Nos próximos dias 9 e 10 de dezembro, o Laboratório de Automação e Robótica da Universidade do Minho, em Guimarães, volta a promover uma iniciativa única que une tecnologia, solidariedade e espírito natalício. Há quase duas décadas, esta equipa dedica-se a um projeto singular: a adaptação de brinquedos eletrónicos para crianças com paralisia cerebral, transformando simples objetos em ferramentas de inclusão e alegria.

A iniciativa, que começou em 2006, nasceu de um gesto simples, mas poderoso, como relembra o professor Fernando Ribeiro, um dos responsáveis pelo projeto. "Tudo começou com um pedido de pais próximos que precisavam de brinquedos adaptados para os seus filhos. Depois, outros amigos também precisavam, e assim a ideia cresceu. No primeiro ano, adaptámos uma série de brinquedos com a ajuda dos alunos do laboratório".

Desde então, o projeto continuou, contando com a dedicação de alunos e docentes voluntários. Até hoje, já foram adaptados cerca de 1.400 brinquedos, sempre com um objetivo claro: permitir que as crianças possam interagir com os brinquedos de forma autónoma, estimulando os seus sentidos e promovendo o desenvolvimento motor e cognitivo.

Tecnologia ao serviço da solidariedade

O processo de adaptação é um trabalho minucioso e criativo. “Nós só adaptamos brinquedos eletrónicos, com luz, som e movimento”, explica o professor Fernando. Cada brinquedo é desmontado e analisado e componentes, como interruptores robustos, são adicionados para permitir que as crianças os acionem com diferentes partes do corpo, como o pescoço, pés ou mãos.

"Não há dois brinquedos iguais, por isso cada caso é único", afirma o docente. O trabalho requer não apenas conhecimento técnico, mas também uma sensibilidade especial para compreender as necessidades das crianças. Componentes fornecidos pela botnroll.com e peças feitas em impressoras 3D no próprio laboratório complementam este esforço.

Mas o mais emocionante vem depois da adaptação. “A entrega dos brinquedos é um momento muito especial. Ver a reação das crianças e das suas famílias é algo que não tem preço”, partilha Fernando.

O professor recorda com carinho algumas das histórias que marcaram estes anos. “Nos primeiros anos, os brinquedos eram enviados por correio ou entregues numa caixa grande. Mas as crianças queriam conhecer os ‘pais natais’, e então começámos a entregar pessoalmente”.

Desde cartas de agradecimento a presentes feitos pelas próprias crianças, como almofadas pintadas à mão, cada gesto reforça o impacto positivo da iniciativa.

"Já tivemos casos de crianças que reagiram muito melhor às terapias depois de receberem os brinquedos. São momentos que ficam connosco para sempre", acrescenta. As entregas, realizadas em espaços cedidos pela Sociedade Martins de Sarmento, são agora um ponto alto da iniciativa.

Este ano serão adaptados 50 brinquedos, oferecidos pela Câmara Municipal de Guimarães. Apesar do número ser inferior aos 80 brinquedos dos anos anteriores, o impacto permanece inestimável. “Não fazemos isto para ganhar dinheiro, fazemos porque queremos ajudar”, sublinha Fernando. O trabalho, gratuito, é uma forma de devolver à comunidade e de inspirar os alunos a aplicarem os seus conhecimentos em prol de um bem maior.

E depois de uma primeira parte “tecnológica” de adaptação do brinquedo, em que se põem as mesas no meio do laboratório e se afastam os robots em que se trabalha o resto do ano para os cantos da sala, segue-se a parte “emocional”, da entrega.

“A entrega é um momento muito, muito especial. Para eles, mas se calhar acima de tudo para os nossos alunos. Por vezes até há um ou outro que evita entregar os brinquedos porque a emoção toma conta do momento”. O que é facto é que a experiência, no fim, faz com que saiam todos “transformados”: brinquedos e pessoas.