As empresas tecnológicas dão sinais de que pretendem abraçar os problemas do planeta, procurando adotar medidas para a redução das emissões de carbono. E juntam-se às metas de 2030 para a total descarbonização, focando-se na adoção das energias verdes. Antes disso acontecer, as fabricantes estão a demonstrar aos seus clientes e utilizadores o seu compromisso através de produtos tecnológicos, uma forma de incentivar o público em geral a adotar comportamentos igualmente amigos do ambiente.
A Acer realizou recentemente mais um evento acer@next, revelando cerca de 27 novos produtos, entre computadores, projetores e diferentes periféricos para as suas diversas linhas. A linha de produtos verdes Vero foi uma das salientadas, por utilizar materiais de plástico reciclado PCR (post-consumer recycled), para além da sua embalagem reciclável. O Aspire Vero, por exemplo, é um portátil que a marca afirma como ecológico e reparável, com PCR em todo o chassis. Mas a gama expande-se pelos diversos portáteis, um monitor e acessórios como o rato, teclado, tapetes e bolsas para os computadores. A empresa refere que esta linha de produtos foi concebida para serem fáceis de desmontar e dessa forma facilitar a reparação ou eventualmente a sua atualização, prolongando o seu tempo de vida.
Um futuro mais verde não significa ser o mais lucrativo
O SAPO TEK teve a oportunidade de entrevistar Jerry Kao, Co-COO da Acer sobre esta visão ecológica da empresa e sobre o valor da fatura não só para a empresa, como para o público que está disponível a consumir este tipo de produtos amigos do ambiente. Começa por dizer que os produtos não são baratos, “mas também não são muito caros, embora as pessoas continuem a pensar que sim”. Jerry Kao refere que os materiais não são baratos porque também não são fáceis de obter, pois são feitos de produtos reciclados que são transformados numa resina durante a produção.
No entanto, salienta os anos que a empresa já tem acumulados de experiência a trabalhar com estes materiais, permitindo compreende-los. “Na altura era um desafio, porque os materiais eram caros, mas o nosso conhecimento acumulado permitiu expandi-los às tampas, chassis e até aos acessórios que são feitos de elementos recicláveis”. Ainda assim, este material ainda não se pode comparar aos convencionais, no que diz respeito à flexibilidade e capacidade de resistência. Mas diz serem materiais amigos do ambiente, à medida que cada vez mais pessoas os adotam e salientam a importância destes produtos, incentivando a Acer a avançar com uma maior produção.
Outro aspeto salientado, é que além dos materiais e otimizações serem eco-friendly, a Acer quer que estes se reflitam em termos de design nesses produtos. Desde a cor selecionada para os mesmos, uma espécie de afirmação para lembrar as pessoas que estão a usar um produto ecológico. “E quando estás a usar este tipo de produto, também estás a mostrar às restantes pessoas à volta o teu contributo para o planeta”.
Mas não é só nos materiais que as pessoas podem contribuir para a redução da pegada de carbono. Através das otimizações de hardware e da aplicação da Acer, vai sendo registado o progresso ambiental alcançado pelo comportamento do utilizador. Por outro lado, a embalagem de um portátil, que é 100% reciclado, pode ser utilizado como acessório de base, por exemplo.
Mas os utilizadores estão disponíveis para pagar a fatura de produtos mais caros? “Inicialmente eu também tinha esta mesma pergunta quando começámos a lançar estes produtos. Mas acho que devemos seguir aquilo em que acreditamos e em termos de sucesso de negócio pode não ser algo muito grande, mas na Acer achámos que o devíamos fazer. Mas baseado nos resultados atuais, diria que este segmento superou as nossas expetativas”.
Para a marca, há cada vez mais pessoas preocupadas com o assunto e se estas estiverem disponíveis a pagar pelo preço premium destes produtos e a procura aumentar, os valores podem descer um pouco. “Penso que agora estamos num ciclo positivo, mas posso dizer que o retorno de investimento não está bem”. Ainda assim, mantendo as suas convicções, destaca que no futuro vão ser introduzidos mais produtos baseados em materiais PCR.
Obviamente que a Acer tem de oferecer os produtos perante as necessidades dos seus clientes. E quando é necessário um computador robusto, à prova de quedas, como é o caso da linha Enduro, estes não podem utilizar materiais reciclados, porque não são suficientemente resistentes contra as quedas, por exemplo. “As pessoas compram o Enduro porque querem resistência e temos de lhes oferecer esses produtos”. Acrescenta ainda que apesar da construção destes computadores não poderem ser eco-friendly em si, as suas embalagens são feitas de materiais recicláveis. Ou que tem gestores de energia, para ainda assim pouparem recursos.
