Existem muitos cursos online de como ganhar dinheiro, muitos deles baseados em esquemas de pirâmides, com promessas de se tornarem milionários rapidamente. Mas no caso de Joana Sá, a mentora da Escola de Liberdade Digital, o objetivo é potenciar as mulheres ensinando no campo da “educação online”. O objetivo é ajudar as suas estudantes a criar e a lançar os seus próprios produtos em forma de cursos e mentorias, e outros formatos na internet, de forma a rentabilizar o seu conhecimento pessoal.

“Ninguém te vai ensinar como faturar 100 mil euros num cursinho de 100 euros”. Esta é uma das mensagens na sua conta do Instagram, uma das redes sociais onde partilha o seu conhecimento. E que no fundo serve de mote ao seu conceito de criar “Girlbosses”, ou seja, ajudar as mulheres a tornarem-se financeiramente independentes através da venda dos seus produtos.

Joana Sá tem 29 anos e criou a sua escola digital em 2019, num período antes da pandemia. Os seus cursos assentam no desenvolvimento das próprias marcas dos seus alunos, referindo-se à liberdade digital, uma vez que não existem “prisões” geográficas, mas também financeiras.

A sua definição de “Liberdade Digital” assenta em quatro pilares: a geográfica, que é a possibilidade de poder trabalhar em qualquer lugar, de um café num país qualquer, por exemplo; a liberdade financeira por não estar preso a um ordenado físico, mas sim ter rendimentos ativos e passivos. O facto de não estar dependente de trabalhar ativamente para gerar rendimento, além de não ter limites nos seus ganhos; a liberdade de horários, pois cada pessoa define o seu tempo para as atividades, ou para se dedicar a mais fontes de rendimento. Diz que no seu caso está agora a investir no estudo do mercado mobiliário; por fim, a liberdade de não estar dependente de qualquer crise, seja uma pandemia ou uma guerra que afete os seus negócios e obrigue a fechar portas. Apenas está “presa” à Internet, pela sua necessidade na criação dos conteúdos didáticos.

Joana Sá tem como background as agências de publicidade, foi gestora de redes sociais até ao final de 2018. Tem formação superior em comunicação social e trabalha desde 2014. No final de 2018, início de 2019, sentiu que queria ter o seu próprio negócio online, uma vez que desejava um estilo de vida que os seus empregos não lhe poderiam dar. Aprofundou o estudo no trabalho remoto e serviços online, iguais aos que fazia numa agência, mas também fez por conta própria a gestão de redes sociais e marketing de empresas. No entanto, descobriu que as pessoas gostavam mesmo era de aprender consigo e com a sua experiência de como abrir os seus negócios. Atualmente a sua escola conta com mais de 1.100 alunos desde que começou.

Organizou uma primeira conferência em Portugal, em outubro de 2019, no ISCTE sobre trabalho remoto, onde estiveram empresas como a Forfetch e a SIC, interessados em aprender sobre o assunto. O seu trabalho centra-se no empreendedorismo digital, mas estava longe de imaginar que poucos meses depois chegaria a pandemia de COVID-19 a Portugal. “Nós estávamos a querer implementar essa realidade, do lado das empresas, mas passado quatro meses foram mesmo obrigados a fazer isso. Muitas empresas e negócios online que surgiram de pessoas que ficaram desempregadas e tiveram de arranjar soluções de rendimento”.

Veja na galeria exemplos das mensagens de incentivo de Joana Sá na sua rede social:

Muitas pessoas descobriram que poderiam rentabilizar a sua experiência online, “pois todos têm um computador e acesso à internet, podendo fazer os seus vídeos, consultoria online e mentoria”. Joana Sá refere que não existe investimento a comprar equipamentos, a necessidade de alugar espaços físicos ou preocupar-se com fornecedores. Além da liberdade que muitas pessoas estavam à procura. “O ano de 2020 e 2021 foi muito bom para o meu negócio”.

Como se tornar numa “Girlboss”

Referindo-se como especialista em estratégia digital, começou em 2019 a criar os seus produtos online, incluindo mentorias e workshops. Lançou muitos títulos digitais, chegando ao ponto em que sentiu que tinha um método próprio para executar os trabalhos. E foi o que fez, pegar nesse método e transformá-lo num produto. E segundo afirma, está a ter sucesso, pois as pessoas que entram nos seus cursos aprendem o seu método, referindo que algumas pessoas que praticamente não tinham faturação, passaram a faturar 150 mil euros em dois meses, sendo obrigadas a criar empresas. “Há resultados reais de pessoas que começaram do zero”. Esses resultados positivos parecem funcionar de boca a boca entre os alunos.

A especialista digital diz que a sua escola tem dois tipos de matrículas: o básico e o avançado. No básico oferece um método de oito etapas e não se trata de marketing, mas sim de educação online, que por si já inclui o marketing. “Marketing é marketing, e vendas são vendas”, refere dizendo que muitas pessoas não sabem bem diferenciar as duas. E diz que muitas pessoas não sabem ao certo o que devem ensinar. Muitos pensam que é sobre a sua área profissional, mas por vezes têm talentos guardados para si que não exploram. E dá o exemplo de alunas que trabalham na banca, mas que têm conhecimentos de gastronomia e por isso podem passar a ensinar técnicas a outras que pessoas que não sabem. “Não se trata apenas de ter um diploma, mas ter o autoconhecimento naquilo que as pessoas realmente são boas”. A primeira pergunta a fazer-se é mesmo “Sou expert no quê?”

