Um estudo divulgado esta semana revela que quase metade dos donativos feitos às campanhas eleitorais para as presidenciais norte-americanas por empresas vêm da indústria da criptografia. Os dados foram compilados pela ONG Public Citizen, que contabilizou cerca de 119 milhões de dólares em apoios aos candidatos de uma indústria cujo futuro será seguramente influenciado por próximas decisões políticas, num mercado ainda com muito para regular.

Longe destes valores na corrida à Casa Branca estão outros sectores, tradicionalmente grandes financiadores de campanhas eleitorais, como a indústria do petróleo ou a banca, naquilo que talvez seja num sinal dos tempos e na lista de apoiantes cripto destacam-se duas empresas pelo volume de donativos realizados.

Coincidência ou não, a Coinbase e a Ripple, que foram duas das empresas mais visadas pelo escrutínio do regulador do mercado de capitais durante a administração Biden, são responsáveis por 80% dos donativos do sector, detalha a CNCB. Só a Ripple foi multada em 125 milhões de dólares pela SEC durante o mandato de Biden. Ainda assim, gastou bem menos a tentar influenciar um futuro menos penalizador.

A maior parte das verbas vão para as PACs que apoiam candidatos com posições públicas a favor da indústria dos ativos e moeda digital e de um enquadramento legal que favoreça o desenvolvimento destas atividades. Revela também que o financiamento das empresas do sector está a chegar tanto a candidatos democratas como republicanos.

O estudo também mostra que, desde que o supremo tribunal de justiça norte-americano limitou os donativos de empresas às campanhas eleitorais, em 2010, a indústria cripto foi responsável por 15% do financiamento angariado por essa via, sendo que 90% dessa verba foi gasta neste ciclo eleitoral. Nestes 14 anos, só o lobby dos combustíveis fósseis doou mais para campanhas.

As super PAC são os instrumentos legais para a recolha dos donativos de empresas que financiam as campanhas, depois da alteração legal que quis tornar estas ligações mais transparentes, com resultados pouco consensuais. A Fairshake é uma das mais populares no apoio à indústria cripto. Foi fundada pelos responsáveis de algumas das empresas mais influentes do mercado e é bipartidária. Dados de uma outra pesquisa revelaram nos últimos dias que só esta super PAC tem 120 milhões de dólares para gastar nos menos de 80 dias que restam até às eleições de novembro.

As campanhas financiadas pelo grupo, na maior parte dos casos, não têm referências diretas a moedas digitais nem a temas específicos deste mercado. O foco tem passado mais por promover apoiantes da indústria, sem falar dela, e desacreditar opositores, usando mais técnicas tradicionais do que colocando o foco em temas cripto, referem várias fontes contactadas pela CNCB.

O lobby está igualmente empenhado em tirar partido da abertura da equipa de Kamala Harris para adotar uma postura mais aberta em relação à indústria e mais orientada para a inovação do sector. Essa linha de pensamento da candidata já foi assumida e já foi saudada por responsáveis da indústria, como Faryar Shirzad, responsável pela interação da empresa com entidades públicas, a admitir que há uma abordagem construtiva nos diálogos mantidos.

A campanha de Trump, ao mesmo tempo que ataca o apoio dos democratas a uma indústria especulativa, pisca o olho às empresas que a controlam. O ex-presidente já fez mesmo uma promessa no seu estilo habitual em relação à indústria cripto, se ganhar as eleições dos Estados Unidos. “Esta tarde, estou a apresentar o meu plano para garantir que os Estados Unidos sejam a maior capital cripto do planeta e a superpotência bitcoin no mundo”, prometeu num comício, e já depois disso garantiu ter recolhido 25 milhões de dólares em donativos da indústria.