vezes não justificam grandes quantidades, tais como medicamentos ou estética. A impressão de injeção de tinta de grandes proporções A4 e A3, assim como impressões de bobina contínua são áreas a explorar.

Estratégia de investimento em inteligência artificial

Para David Alcaide, não há volta a dar no que diz respeito ao tema da inteligência artificial, tendo diversos projetos ligados a esta tecnologia. Em junho do ano passado, lançou a primeira impressora multifuncional do mundo com IA, destacando as aplicações que tem no interior do equipamento que são capazes de aprender com a utilização. A forma como se faz as cópias e as impressões são registadas, para que na possa seja um processo mais rápido, consumindo menos energia.

A Xerox lançou recentemente uma ferramenta de IA para serviços técnicos que ajudam os clientes a identificar rapidamente os códigos de erro. Os sistemas aprendem e listam os passos para a reparação, diminuindo o tempo necessário do técnico. David Alcaide diz que 95% das reparações são feitas na primeira visita, o que significa clientes mais contentes e menos poluição nas deslocações.

Apesar do investimento em IA, a empresa demarca-se que pretende utilizar a tecnologia de forma ética. Explorando o tema da IA com o SAPO TEK, David Alcaide explica que pretende otimizar os seus equipamentos com a tecnologia. Mesmo considerando que a IA diminua naturalmente os postos de trabalho, considera que esta é uma ferramenta para ajudar, mas que é necessário compreender a sua utilização. A sua utilidade só serve se ajudar as empresas a crescer e não necessariamente para despedir pessoas, ser sim capaz de dar aos funcionários melhor qualidade para executarem o seu trabalho.

Xerox
Xerox

Considera que há muito desconhecimento em geral tanto das grandes empresas como PMEs, e aponta estatísticas que dizem que 70% dos gestores das empresas que querem usar a IA, mas estão preocupados porque não sabem como. Mas considerando que a adoção não é muito rápida, dá tempo para aprender e a amadurecer. Internamente, a Xerox diz estar a aprender a usar o Copilot e afirma que no ano passado obrigou os funcionários a tirar um curso sobre as boas práticas no uso de IA e assinar um compromisso de sanções no uso indevido.

Em resposta ao SAPO TEK sobre o impacto que as tarifas de Donald Trump possam ter na empresa, David Alcaide diz que é uma situação preocupante e que ninguém consegue para já antever o que vai acontecer. Ainda assim, na sua opinião pessoal está otimista, considerando que vai durar pouco, porque esta aceleração é “louca e brutal”, bastando olhar as taxas submetidas à China. Acredita que não deve durar muito e por isso vai ter pouco impacto, permitindo uma recuperação rápida da bolsa. “Caso contrário, ninguém sobrevive”.

O TEK desafiou o líder da Xerox Portugal a apontar os principais pontos-chave nestes 60 anos. O primeiro ponto de destaque é o profissionalismo de todos os elementos da equipa nacional, que acredita ser um fator diferenciador em relação a outras sucursais no mundo. O rigor da equipa em requer fazer as coisas da melhor forma possível e nunca estar satisfeita. Considerando o seu passado, presente e futuro com a inovação, esse é o segundo ponto de destaque.

A necessidade de encontrar soluções práticas para os desafios que surgem levam em terceiro à palavra-chave “constante”, pensar no caminho certo a seguir e dar os passos corretos para o conseguir. Por fim, em quarto, o cuidado com as pessoas que trabalham na empresa. Salienta a fama que a Xerox tem em tratar bem as pessoas coloca-la de forma habitual no Top 10 das melhores empresas para trabalhar no país.