A EQTC – European Quantum Technologies Conference está a decorrer em Lisboa entre 18 e 20 de novembro e mais de 600 pessoas participam na conferência que tem como mote “Construir o futuro quantum da Europa em conjunto”. E que futuro é esse? Na sessão de abertura, Gustav Kalbe, diretor de tecnologias emergentes e estratégicas da Direção geral de tecnologia, comunicações e conteúdos da Comissão Europeia, defendeu que esta á uma oportunidade para a Europa recuperar a liderança tecnológica.
A “declaração quantum” lançada no ano passado durante a presidência espanhola da UE, é um bom sinal para a vontade que já existe de apostar nas tecnologias quânticas, mas há muito mais desenvolvimentos a acontecer, para apoiar a formação de profissionais, novas demonstrações e projetos de startups, universidades e empresas, e um caminho para a industrialização.
2025 é o Ano Internacional da Ciência e Tecnologia Quântica e este é um tema que tem estado na agenda dos decisores políticos, que querem tornar a Europa um “vale do quantum”. A Quantum Technologies Flagship é reconhecida como uma das iniciativas de investigação mais ambiciosas da Europa. Foi lançada em 2018 e tem um orçamento de mil milhões de euros com uma agenda que se estende por 10 anos, definindo como meta atingir os objetivos da década digital de computação quântica até 2025.
Já este ano foi revelada a intenção de reforçar a EuroQCI (European Quantum Communication Infrastructure) com mais financiamento e no Horizonte Europa foram alocados 40 milhões de euros para impulsionar a investigação em tecnologias quânticas, dos quais 25 milhões serão investidos na criação de uma rede pan-europeia de gravímetros quânticos (sensores de gravidade). Outros 15 milhões de euros vão ser investidos em projetos transnacionais de investigação e desenvolvimento no domínio das tecnologias quânticas da próxima geração, com o objetivo de fomentar a cooperação.
Yasser Omar, Professor do instituto Superior Técnico, e Presidente do PQI – Portuguese Quantum Institute e chair da conferência, já tinha partilhado com o SAPO TEK que muitas das tecnologias estão ainda a dar os primeiros passos, sobretudo na computação quântica, mas que na criptográfica e nos sensores o caminho tem acelerado. Ainda assim, as empresas devem ir investigando e tentando perceber se têm casos de uso interessantes, com o apoio de investigadores especializados nesta área.
Computação, comunicação e sensorização quantum a acelerar na Europa
Gustav Kalbe defende que a tecnologia quantum é um “game changer” e que a evolução tem sido feita na Europa. “Somos a região com mais profissionais de quantum, não apenas porque somos muitos mas porque somos muito bons”, defende, adiantando que há mais de 5 mil pessoas com competências e recursos que estão distribuídas pela Europa e que é necessário “uma aproximação coordenada e estruturada”.
“Temos de ter melhor sincronização de estratégias e visão comum de futuro na comunidade para os próximos 5 a 10 anos”, reforça Gustav Kalbe, garantindo que os blocos base de construção deste futuro já existem.
A aposta na Quantum Technologies Flagship está a dar frutos e o executivo admite que até se conseguiram resultados mais rápido do que era esperado. “Em três anos conseguimos resultados que não esperávamos e já estamos a seguir para o próximo passo”, afirma, referindo-se às infraestruturas quânticas. Ainda assim há que ganhar maturidade, em especial na concretização dos problemas que podem ser resolvidos através da tecnologia quântica e os que podem ser tratados através dos “computadores tradicionais”.
Os centros de desenvolvimento que estão a ser criados na Europa ajudam a “transformar a curiosidade científica em aplicação prática”. Já não é preciso ser um físico quântico ou um engenheiro especializado para implementar os projetos porque “há especialistas que podem traduzir os problemas em termos quânticos”
Ao SAPO TEK explicou ainda que a fase da industrialização da tecnologia quântica é uma das preocupações. “Ainda há muitas componentes, como dos computadores quânticos, que têm de ser feitas manualmente e é preciso desenvolver processos industriais e promover a miniaturização dos componentes, em semicondutores como os que usamos nos computadores atuais”, detalha. Um projeto que ainda não tem meta de concretização à vista mas que precisa de financiamento para a investigação.
Lisboa no centro de duas demonstrações da tecnologia
Esta manhã estiveram em palco duas demonstrações de tecnologia quântica, nas comunicações e na utilização de um gravímetro quântico, que mostram o potencial da tecnologia e a forma como está já a ter impacto, com benefícios futuros.
António Marques do Centro de Arqueologia de Lisboa e da Câmara Municipal de Lisboa e Camille Janvier, da Exail, partilharam os resultados da primeira prospeção arqueológica do Mundo que usou um gravímetro quântico. O projeto apoioado pelo PQI, permitiu identificar a estrutura no subsolo de Lisboa, sem necessidade de escavação. O estudo decorreu entre a Rua Augusta e a Rua da Assunção, e António Marques sublinhou a importância de estudar o subsolo de Lisboa, que tem informação rica de mais de 3 mil anos de história que está a ser descoberta e onde “existe muito ruído [de camadas de urbanização]” que traz um desafio adicional aos projetos.
Foi usado um gravímetro quântico que permitiu a análise do terreno sem necessidade de inovador o subsolo, o que permite aos arqueólogos e urbanistas planearem e racionalizarem as intervenções. A tecnologia pode ser combinada com radares e conseguir assim densificar a informação, e Camille Janvier lembrou que está a ser usada em várias áreas da ciência. Recorde-se que a Europa quer construir uma rede de gravímetros quânticos que deverá fornecer medições de gravidade de alta precisão, importantes para vários sectores, como a observação da Terra e a engenharia civil.
Outra demonstração em palco envolveu a a Altice, QTI, e Telsy numa demonstração pioneira de comunicações quânticas (tecnologia QKD - Quantum key distribution) usando um cabo submarino. Foi possível fazer uma ligação em videoconferência, sem falhas, com uma distância de mais de 116 quilómetros, em três nós que envolvem cabo de fibra e cabos submarinos, ligando Sesimbra, Carcavelos e Lisboa. “É uma mudança de paradigma para atingir níveis sem paralelo de segurança e eficiência e melhorar a capacidade de rede”, explicou Ana Carla Sousa, responsável de Wholesale da Altice Portugal, que sublinhou a importância dos operadores continuarem a apostar na inovação.
Gerardo C. Angelo, da Meo, adiantou ao SAPO TEK que esta demonstração foi feita em ambiente real, o que é um passo relevante em relação aos testes em laboratório de Quantum key distribution e que é preciso continuar a investir nestas demonstrações que vão trazer grandes vantagens às empresas de vários sectores.
A demonstração decorreu sem falhas e isso levou mesmo Yasser Omar a brincar com o sucesso da experiência. "Há um ano atrás tentámos uma conferência de vídeo em direto com um nó do outro lado da rua e que falhou", justifica,
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