O surto norte-americano de mais de mil casos de doença pulmonar associados ao uso de dispositivos eletrónicos fornecedores de nicotina está a preocupar entidades governamentais e organizações de saúde à volta do mundo.
Introduzidos no mercado como uma alternativa ao consumo de tabaco tradicional, especialmente em casos de cessação tabágica, os cigarros eletrónicos (e-cigarettes) e vaporizadores estão agora a ser considerados como um risco ainda maior para a saúde pública.
Fora destes dispositivos existe no mercado outra alternativa que se quer afirmar face aos cigarros comuns. O tabaco eletronicamente aquecido, também conhecido como IQOS, foi desenvolvido pela Phillip Morris Internacional (PMI) e chegou a Portugal em 2015, contando já com mais de 200 mil utilizadores, segundo dados da Tabaqueira, fonte oficial da PMI em Portugal.
Os IQOS surgiram com a mudança de foco da empresa em 2016. O “futuro sem fumo” de cigarros tradicionais previsto pela empresa no plano UnSmoke your World passa pela substituição dos cigarros tradicionais por tabaco não combustível.
Por trás da decisão está a ideia de que a tecnologia poderá ser usada na indústria tabaqueira para reduzir o risco de doenças relacionadas com o consumo de tabaco, afirma Tommaso Di Giovanni, diretor de comunicações da Philip Morris International (PMI), no evento TECNOVATION onde o SAPO TEK esteve presente.
Baseando-se numa estimativa da Organização Mundial de Saúde para 2025, feita por cientistas, a empresa indica que continuará a haver cerca de mil milhões de fumadores no mundo por essa data. De acordo com a PMI a aposta é apresentar aos adultos que ainda fumam, ou que querem deixar de fazê-lo, uma alternativa que possa vir a ser possivelmente menos prejudicial a longo prazo.
As investigações levadas a cabo pelo departamento científico da empresa indicam que o IQOS produz um aerossol que, em média, contém níveis 95 por cento mais baixos de substâncias químicas nocivas do que as presentes no fumo dos cigarros.
A PMI indica também que mais de 30 estudos e relatórios independentes estão em consonância com as conclusões encontradas. Entre eles encontram-se investigações da FDA (a Agência para a Segurança Alimentar e do Medicamento dos EUA) dos Institutos de Saúde Pública do Reino Unido, Holanda e Japão, assim como do Instituto Federal de Avaliação de Riscos da Alemanha.
No entanto, a empresa recorda que o IQOS não é um produto inócuo: nele continuam ainda a existir, se bem que em menor número, compostos químicos nocivos e nicotina, uma substância comprovada pela ciência como viciante.
De acordo com a PMI, “a melhor decisão que qualquer fumador pode tomar é abandonar completamente o consumo de produtos com tabaco e/ou nicotina”. A empresa indica que a alternativa aos cigarros tradicionais tem como público alvo os adultos que quererem continuar a fumar, tendo sido postas em prática pela empresa medidas de regulação da sua comercialização.
“O IQOS é uma tecnologia completamente diferente da dos cigarros eletrónicos”, afirma Moira Gilchrist, vice-president of scientific and public communications da PMI, ao SAPO TEK. Perante o surto de doenças respiratórias associadas ao uso de dispositivos eletrónicos fornecedores de nicotina a empresa quer demarcar-se dos recentes acontecimentos nos Estados Unidos. Gilchrist indica que é necessário “deixar que os factos surjam das investigações da FDA e do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças”, os quais apontam para produtos ilegais e não-regulados.
Para já, no atual debate sobre os efeitos dos cigarros eletrónicos o IQOS ainda não foi referido ou associado pelos reguladores de saúde dos Estados Unidos ou de outros países ao surto de doenças pulmonares. Embora o processo de entrada da tecnologia nos Estados Unidos tenha sido aprovado pela FDA é provável que não esteja livre do escrutínio do público e de entidades da área da saúde.
Em Portugal, por exemplo, a abordagem levada a cabo pela PMI em relação ao IQOS não reúne o consenso. As sociedades científicas e organizações de saúde portuguesas são claras quanto à sua posição em relação ao tabaco aquecido. Recorde-se que, em março deste ano, doze entidades nacionais manifestaram a sua preocupação em comunicado à imprensa.
E-cigarettes: um surto repentino com mais de mil casos nos EUA
Nos Estados Unidos o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças indica que, até 1 de outubro deste ano, foram reportados mais de mil casos de doença pulmonar associados ao uso de cigarros eletrónicos e vaporizadores. As ocorrências são oriundas de 48 estados e um território norte-americano.
Aos números reportados até à data somam-se ainda 18 mortes em 15 estados. A primeira vítima mortal foi encontrada a 23 de agosto em Illinois. Segundo o departamento de saúde da região, o indivíduo, que utilizava vaporizadores, tinha dado entrada no hospital devido a uma grave doença respiratória.
O surto de doenças respiratórias rapidamente se alastrou pelo território norte-americano, embora haja incerteza acerca da sua verdadeira natureza na comunidade científica. Os pacientes analisados apresentam sintomas comuns entre si: desde problemas respiratórios (tosse, falta de ar e dores no peito) a gastrointestinais (náuseas e vómitos), passando ainda por febre, perda de peso e fadiga.
Um estudo publicado em outubro no New England Journal of Medicine observou seis pacientes que utilizavam vaporizadores com líquidos que continham nicotina e TCH, a substância psicotrópica derivada da canábis. Os especialistas verificaram que todos os indivíduos apresentavam elevados níveis de um tipo característico de glóbulos brancos nos pulmões.
Os macrófagos encontrados pelos cientistas “alimentavam-se” de partículas oleosas que continham acetato de vitamina E. A substância foi encontrada em cartuchos e líquidos ilegais com canábis para vaporizadores, tal como noticiou a CNBC. Segundo o CDC a maioria dos pacientes analisados demonstra um historial de uso de produtos semelhantes, incluindo de oito das vítimas mortais.
Perante o risco dos produtos para a segurança pública o governo americano anunciou que quer banir a comercialização de cigarros eletrónicos e vaporizadores com sabores, Os estados de Michigan e Nova Iorque já baniram dispositivos desse género e Illinois e Massachusetts começaram também a tomar medidas contra o uso dos dispositivos, avançou a CNBC.
À volta do mundo são já vários os países que baniram ou restringiram o uso de dispositivos eletrónicos fornecedores de nicotina. De acordo com a Reuters, a Índia e a Coreia do Sul foram as mais recentes nações a proibir este tipo de equipamento, devido ao receio de que a situação vivida nos Estados Unidos se alastrasse.
Em Portugal, até à data, ainda não se registaram casos semelhantes aos norte-americanos. No entanto, após o conhecimento do surto de doença pulmonar aguda relacionada com o uso de cigarros eletrónicos, a Sociedade Portuguesa de Pneumologia deu também a conhecer as suas recomendações. No comunicado anunciado em setembro a SPS indicou que considera perigoso o uso destes dispositivos, não recomendando o seu uso.
Nota da redação: O SAPO TEK viajou a convite da Tabaqueira (Philip Morris).
Pergunta do Dia
Em destaque
-
Multimédia
20 anos de Halo 2 trazem mapas clássicos e a mítica Demo E3 de volta -
App do dia
Proteja a galáxia dos invasores com o Space shooter: Galaxy attack -
Site do dia
Google Earth reforça ferramenta Timelapse com imagens que remontam à Segunda Guerra Mundial -
How to TEK
Pesquisa no Google Fotos vai ficar mais fácil. É só usar linguagem “normal”
Comentários