De acordo com a Associated Press (AP), em dezembro já tinha sido noticiado que a plataforma cívica Citizen Lab, baseada na Universidade de Toronto (Canadá), descobriu que o senador em causa, Krzysztof Brejza, bem como dois outros críticos do Governo polaco, foram espiados informaticamente com recurso ao software Pegasus, do NSO Group.
Donncha O'Cearbhaill, um especialista do Laboratório de Segurança da Amnistia Internacional, confirmou as descobertas do Citizen Lab, depois de receber cópias de segurança brutas do telefone de Brejza, vindas dos investigadores canadianos.
No ano passado, um consórcio mundial de meios de comunicação social descobriu vários casos nos quais o software do NSO Group foi utilizado, entre os quais jornalistas, políticos, diplomatas, advogados ou ativistas dos direitos humanos, um pouco por todo o mundo.
Os casos polacos são considerados particularmente graves por terem ocorrido num Estado-membro da União Europeia.
As revelações chocaram a Polónia, fomentando comparações com o escândalo Watergate, na década de 1970, nos Estados Unidos, e levaram a pedidos de investigação e responsabilização.
Apesar de nem o Citizen Lab nem a Amnistia Internacional terem determinado quem perpetrou os ataques, as vítimas culpam o partido no poder na Polónia, o Lei e Justiça (direita populista nacionalista-conservadora).
Os dirigentes do partido negaram ter conhecimento da espionagem e desvalorizaram os relatórios, recusando-se a abrir uma investigação.
O NSO Group não identifica os seus clientes, mas afirma que apenas vende o software Pegasus a governos para lutar contra o terrorismo e outros crimes graves.
O spyware permite aos seus utilizadores retirar toda a informação, desde mensagens instantâneas e contactos a fotografias, tornando ainda os microfones e câmaras ferramentas de espionagem em tempo real.
O primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, apelidou as descobertas do Citizen Lab e da AP de "notícias falsas", e sugeriu que serviços secretos estrangeiros possam estar por detrás da espionagem - uma ideia rejeitada pelos críticos, que dizem que nenhum outro Governo teria interesse nos três alvos.
O telemóvel do senador Krzysztof Brejza foi hackeado pelo Pegasus por 33 vezes em 2019, sobretudo quando o responsável estava à frente da campanha da oposição contra o Governo do Lei e Justiça, segundo o Citizen Lab.
Várias mensagens de texto retiradas do telemóvel de Brejza foram emitidas na televisão estatal durante o pico da campanha eleitoral, que foi ganha pelo partido no poder.
Krzysztof Brejza disse que as verdadeiras vítimas do ataque foram os eleitores polacos, que foram "enganados" pelo Lei e Justiça, vendo-se "retirados do direito a eleições justas".
As duas outras vítimas polacas confirmadas pelo Citizen Lab foram Roman Giertych, um advogado que representa políticos da oposição em vários casos sensíveis politicamente, e Ewa Wrzosek, uma procuradora de espírito independente.
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