A rápida evolução da computação quântica representa uma ameaça significativa à segurança criptográfica do sector financeiro. Num horizonte de 10 a 15 anos, computadores quânticos suficientemente avançados poderão quebrar os algoritmos usados atualmente, colocando em risco a confidencialidade de transações financeiras, processos de autenticação e contratos digitais. Embora o impacto direto ainda pareça distante, a transição para métodos de criptografia pós-quântica requer anos de preparação e uma abordagem colaborativa para evitar falhas de segurança críticas.

Para enfrentar este problema, o Quantum Safe Financial Forum (QSFF), criado dentro da Europol, sugere uma série de soluções, numa “call to action”. Em primeiro lugar, a transição para a criptografia pós-quântica deve ser colocada como uma prioridade estratégica pelas instituições financeiras, com apoio ativo dos legisladores. Este processo requer um esforço coordenado entre todas as partes interessadas - desde bancos e fornecedores de tecnologia até reguladores - para alinhar planos, roadmaps e objetivos comuns.

Mais cedo do que se pensa: Google promete aplicações quânticas para 2030
Mais cedo do que se pensa: Google promete aplicações quânticas para 2030
Ver artigo

Em vez de novas leis, o fórum recomenda a criação de um quadro regulatório voluntário entre reguladores e o sector privado. Este quadro deve estabelecer diretrizes claras para a adoção de métodos de criptografia quântica segura e promover a padronização em todo o sector financeiro. Além disso, a transição representa uma oportunidade única para reforçar as práticas de gestão criptográfica, criando estruturas mais robustas e orientadas para o futuro.

A nível global, é essencial fomentar a cooperação entre o sector público e privado, promovendo parcerias em projetos, experiências e outras iniciativas conjuntas que possam acelerar a implementação de soluções pós-quânticas.

Um dos riscos mais preocupantes identificados pelo QSFF é o dos ataques “Store Now, Decrypt Later” (SNDL), em que dados encriptados são recolhidos hoje por agentes maliciosos com a intenção de os decifrar no futuro utilizando computadores quânticos. Este tipo de ataque pode comprometer informações financeiras sensíveis, como estratégias de investimento e contratos confidenciais, caso não sejam adotadas medidas preventivas a tempo.

INL vai participar no consórcio EuroQCS-Spain para computador quântico alojado em Barcelona
INL vai participar no consórcio EuroQCS-Spain para computador quântico alojado em Barcelona
Ver artigo

Estas preocupações foram debatidas no evento organizado pela Europol, no dia 7 de fevereiro, onde o QSFF reuniu especialistas do sector financeiro e tecnológico. Durante o encontro, ficou evidente que, apesar de já existirem esforços regulatórios em regiões como Europa, Estados Unidos e Singapura, grande parte das organizações financeiras continua despreparada para a era pós-quântica.

Um estudo recente indica que 86% das instituições financeiras ainda não se sentem preparadas, enquanto 84% reconhecem a necessidade de adotar soluções quânticas seguras nos próximos dois a cinco anos.

A mensagem deixada pelo QSFF é clara: o futuro da segurança financeira depende de ações imediatas e coordenadas. Apenas com um esforço conjunto será possível mitigar riscos, proteger informações críticas e garantir a confiança no sistema financeiro global.

O Quantum Safe Financial Forum é uma iniciativa criada em 2024 pelo Centro Europeu de Cibercrime (EC3) da Europol, em colaboração com o Grupo Consultivo do EC3 para Serviços Financeiros. Este fórum reúne especialistas de diversos bancos comerciais e centrais da União Europeia, Reino Unido e Estados Unidos, bem como outros prestadores de serviços financeiros e associações. Entre os participantes estão instituições como o Banco Santander, Barclays Bank, BBVA, BNP Paribas, CaixaBank, Mastercard, Moody's, Novo Banco e Rabobank.