Os prejuízos são estimados pela Polícia de Segurança Pública e têm em consideração o número de denúncias recebidas ao longo do ano passado, relacionadas com a burla que ficou conhecida como "olá mãe, olá pai". Durante o ano passado, a PSP recebeu 4312 denúncias de burlas deste tipo e estima que os prejuízos associados a este tipo de esquema tenham gerado prejuízos para as vítimas - e receitas para os burlões - de 5,3 milhões de euros.
Nos primeiros 15 dias deste ano foram recebidas pela mesma polícia 126 queixas de tentativa de burla com o mesmo esquema e estima-se que os prejuízos acumulados possam ter ascendido aos 245 mil euros. A PSP tem ainda para partilhar dados de 2022, relativos aos últimos três meses do ano, período em que recebeu 1.300 queixas e para o qual calcula prejuízos de 1,6 milhões de euros.
O esquema consiste em enviar mensagens, normalmente via WhatsApp, para uma potencial vítima simulando o contacto de um filho/filha a precisar urgentemente de uma transferência de dinheiro para resolver um problema. Quem recebe o contacto pode nem ter filhos. Noutras vezes pode ter e acreditar no pedido, seguindo as indicações dadas na mensagem e avançando com a transferência pedida, sem sequer verificar se o contacto diferente que o dito filho ou filha está supostamente a usar para fazer o pedido é de facto seu, ou está mesmo a ser usado por si.
A PSP tem partilhado várias recomendações que devem ser seguidas por quem recebe um contacto deste tipo. Desde logo, tentar fazer uma chamada para o número de onde são enviadas as mensagens, para perceber se quem está do outro lado é quem diz ser.
Normalmente, os burlões convencem as vítimas da autenticidade da comunicação explicando que o contacto não é feito do número habitual do filho ou filha porque o telemóvel se perdeu, ou há algum problema com o cartão, o que não deve bastar para confirmar a autenticidade das mensagens.
Outras estratégias que as potenciais vítimas podem usar, para perceber se estão em risco de cair numa burla, é ligar para o número habitual do filho ou filha e verificar se de facto esse contacto está ou não operacional. Outra opção ainda é aproveitar a troca de mensagens, que em alguns casos se prolonga durante horas, para fazer algumas perguntas ao suposto familiar, às quais só ele ou ela saibam responder, sobre datas de aniversário, ou detalhes da vida doméstica, por exemplo.
As burlas "olá mãe, olá pai" têm persistido, mesmo com todos os alertas das autoridades e com algumas detenções importantes e estão entre os esquemas que podem ser agravados com o contributo da inteligência artificial. A mesma tecnologia deepfake que serve para alterar imagens e pôr a circular na internet nudes da Taylor Swift, ou de uma colega de escola, também tem aplicações para modificação de voz, que já começou a ser usada para burlas.
Rui Shantilal, managing partner da Devoteam Cyber Trust, um dos especialistas que falou como SAPO TeK sobre os desafios que IA está a trazer para a área da segurança informática, deixa o alerta e antecipa que este tipo de esquemas vão tornar-se “muito mais sofisticados com a possibilidade de utilização da IA a simular a voz e as imagens/vídeos” dos supostos filhos.
Neste artigo contamos também a história de uma mãe do Arizona (EUA), que no ano passado recebeu uma chamada com uma alegada tentativa de sequestro e pedido de resgate pela filha de 15 anos. Na chamada ouviu uma voz igual à da filha a pedir ajuda e um homem a solicitar um resgate de 1 milhão de dólares. Não chegou a cair na fraude, porque conseguiu rapidamente perceber que a filha estava bem, mas nunca duvidou do realismo da voz ao telefone, que tinha sido criada a partir de um programa de inteligência artificial.
Há programas gratuitos que permitem fazer esta alteração e que precisam apenas de alguns segundos da voz real, gravada a partir de uma chamada, de uma apresentação pública ou de qualquer outra forma. A partir dessa amostra geram outras frases com uma voz praticamente igual à original.
Com outros fins, mas foi também o que aconteceu recentemente nos Estados Unidos com as alegadas chamadas de Joe Biden para eleitores, a desencorajar o voto nas primárias em New Hampshire. As investigações já mostraram que duas empresas do Texas estão envolvidas no esquema de criação das mensagens automáticas com IA, a partir da voz do presidente americano.
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