A ambição de regressar à Lua numa missão tripulada continua bem viva, sendo que a NASA prevê lá chegar em 2024. Mas não é a única: a SpaceX de Elon Musk, a Blue Origin de Jeff Bezos e a Boeing estão a preparar os seus veículos para voltar ao satélite natural da Terra. A Agência Espacial Europeia (ESA) está a desenvolver uma forma de transformar pó lunar em oxigénio, algo que poderá ser essencial ao sucesso de missões que planeiam uma estadia mais “prolongada” na Lua.

Em 2019, os cientistas do Laboratório de Materiais e Componentes Elétricos do Centro Europeu de Pesquisa e Tecnologia Espacial (ESTEC na sigla em inglês) apresentaram a sua teoria num artigo publicado na revista científica Planetary and Space Science. Os investigadores puseram “mãos à obra” e, após várias tentativas, conseguiram criar um equipamento que é capaz de extrair oxigénio do rególito lunar. O fator-chave que levou à criação da "fábrica de oxigénio" foi a utilização de um processo de eletrólise de sal fundido, um método desenvolvido pela Metalysis, uma empresa britânica, para a produção comercial de metais e ligas metálicas.

Rególito lunar simulado antes e depois do processo de eletrólise de sal fundido.
Rególito lunar simulado antes e depois do processo de eletrólise de sal fundido. Créditos: ESA

De acordo com os cientistas, o pó que existe na superfície da Lua é composto por 40 a 45% de oxigénio. No entanto, este não está disponível para uso imediato, uma vez que se encontra sob a forma de óxidos presentes nos elementos que constituem a poeira. Para extraí-lo, os investigadores aquecem o rególito a 950° Celsius com um sal de cloreto de cálcio fundido, aplicando-lhe de seguida uma corrente elétrica, provocando assim a migração do oxigénio para um ânodo. O processo dá origem também a um conjunto de ligas metálicas.

Rególito lunar simulado durante o processo de extração de oxigénio.
Rególito lunar simulado durante o processo de extração de oxigénio. Créditos: ESA

O objetivo da equipa de cientistas é desenvolver um equipamento que que seja capaz de operar de forma sustentável, ajudando as missões tripuladas à Lua, indica Tommaso Ghidini, Diretor do departamento de Estruturas, Mecanismos e Materiais da ESA, em comunicado. “Estamos a alterar a nossa abordagem tendo em vista o uso sistemático de recursos lunares in situ”, indicou o responsável acrescentando que o trabalho que está a ser desenvolvido poderá um dia permitir a presença humana em Marte.