A pandemia de COVID-19 fez com que as aulas à distância se tornassem na nova realidade para milhares de alunos em Portugal. O Governo está a implementar medidas para colmatar a falta de acesso a meios tecnológicos das famílias mais carenciadas, no entanto, o empréstimo de equipamentos, como computadores e routers, está a levantar polémica em algumas escolas do país.

Uma investigação levada a cabo pelo Diário de Notícias apurou que, em muitos dos casos, as condições de empréstimo dos materiais, que têm de ser devolvidos no fim do terceiro período letivo, eram motivo para não proceder ao levantamento dos mesmos pelas famílias.

No caso do Agrupamento de Escolas Professor Lindley Cintra, em Lisboa, estimou-se que seriam necessários 140 conjuntos de equipamentos, com um computador e router, para fazer face às necessidades das famílias carenciadas ou com Necessidades Educativas Especiais. Porém, apenas 39 dos conjuntos foram levantados.

De acordo com João Martins, Diretor do agrupamento, todos os encarregados de educação em questão foram contactados e informados acerca das condições de empréstimo. Os 140 conjuntos fazem parte dos 3.580 equipamentos entregues pela Câmara Municipal de Lisboa às escolas do concelho.

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Ao Diário, o gabinete de Manuel Grilo, vereador dos Direitos Sociais e Educação, indicou que a entrega contempla a totalidade dos alunos de escalão A e B do 3º e 4º ano do 1º ciclo de escolaridade. O gabinete esclareceu ainda que os equipamentos que “são propriedade do agrupamento” terão de ser devolvidos quando o período letivo terminar para reequipar as escolas.

Segundo Manuel António Pereira, Presidente da Associação Nacional dos Diretores Escolares, cada agrupamento escolar organizou a entrega de materiais informáticos consoante a disponibilização por parte das Câmaras Municipais, mas também entidades públicas e associações. No caso dos computadores que não são atribuídos, a nível nacional, os equipamentos ficarão para as escolas, sendo redistribuídos no próximo ano letivo.

No Agrupamento de Escolas General Serpa Pinto, em Viseu, onde Manuel António Pereira é diretor, cerca de 300 estudantes não têm acesso a meios para seguirem as aulas online. Porém, apenas se conseguiram disponibilizar 125 computadores, 85 deles por parte da autarquia.

O Presidente da Associação Nacional dos Diretores Escolares explica que existem situações pontuais em que as famílias não levantaram os equipamentos, por receio de não os conseguirem entregar em bom estado. "Quando os pais perceberam que tinham de assinar uma declaração em que se comprometiam a devolver os computadores em bom estado no final do ano letivo, tiveram receio que os filhos os estragasse e acabaram por não os levantar", afirma o responsável.

Embora o Ministério da Educação tenha indicado ao Diário que não existem um levantamento de quantos materiais informáticos foram usados nas escolas, por serem disponibilizados maioritariamente pelas autarquias, Manuel António Pereira afirma que os dados estão todos registados numa plataforma da Direção-Geral de Estabelecimentos Escolares.