O ano era 2010 e surgia no YouTube um vídeo com pouco mais de quatro minutos sobre uma ida aos Estados Unidos, repleto de trocadilhos entre inglês e português e com uma pronúncia que não deixava ninguém indiferente. Mais de 10 anos depois, o vídeo viral Helfimed foi à América continua a ser um dos mais populares no canal criado pelo comediante e criador de conteúdo Hélder Medeiros.
Ainda antes, a série de vídeos E se fosse feito nos Açores já somava visualizações e gargalhadas na plataforma e ao SAPO TEK, Hélder conta que, na altura, o vídeo nem tinha sido algo detalhadamente planeado. “É daqueles exemplos típicos de que às vezes mais vale pensar pouco e fazer do que pensar muito e não fazer. O vídeo viralizou e hoje ainda é dos mais vistos”, realça.
Para o criador de conteúdo, a viralidade abriu novas portas: de fazer atuações ao vivo a ter popularidade suficiente para ter um programa na televisão, como mais recentemente o 9 coisas que não sabes sobre… na RTP Açores. “Mas essas coisas não acontecem de um dia para o outro”, explica.
Todas as novas oportunidades implicaram também muito trabalho e muita produção de conteúdo, algo que nem sempre é reconhecido e Hélder recorda uma ocasião em 2019, pela altura em que começou a aparecer na televisão.
“Alguém uma vez perguntou-me: «Então como é que te sentes agora com esse sucesso instantâneo?». Eu olhei para ela e disse: «Foi um sucesso instantâneo que levou 20 anos a construir»”, conta, lembrando que, para lá do YouTube, onde começou em 2007, já fazia comédia em palco e muito mais desde 1998.
Mas, a par das oportunidades, chegou também a pressão, que continua a sentir. “Acho que é normal na vida de qualquer artista e tipo de arte”, explica. “Por exemplo, com a música. Lanças um primeiro álbum, tens aquela música que é um hit e, a partir daí, as pessoas querem é que tu faças a mesma música para o resto da vida, o que é impossível”.
Nas suas palavras, agradar ao público como da primeira vez é impossível e chega um ponto que é necessário fazer uma escolha. “Ou trabalhas incessantemente para querer agradar ao público e transformas-te em algo que não és”, ou “tentas simplesmente evoluir à medida que o tempo passa, na esperança que continues a agradar às pessoas”, afirma.
Nos últimos anos, o panorama online mudou muito e Hélder sente que, para alguém que está neste mundo desde 2007, “a luta é triplamente difícil” para manter a relevância “no meio do ruído que existe na Internet”. “Há muitos youtubers e produtores de conteúdo da minha geração, que começaram quando eu comecei, que ficaram pelo caminho”, afirma.
Manter a relevância atualmente é um jogo com múltiplas facetas, entre algoritmos, mas também as preferências das novas gerações e até a evolução das próprias plataformas.
“As pessoas conhecem-me ainda através do YouTube, mas para mim já nem é a minha ferramenta principal. Hoje trabalho muito mais, mas mesmo muito mais, no Facebook, no Instagram ou até mesmo no TikTok do que no YouTube”.
Mas, para Hélder, que hoje se vê menos como um youtube e mais como um produtor de conteúdo, uma coisa é certa. “A minha filosofia é muito simples: tento produzir conteúdo que eu gostaria de ver”.
Dos Açores para o mundo
Segundo o criador de conteúdo, a viralidade do vídeo Helfimed vai à América e de muitos outros na sua coleção “provou que é possível viver no meio do oceano e trabalhar no nosso cantinho no sótão e alcançar pessoas no outro lado do mundo”.
A sua identidade como açoriano é algo bem marcado no conteúdo que produz, inclusive nos vídeos onde desmistifica num tom humoroso algumas das ideias erróneas que as pessoas costumam ter em relação aos Açores. A questão da pronúncia, por exemplo, é uma delas.
“A minha pronúncia é micaelense e não açoriana: uma pronúncia açoriana não existe. A minha pronúncia é de uma ilha, e nós somos nove. Mas percebo e até já fiz vários vídeos a gozar com isso e acho que ninguém leva a mal”, detalha.
“A questão da pronúncia já me abriu muitas portas, mas também já me fechou muitas portas”, admite Hélder Medeiros.
Por um lado, este é um dos aspetos que o diferencia que outros criadores, ao ponto de ser uma parte quase inseparável da sua identidade. “Também me fechou muitas portas, especialmente quando se trata dos media tradicionais”, indica.
“Sinto que não é tanto uma questão de as pessoas não levarem a sério”, afirma. “É mais uma questão da pronúncia não ser bem aceite em certos meios e a prova disso é que a maior parte dos meus colegas que trabalham nos media tradicionais no continente tiveram que perder a pronúncia senão não arranjavam emprego”.
Embora existam pronúncias que sejam mais aceites do que outros, porque já há uma maior familiarização, Hélder sente que noutras há “uma falta de exposição”. “As pessoas ainda não ouviram o suficiente para perceber e para o ouvido sintonizar automaticamente”.
Como criador de conteúdo, os seus projetos vão mais além do online e também marcam presença no mundo da literatura com três romances policiais já publicados, a par de muitas outras participações em obras literárias.
“Geralmente as pessoas pensam no sentido inverso: como eu comecei a ser conhecido pela comédia e pelas redes sociais, as pessoas pensam que eu fiz isso e depois comecei a escrever. Na verdade foi ao contrário: eu comecei a escrever e depois fiquei conhecido nas redes sociais”, explica.
“Quer queiramos quer não, a base de tudo o que eu faço, de um simples vídeo no TikTok a um programa na televisão, é a escrita, realça, acrescentando que a evolução para um livro foi um passo lógico na evolução da sua paixão por esta arte.
“Escrever é das coisas que mais gosto de fazer. Aliás, até costumo dizer que se me dessem um milhão de euros e dissessem que só poderia fazer uma coisa, eu deixava de fazer vídeos e ficava só a escrever livros”.
Com a escrita de uma nova temporada do programa 9 Coisas que não sabes... em produção e quase a ser terminada, Hélder afirma que, neste momento, está a apostar mais na televisão. No online o plano é “continuar a produzir e a crescer com o conteúdo”, mas “sem ter de fazer fretes para agradar a algoritmos e para alcançar números”. “Nunca gostei de ligar o número de gostos à minha auto-estima (...) É mesmo fazer o que gosto enquanto posso e quando deixar de gostar é deixar de fazer”, enfatiza.
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