A Google fez disparar a rolha do champanhe a comemorar um feito inédito no universo da computação quântica, ou seja, a chamada supremacia quântica, que é a execução de cálculos específicos com um computador quântico que seriam “impossíveis” de fazer com os chamados supercomputadores clássicos. Neste caso, o Sycamore, o computador quântico da Google, composto por 54 qubits (54 bits quânticos) conseguiu executar cálculos em 200 segundos, que o melhor supercomputador tradicional do mundo demoraria cerca de 10.000 anos a completar. E mesmo assim, o cálculo foi feito com 53 qubits, porque um se terá partido… O CEO da empresa, Sundar Pichai, refere no seu blog, que o marco se assemelha ao lançamento do primeiro foguetão ao espaço, outros comparam ao primeiro voo dos irmãos Wright.
O estudo a demonstrar os resultados foi publicado ontem na Nature, e no blog da Google, mas o documento já tinha sido vítima de leak há cerca de cinco semanas, e por isso a comunidade científica e entusiastas no geral aguardavam com expetativa o anúncio oficial. Foi por isso que a IBM, como bom “party pooper” e envolvida na corrida quântica antecipou-se à divulgação dos resultados colocando dúvidas sobre a tal supremacia alcançada.
Para a IBM, o resultado obtido pela Google consegue ser realizado num supercomputador clássico, equipado com hardware estado de arte, em dois dias e meio, e com maior fiabilidade. E como tal, visto que está a ser utilizada a expressão “supremacia quântica” proposta por John Preskill em 2012 para descrever o ponto em que os computadores quânticos conseguem fazer coisas que os clássicos não conseguem, então esse marco ainda não foi alcançado.
A empresa refere mesmo que o uso da palavra “supremacia” nem deveria ser utilizada, visto que ambos terão de trabalhar em conjunto, cada qual com as suas vantagens, para obter os resultados pretendidos, destaca a empresa numa longa explicação técnica. Ainda assim, acrescenta que o experimento da Google é uma excelente demonstração do progresso feito na computação quântica, numa máquina de 53 qubits.
Segundo um físico da Universidade of Maryland, Christopher Monroe, cofundador da startup IonQ, dedicada à computação quântica, citado pelo The Guardian, o documento da Google pode ser um marco, mas é apenas algo académico. Acrescenta ainda que o feito não é uma questão de ser útil para qualquer coisa, exceto mostrar algo que é difícil de realizar em computadores normais.
O que demonstrou o Sycamore?
É explicado que a forma de trabalhar dos computadores convencionais e os quânticos é radicalmente diferente. Os computadores clássicos fazem cálculos utilizando bits, com valores de 0 ou 1; já a computação quântica utiliza qubits, pegando em qualquer valor compreendido entre 0 e 1, todos eles “entrelaçados” (ou sobrepostos) de forma a que o valor de um está atado aos valores à sua volta. Ou como explica Sundar Pichai, tendo dois quantum bits, há sempre quatro estados possíveis que podem ser sobrepostos, com crescimento exponencial.
Na prática, um computador estável poderá teoricamente explorar múltiplas soluções em simultâneo para o mesmo problema. E quando for possível colocar estes computadores ao serviço da humanidade vai ajudar a resolver problemas reais do mundo, desde a criação de novas drogas, produzir baterias mais eficientes ou mesmo a procura de soluções para doenças incuráveis até agora.
A Google afirma que tem dois objetivos em mente no futuro. O primeiro é disponibilizar os processadores aos investigadores académicos e empresas interessadas em desenvolver algoritmos e procurar aplicações práticas para os mesmos. E segundo, continuar a investigar para criar um computador quântico à prova de erros o mais rápido possível.
De qualquer forma, o sentimento geral da comunidade científica e de todos os envolvidos, incluindo a Google, é que até que se coloque um computador quântico a realizar algo “palpável”, e que realmente não possa ser feito com uma máquina tradicional ao serviço da humanidade, a tal “supremacia quântica” fica-se pelo conceito académico.
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