A inovação tem estado sempre ligada ao Rock in Rio, e se há 40 anos a primeira abordagem foi pela música, e para dar voz ao Rio de Janeiro e a uma juventude que lutava pela liberdade de expressão no pós ditadura, os tempos levaram a uma evolução da mensagem. A ideia de juntar pessoas por um mundo melhor foi assumida em 2001 e a intensificação do papel das marcas na construção desse mundo trouxe ao evento novas áreas para explorar as temáticas que continua a ser o pilar do evento que marca a agenda também em Portugal. Agora a Rock World, a empresa por trás da organização do festival de música, quer criar uma a Smart City of Rock e Lisboa é o laboratório para novas ideias tecnológicas.

“Queremos reforçar que a vida é lifetime e não screen time. É sobre estarmos juntos, sobre conexões humanas e sobre estamos presentes. Ainda assim o mundo está cada vez mais tecnológico e a tecnologia deve jogar a nosso favor. Não é má, precisa de ser usada corretamente em prol dos nossos interesses”, defende Roberta Medina, responsável pela realização do Rock in Rio em Lisboa.

Além da música, a experiência do Rock in Rio já é muito alimentada pela tecnologia, que suporta o entretenimento e a experiência dos visitantes da “Cidade do Rock” que é instalada a cada dois anos em Lisboa. “Já ninguém se lembra, mas nos últimos anos houve uma revolução na vida das pessoas […] agora passamos telemóvel para entrar no pórtico e não temos papelinhos para a área da alimentação”, lembra Roberta Medina. Em entrevista ao TEK Notícias explica que em muitas áreas o Rock in Rio já foi inovador, como na gestão dos acessos, na optimização da energia, no uso das redes móveis e WiFi e até na informação da ocupação das casas de banho.

Mas o objetivo agora é usar este conhecimento, e o “laboratório” da Cidade do Rock, para mostrar o potencial da tecnologia em ação, dando visibilidade às soluções que são de desenvolvidas para gerir o espaço de forma mais inteligentes, e que podem ser replicadas em smart cities.

O espaço criado para o Rock in Rio é apontado como uma base de testes ideal, pela elevada concentração demográfica e as condições da própria localização, com desafios na gestão de dados, segurança e sustentabilidade. “Queremos mostrar esta camada de tecnologia e a forma como pode ser usada pelo bem”, realça.

E isso não vai contra a ideia de “lifetime”? A responsável pelo Rock in Rio destaca a valorização do lado humano e quer separar os temas, “mostrar a tecnologia pelo bem, ao mesmo tempo que promove mais ligações e lifetime, em vez de tempo de ecrã”, garantindo que não há incompatibilidades. “A tecnologia resolve muitos problemas”, salienta.

O desafio é para que as empresas tecnológicas e as marcas usem o Rock in Rio como um “grande laboratório”, onde podem testar a tecnologia e as soluções, validar a adesão dos utilizadores e avaliar o que funciona num ambiente de grande concentração de pessoas. “É trazer a tecnologia para a conversa sem ser na perspetiva negativa”, justifica Roberta Medina.

Cidade inteligente, mas temporária

Egon Barbosa, CEO da Liquid Innovation Co, é o parceiro do Rock in Rio Lisboa para construir a Smart City of Rock, e diz que este é um “desafio muito grande”. “O repto foi ‘precisamos de inovar mais’. Como mais? O Rock in Rio já é um dos que puxam pela inovação no mundo!”, explica, em entrevista ao TEK Notícias.

Roberta Medina e Egon Barbosa Rock in Rio Lisboa
Roberta Medina e Egon Barbosa Rock in Rio Lisboa Roberta Medina e Egon Barbosa Rock in Rio Lisboa créditos: RIR

O modelo de inovação que está no ADN do Rock in Rio torna mais fácil montar o puzzle, sempre com a inspiração de criar um mundo melhor. “Não vamos pensar na tecnologia por si mas pelo benefício”, explica. E o papel do projeto da Smart City of Rock é ser uma inspiração para outras cidades do mundo, que podem tornar-se mais inteligentes. Para o CEO da Liquid Innovation este vai ser um laboratório urbano à escala real onde vão ser testadas soluções inovadoras de mobilidade, energia, segurança, saúde, sustentabilidade e entretenimento.

O primeiro teste já foi feito em 2024, quando o Rock in Rio acolheu oito startups tecnológicas para testarem aqui as suas soluções. A Alfa Lupo, Framedrop, Katchit, Virtual.Town, Mantis.AI, Neroes, PluggableAI e WindCredible foram integradas no Tech Rocks Experience, que agora ganha maior dimensão.

Estas são algumas das imagens da tecnologia no Rock in Rio Lisboa

Egon Barbosa explica que está a ser criado um consórcio de empresas com interesse em soluções de smart cities, e que abrange desde as big tech às empresas de infraestruturas, universidades e entidades governamentais. Na lista das que já aderiram estão, por exemplo a Unicorn Factory e a Câmara de Comércio do Canadá, mas esta é uma plataforma aberta a colaboração em Portugal e na Europa.

O movimento “já está a acontecer” e Roberta Medina diz que há um elemento diferenciador entre a proposta do Rock in Rio e a de outros eventos de tecnologia. “O que trazemos para o mundo da tecnologia é a possibilidade de uma relação mais próxima e um modo mais fun”, explica, “vou viver a tecnologia […] parte já está lá, mas ninguém sabe”.

A ideia é que este “laboratório” possa aumentar o investimento na área, mas Roberta Medina recusa a ideia de que estes projetos possam canibalizar os investimentos do próprio Rock in Rio em tecnologia. “O Rock in Rio vai continuar a contratar tecnologia”, garante. “Vamos potenciar para criar um caso de uso que pode ser replicado na indústria”.

A colaboração entre diferentes entidades é também realçada por Egon Barbosa. “Uma smart city não se faz sozinha”, lembra o CEO da Liquid Innovation que destaca o facto de “na prática vão ter um case disruptivo experimentado num ambiente com muita vibração positiva”.

O que estamos a oferecer não existe no mercado”, afirma, referindo ainda que as startups não têm de pagar para participar, mas sim construir a solução com a possibilidade de terem um palco de mais de 400 mil pessoas a usar, num ambiente denso e testado no pico por 12 horas,  e isso pode servir de rampa de lançamento. “É uma arena poderosa […] podem amplificar para o mundo inteiro”.

A expectativa é elevada, mas 2026 é ainda o primeiro passo do projeto. “Não esperamos ter a Smart City of Rock completa no próximo ano. É o primeiro milestone. Ano a ano vai ter mais soluções mas este é um caminho sem volta”, defende Egon Barbosa.

Para já o calendário está definido e nos próximos meses será necessário fechar as parcerias até o “corte final” das soluções, que tem de estar fechado até novembro em tudo o que seja infraestruturas e exija “materialização”, mas que ainda tem alguma margem para adicionar mais inovação. E tudo será testado ao vivo e em direto em junho de 2026, entre os dias 20 e 21, 27 e 28, na Cidade do Rock.