O passo seguinte é passar de uma pessoa anónima, não conhecida por ninguém, que passa a ser uma autoridade digital sobre os seus assuntos. “Uma pessoa que dê consultas num escritório físico, se não ser aulas no digital, nunca vai ser uma autoridade digital”. Explica que o objetivo é compreender a estratégia do online, de como atrair pessoas para o seu perfil e não apenas ter um número de seguidores. “As pessoas não têm de ter muitos seguidores para terem sucesso, mas sim terem os seguidores certos para comprar os seus produtos”.

Outro ponto que realça é que o lançamento de um produto é composto por várias fases. “Há uma estratégia de semanas para trás quando chega o dia anunciado que algo vai acontecer. Estas etapas são a grande diferença, as pessoas compram um método e não um puzzle para montar”. Diz que ensina estratégias validadas a funcionar e que podem funcionar na sua área. Além disso, as pessoas terem acompanhamento.

E é nesse caso que oferece a matrícula avançada, que para além de aprender o seu método ainda recebe mentoria em grupo por um ano. “Aprender online pode ser solitário. Raramente as pessoas têm amigos online a abrir um negócio para partilhar ideias. Com o seu grupo são partilhadas questões e dificuldades, para além das oportunidades de networking. Na sua oferta, constam ainda cursos complementares de design no Canva e outro de tecnologia.

Cursos são direcionados para mulheres, mas não exclui os homens

Joana Sá é bastante ativa na rede social Instagram, partilhando mensagens constantes de incentivo aos seus seguidores, sobretudo direcionadas a um público feminino. Esse é o seu público-alvo, por sua opção, por ter uma comunicação mais eficaz. Considera que existe uma parte emocional e psicológica que funciona melhor do que com o público masculino, além de gostar do envolvimento pessoal em cada caso. Mas também tem alunos masculinos e está aberta a isso, mas refere que para isso tem de mudar a comunicação.

Também distingue a diferença entre curso, mentoria e consultoria. O primeiro refere que tem de ser prático e estratégico para as pessoas terem resultados. “Certos cursos parecem sagas do Harry Potter que nunca mais acabam. Têm taxas de visualização muito baixas e não aplicam os conhecimentos. Esses casos depois não têm feedback dos resultados e não vendem muito”. A mentoria é sempre ao vivo e é dado por alguém que já passou por aquilo que o aluno está a passar, não podendo ser apenas teoria. “Se está a dar uma mentoria a alguém de como alcançar uma faturação de um milhão de euros e nunca obteve esse resultado, não está a passar essa credibilidade”. O objetivo é orientar pelo caminho certo, evitando os erros pelo qual passou.

Por fim, uma consultoria é apenas uma sessão ou um pack de duas ou três sessões e servem para resolver problemas muito específicos, seja a nível individual ou em grupo. Por exemplo, de como organizar uma viagem ao Bali, em vez de repetir para cada pessoa interessada, faz-se uma sessão de grupo.

Considera que as principais dificuldades das suas alunas passam pela insegurança frente às câmaras, assim como o medo de arriscar. “As pessoas podem dar serviços 1-1, mas depois para passar a algo maior, para mais público, a exposição pode ser um entrave, com maior frequência e mais consistência”. Destaca que a exposição em vídeo, as live streams podem ser preocupações devido a julgamentos que podem receber. Por outro lado, o medo de não vender, a vergonha de lançarem algo novo e ninguém comprar.

Joana Sá Lidera a Escola de Liberdade Digital
Joana Sá Lidera a Escola de Liberdade Digital

Além disso, outro receio é não obterem as faturações altas. “Olham para quem está no digital com sucesso e não acreditarem que podem ter um negócio com sucesso. E isso deve-se ao facto de não serem valorizadas financeiramente”. Joana Sá dá o seu exemplo pessoal que antes de começar o seu negócio tinha um ordenado médio comum e quando começou não conseguia visualizar o seu crescimento. “Ninguém é ensinada a ser empreendedora”.

Por fim, sobre o feedback das suas alunas, salienta que o seu canal do YouTube está repleto de depoimentos de várias alunas, desde a ilustração, meditação, nutrição e outras áreas onde são partilhados os resultados. “Esses vídeos são públicos e dizem tudo sobre o sucesso”. Sempre que começa um curso faz um evento de quatro dias para mostrar os resultados. Além disso, toda as quintas-feiras tem uma aula gratuita, tendo somado quase 70 aulas. Considera que as pessoas devem fazer as avaliações para mostrar a eficácia dos seus cursos.

No entanto, diz que como outras realidades, há sempre pessoas que não acabam ou não se aplicam. “Não há milagres, se acumulam conhecimento e não o aplicam, não há nada a fazer”. Reforça que ainda existe falta de comprometimento. “É como ir ao ginásio, primeira semana entusiasmados vão todos os dias, na seguinte faltam algumas vezes, na terceira nem colocam lá os pés”.  E é por isso que também dá aulas de motivação, de estudo, mas diz que as pessoas não devem pensar que quando compram um curso, no dia seguinte desejam obter rendimentos.