Além das questões ambientais, os utilizadores preocupam-se mais com a higiene dos produtos, muito pelo medo da transmissão da COVID-19. Por isso, a Acer também revelou novas soluções de produtos, como o Acer Enduro Urban N3 e o tablet Enduro Urban T3 que são protegidos por partículas ativas que anulam os micróbios contidos nos objetos banais, com uma taxa de eficácia de 99,9%, disse a empresa. Trata-se de uma direção que a Acer decidiu caminhar em maio do ano passado, respondendo ao medo das pessoas em emprestarem o seu computador aos seus colegas, pelo receio de serem infetadas. A Acer diz que está a usar diferentes materiais, como o metal ionizado nos chassis, teclados, ratos ou laptops. O responsável da Acer diz que tem mesmo várias certificações que provam funcionar.
ConceptD SpatialLabs funciona como uma “nova geração” da Nintendo 3DS
Um dos pontos altos da apresentação dos novos produtos foi o novo ConceptD SpatialLabs Edition, um portátil da linha profissional que eleva o conceito apresentado anteriormente a um novo patamar. Os profissionais vão poder trabalhar num ambiente tridimensional, permitindo transformar em tempo real as imagens 2D em 3D no ecrã, sem o uso de qualquer acessório ou óculos 3D.
O conceito lembrou rapidamente a extinta consola portátil da Nintendo, a 3DS, comparação que o SAPO TEK colocou aos responsáveis da Acer. E a resposta foi positiva, sim, semelhante à consola, mas com mais funcionalidades, numa óbvia evolução da tecnologia para mostrar imagens a 4K. É explicado que a câmara utiliza tecnologia de eye tracking para ajudar nos efeitos, seguindo individualmente o olho esquerdo e direito para que estes atribuam corretamente os pixéis, sem os misturar.
Salienta que há uns anos, quando o 3D estava na moda tecnológica, a perceção das imagens não era muito clara, além de não se usar muito a resolução 4K. A tecnologia da Acer mistura eye tracking, resolução 4K e claro, as suas lentes, tornando o 2D e 3D comutáveis mediante as necessidades dos utilizadores. Seja a ver um vídeo no YouTube ou a escrever no Word, as pessoas não precisam do 3D, por isso basta desligar. Mas no caso de estar a produzir um modelo que necessite de ver a 3D, pode fazê-lo em tempo real, antes de o enviar para uma impressora 3D.
A Acer utiliza tecnologia Unreal, semelhante ao que se vê nos videojogos, para gerar os efeitos 3D, permitindo mudar a iluminação e outros elementos em tempo real. E por cima da tecnologia está a inteligência artificial, capaz de reconhecer a face dos utilizadores, seguir os seus olhos. É referido que há muitas rotinas de IA a correr em fundo.
A aplicação SpatialLabs Go permite também converter em tempo real os vídeos, fotos ou mesmo um streaming do YouTube de 2D de forma simulada para 3D.
A empresa refere a maturação desta tecnologia como a altura certa para ajudar os muitos milhões de designers 3D, que não têm ferramentas a este nível. E a própria Acer revelou que o feedback tem sido muito bom, que os designers conseguem prever ao detalhe os seus trabalhos antes da fase de protótipo, sejam designers de automóveis, médicos, engenheiros, todos têm mostrado uma grande admiração pelo estado tecnológico deste ConceptD SpatialLabs Edition.
Questionado se o próximo passo serão as imagens holográficas, é referido que sim, ainda que a tecnologia não esteja pronta. Será necessário o hardware, as aplicações, e claro as expetativas, tudo alinhado no mesmo sentido para acontecer.
Como a Acer está a lidar com a crise dos semicondutores
Apresentar novos produtos significa também capacidade de lidar com a crise de semicondutores que assola a indústria atualmente. Jerry Kao afirma que a procura continua a superar a oferta, sobretudo ampliada pela pandemia de COVID-19. Refere que se trata de um problema que está a afetar diferentes indústrias e que ainda está para continuar.
O que a empresa está a fazer para mitigar os seus efeitos é apresentar determinados produtos para as épocas corretas. Por exemplo, os produtos de educação são revelados na primeira metade do ano e no segundo semestre, aquele em que estamos agora, é a fase dos produtos de consumo. No próximo ano será o mesmo, no primeiro semestre voltam aos produtos de educação.
Com uma visão mais ecológica para a indústria e uma preocupação com a pandemia, a Acer pretende continuar a traçar a sua estratégia no meio de uma crise global dos semicondutores. Mas garante que a inovação e a entrega de produtos de qualidade mantêm-se igualmente como uma grande prioridade.
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