Numa altura em que os governos e as escolas adotam medidas de proibição dos smartphones nas escolas, salientando as consequências negativas da sua utilização por longos períodos, o tema não parece ser consensual. Ou pelo menos, não existem muitas provas conclusivas de que passar muito tempo frente ao ecrã seja de facto prejudicial para os mais novos.

Como aponta uma reportagem da BBC sobre o tema, é salientado como os ex-líderes da Apple e Microsoft, Steve Jobs e Bill Gates, respetivamente, afastavam as suas próprias crianças das tecnologias que desenvolviam. 

O certo é que a sociedade tem assumido o tempo de ecrã como um sinónimo de algo errado, seja pelo desvio do convívio com outras pessoas, o vício de utilização e outros eventuais problemas de saúde associados, tais como comportamentais ou depravação de dormir. E há neurocientistas a afirmar o impacto que a internet e os computadores têm no cérebro dos adolescentes. Como reporta a BBC, a neurocientista Susan Adele Greenfield, conhecida como Baronesa Greenfield, comparou em 2013 que os efeitos frente ao ecrã eram semelhantes aos primeiros dias das mudanças climáticas, uma mudança que muitas pessoas não estavam a levar a sério. 

Greenfield foi agora apontada por um jornal de medicina britânico de fazer as acusações sem ter uma base científica ou provas concretas, e com isso, estará a induzir os pais e o público em geral em erro. Outro grupo de cientistas no Reino Unido apontam a falta de provas concretas científicas que possam solidificar as teorias de que a exposição aos ecrãs é prejudicial. 

Um desses teóricos é Pete Etchells, um professor de psicologia na Bath Spa University, que aponta a falta de evidências científicas. Isto depois de ter analisado centenas de estudos sobre o tempo dos ecrãs e saúde mental, juntamente com dados sobre jovens e os seus hábitos do uso de ecrã. O professor escreveu no seu livro Unlocked: The Real Science of Screen Time que não existem provas concretas científicas que comprovem as  “terríveis consequências” do tempo ao ecrã. 

A reportagem continua com mais investigações e autores universitários em todo o mundo que entre 2015 e 2019 analisaram 33 estudos publicados sobre o uso dos smartphones, redes sociais e videojogos, concluindo que estes têm “um papel pequeno nas preocupações da saúde mental”. Há também estudos que sugerem as emissões das luzes azuis dos ecrãs como sendo prejudiciais ao sono. E, mais uma vez, foram revistos 11 estudos, em 2024, que também descartaram essa teoria, não encontrando provas que a luz do ecrã na hora antes de ir dormir dificultava o sono. 

Mas então qual é o problema com os estudos? Segundo o professor Pete Etchells, o problema reside no facto dos dados sobre o tema serem baseados em autorelatos, ou seja, os investigadores fazem perguntas aos jovens sobre quanto tempo acham que passaram frente aos ecrãs e a lembrança de como se sentiram. Perante esses dados, o investigador diz que existem “milhões de formas possíveis de interpretá-los” e que é preciso cuidado nas correlações. 

Muitas vezes associam-se problemas de depressão e ansiedade nos jovens, por estarem agarrados aos seus smartphones, mas o investigador diz que essa situação se pode dever ao tempo que passam sozinhos. Ou seja, era a solidão que estava a criar o problema de saúde mental e não o tempo frente ao ecrã. 

Por fim, parecem excluídos dos estudos aquilo que os jovens estão a fazer em frente ao ecrã. Será este tempo útil e positivo para o utilizador, como por exemplo, estar a sentir-se sozinho e estar a interagir online com amigos? Ou a ver conteúdos depressivos? Nesse sentido, não estão postos de lado certos usos negativos dos equipamentos online, como assédio, bullying ou acesso a conteúdos nocivos. Mas isso tem de ser analisado e não ter a ideia generalizada de que o tempo de ecrã é prejudicial e devem-se impor limites ou bani-los, correndo o risco de os tornar no próximo “fruto proíbido”.